Por que jornalistas devem criar uma marca própria

por James Breiner
Oct 30, 2018 em Diversos

A editora Jill Abramson do New York Times disse que metade das pessoas que vieram ao site do jornal antes eleição presidencial estavam à procura de Nate Silver, o gênio de previsão política que escreve o blog FiveThirtyEight.

"Ele atraiu muitos e muitos leitores", disse ela em uma conferência coberta pelo MediaBistro. "Eles não estavam vindo para [ler] o resto do jornal, vieram para ele."

Em outras palavras, Nate Silver desenvolveu uma marca pessoal que é maior do que o New York Times, no campo da previsão política.

Escolas de jornalismo, como escolas de cinema

A frase de Abramson apareceu na minha caixa de entrada no mesmo dia em que Joshua Benton do Nieman Lab analisou um novo estudo sobre a indústria de jornal por Clay Shirky, Emily Bell e C.W. Anderson.

O relatório -- Post Industrial Journalism: Adapting to the Present (em tradução livre, Jornalismo Pós-Industrial: Adaptando-se ao Presente) -- vê uma nova realidade para graduados de jornalismo em que o primeiro passo em suas carreiras não será amarrar sua reputação a uma instituição de comunicação social estabelecida, como no passado, mas criar a sua própria reputação. Isto tem implicações para as faculdades de jornalismo, segundo o relatório:

As escolas de jornalismo já são mais como escolas de cinema do que escolas de direito, isto é, o relativo sucesso ou o fracasso de um graduado vai ser muito mais variável do que costumava ser. Há menos emprego para nível iniciante -- postos de trabalho que costumavam servir como campo de teste e aprendizagem não oficiais -- em jornais metropolitanos e TV local do que havia. Como os graduados das escolas de cinema, eles vão ter que sair para o mundo e criar um nome para si. É um ambiente muito menos previsível e os planos de carreira são menos claros.

Outro repórter do Times, Brian Stelter, que cobre mídia, construiu sua própria reputação com blogs sobre notícias de TV enquanto ainda era estudante na Towson University. Com base nisso, o Times o contratou há alguns anos atrás. Muitas vezes me perguntava se ele poderia voltar e trabalhar por conta própria, tirando proveito de seus 155 mil seguidores no Twitter e, novamente, criar a sua própria marca em notícias de mídia. Ele já está trabalhando em um livro.

Para onde vamos, graduados de jornalismo?

Alguns professores de jornalismo em universidades nos Estados Unidos lamentam o fato de que eles não têm uma boa resposta para os pais e alunos que querem saber onde encontrarão empregos depois da formatura. Isso é parte da razão pela qual algumas escolas de jornalismo estão vendo quedas nas matrículas.

Aqui na China, os graduados das melhores faculdades de jornalismo ainda podem contar em encontrar empregos nos veículos de comunicação estatais importantes. Mas para aqueles que não querem trabalhar nestas organizações -- Agência de Notícias Xinhua, Diário do Povo, jornal China Daily, CCTV -- o caminho é menos certo.

Quanto ao futuro de Nate Silver no Times, Abramson foi citada no MediaBistro dizendo que ela espera poder grudar nele. Eles vão se falar em breve, disse ela. Quando ele terminar a turnê de seu livro.

Este artigo foi publicado originalmente no blog News Entrepreneurs e traduzido ao português para a IJNet com permissão.

James Breiner é co-diretor do Global Business Journalism Program na Universidade Tsinghua e ex-bolsista do programa Knight International Journalism Fellow, tendo lançado e dirigido o Centro de Periodismo Digital na Universidade de Guadalajara. Ele é bilíngue em espanhol e inglês e consultor em jornalismo online e liderança. Siga-o no Twitter.