Desde dezembro de 2017, jornalistas do site de notícias digitais Rutas del Conflicto e seus colegas da seção Colombia 2020 do jornal El Espectador juntaram sua experiência e conhecimento para criar "La Paz en el Terreno". O projeto visa produzir reportagens e ferramentas digitais que permitam avaliar melhor os resultados do acordo de paz com base em dois fatores-chave: a violência contra os líderes comunitários e a reintegração de ex-guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) à vida civil.
Para alcançar o primeiro objetivo, nossa equipe construiu um banco de dados sobre todos os líderes comunitários e defensores dos direitos humanos assassinados entre 26 de setembro de 2016 (o dia em que o acordo de paz foi assinado em Havana) e o final de 2017. Documentamos esses casos com fontes oficiais, acadêmicas e jornalísticas, a fim de criar um banco de dados dos assassinatos.
Para o segundo objetivo, a equipe do La Paz en el Terreno investigou a situação das 25 áreas que concentraram ex-guerrilheiros das FARC para desmobilizar e voltar a integrar a vida civil. O objetivo era produzir relatórios e construir bancos de dados e visualizações que captassem quantos ex-membros das FARC começaram a se reintegrar na sociedade colombiana. Por exemplo, o projeto inclui dados sobre quantos ex-membros das FARC se cadastraram nos serviços de saúde, registraram-se para obter carteiras de identidade do governo e se inscreveram para a aposentadoria. Muitos ex-rebeldes vêm de populações camponesas e comunidades tradicionalmente excluídas com baixos níveis de escolaridade.
La Paz en el Terreno será publicada online no dia 19 de abril em um momento de tensão devido às eleições parlamentares e presidenciais da Colômbia, em que o acordo final assinado com as FARC se tornou uma das maiores causas de polarização do país, dividida entre aqueles que defendem e aqueles que se opõem. Neste momento crucial, é importante fornecer dados completos e totalmente verificados aos cidadãos sobre o processo de paz do país. Nossa investigação será publicada no lapazenelterreno.com e compartilhada amplamente nas redes sociais. Estamos procurando novas alianças para gerar conteúdo em outros formatos (podcast e impresso) que alcancem as populações mais afetadas pelo conflito.
Para reunir todas essas informações, nossa equipe superou muitos desafios relacionados à maneira como os jornalistas podem usar os dados para reportar sobre as sociedades pós-conflito. Aqui estão algumas das nossas dicas:
De valores estimados para casos documentados
Na Colômbia, não existe uma lista unificada de crimes contra líderes comunitários e defensores dos direitos humanos: o escritório do Departamento de Proteção aos Direitos dos Cidadãos rastreia esses crimes; o mesmo acontece com o Procurador Geral, bem como com a Comissão Presidencial dos Direitos Humanos. Várias ONGs também mantêm seus próprios dados. Por essa razão, os jornalistas do La Paz en el Terreno compararam todos esses bancos de dados para produzir um registro mestre de casos. Eles verificaram suas descobertas com documentos e entrevistas com autoridades e parentes das vítimas.
Além de estabelecer números únicos, nosso objetivo era reunir dados importantes para cada caso, incluindo: um perfil do líder assassinado, sua comunidade, seu trabalho, seu estado de origem e o estado da investigação de cada crime. Precisávamos limpar e organizar esses dados porque cada fonte tinha alguns erros. Havia vários nomes escritos errados, assim como erros descrevendo o trabalho comunitário ou de direitos humanos das vítimas.
O banco de dados do La Paz en el Terreno atualmente tem 90 homicídios documentados, mas continuaremos a expandi-lo com informações novas ou ausentes. Esperamos que os dados sejam úteis não apenas para nossos leitores, mas também para colegas jornalistas e instituições oficiais, acadêmicas e humanitárias. A equipe e eu acreditamos que é importante que as informações verificadas sobre esses casos sejam facilmente acessadas em um único lugar, em vez de dispersas em várias plataformas separadas.
Padrões sistêmicos versus casos sem conexões
A análise dos dados de La Paz en el Terreno também pode nos ajudar a determinar se existem ou não padrões sistêmicos nos assassinatos de líderes comunitários. Nossa equipe de jornalistas prestou muita atenção aos conflitos ativos nas regiões da Colômbia, onde muitos líderes comunitários foram assassinados. A análise desses dados nos ajudou a encontrar padrões locais e regionais nos homicídios. Na maioria dos casos, os líderes assassinados denunciaram publicamente as economias ilícitas, principalmente o comércio de drogas, ou a existência continuada de grupos criminosos em suas comunidades. Esses líderes tendiam a apoiar o acordo de paz e queriam acesso aos direitos que o acordo lhes havia prometido.
Criando vários formatos de narrativa para aumentar a visibilidade do nosso projeto
Uma das coisas que faz com que La Paz en el Terreno seja diferente de outras coberturas das FARC é que o projeto não é apenas sobre reportar notícias diárias. Nossas reportagens são muito mais analíticas e detalhadas. Incluímos informações pesquisadas de várias fontes, incluindo pesquisadores independentes; organizações internacionais como as Nações Unidas e a Anistia Internacional; organizações sem fins lucrativos colombianas e várias associações de direitos humanos. Pegamos essa informação e a apresentamos usando uma variedade de formatos narrativos, como visualizações de dados, podcasts, matérias em texto, programas de rádio e postagens em mídias sociais, para ajudar o projeto a alcançar públicos maiores. Foi especialmente importante produzir conteúdo de áudio porque as pessoas mais afetadas por nossas matérias recebem notícias de estações de rádio locais.
Fabiola Torres López ajuda jornalistas da América Central, México e Colômbia a adotar as mais recentes habilidades de jornalismo digital investigativo para melhorar sua cobertura sobre questões de corrupção, transparência e governança. Saiba mais sobre seu trabalho como bolsista Knight do ICFJ aqui.
Imagens cortesia do La Paz en el Terreno