Os nigerianos seguem sentindo diretamente os efeitos da intensificação da crise climática na África. Somente no último mês, o país passou pelo pior alagamento desde 2012, que deixou mais de 600 mortos, 1,4 milhão de desabrigados e mais de 45.000 imóveis danificados. Vastas áreas cultiváveis também foram destruídas, intensificando o medo de insegurança alimentar.
Governos locais e sociedade civil das áreas inundadas pediram ao governo federal para declarar emergência nacional; de acordo com o Ministério de Assuntos Humanitários, os alagamentos atingiram 33 dos 36 estados da Nigéria. Apesar do amplo consenso entre cientistas dos impactos devastadores da mudança climática, os esforços para lidar com essas consequências ainda são rudimentares e sem coordenação efetiva na Nigéria. Há também uma carência de reportagens aprofundadas sobre a crise climática e como ela tem afetado diferentes comunidades.
A atividade humana, incluindo a emissão de gases de efeito estufa por veículos, a queima de produtos de hidrocarbonetos, emissões das indústrias e desmatamento, tem grande contribuição para a crise climática. A falta de informação disponível sobre o assunto permanece um desafio, já que muitas pessoas na Nigéria não acreditam que essas emissões de carbono criadas pelo ser humano são responsáveis pela crise em curso.
Determinado a disponibilizar mais informações sobre a crise climática, o site Ripples Nigeria criou a primeira plataforma de geojornalismo para dar destaque às histórias de quem é diretamente afetado pela mudança climática.
Primeiro veículo de geojornalismo da Nigéria
Depois de receber um subsídio do Desafio de Inovação do Google News Initiative, o Ripples Nigeria fundou o Eco-Nai+ em 2021. O site foi criado para abrigar dados ambientais sobre secas, precipitações e erosão, ao mesmo tempo em que monitora cuidadosamente desastres naturais para ajudar a rastrear a progressão da mudança climática.
De acordo com o coordenador do Eco-Nai+, Chinedu Chidi, o objetivo era construir uma platforma para facilitar o jornalismo inclusivo e orientado por pessoas na luta contra a mudança climática.
"Nós queríamos criar uma plataforma com a adesão das pessoas para que dados gerados pelos usuários pudessem ser obtidos para uma intervenção efetiva do geojornalismo", diz Chidi. "Desde o lançamento [do Eco-Nai+], estamos preenchendo a lacuna de informação sobre questões relacionadas ao clima e ao meio ambiente na Nigéria."
Como funciona
O Eco-Nai+ se baseia em três principais fontes de dados: dados gerados pelos usuários, fontes oficiais e dados científicos. Os dados gerados pelos usuários permitem que aqueles que são mais impactados pelas mudanças ambientais, como agricultores e outros trabalhadores rurais, contem suas próprias histórias.
A plataforma conta com dados do Google Earth, agências de meteorologia e fontes abertas, além de dados coletados por pesquisadores e jornalistas. Ela também usa descobertas de cientistas sobre níveis de carbono, níveis de gelo no Ártico, dados sobre oceanos e aquecimento e topografia.
O Eco-Nai+ funciona por meio de um conjunto de cinco ferramentas. Dentre elas estão a Uvreign, que viabiliza os dados gerados por usuários; Geo-Viz+, de visualização de dados; e Ecober, que cria uma sala de bate-papo multimídia para a geração de ideias por meio de terceirização em massa e projetos de financiamento coletivo.
"Nós mantemos uma cobertura diária de matérias relacionadas ao clima e ao meio ambiente e criamos parcerias estratégicas com partes interessadas cruciais", diz Chidi. "A plataforma permite que os usuários insiram dados que são processados e podem ser visualizados e exportados."
Desafios
A expansão e limitações técnicas são os dois principais desafios enfrentados pelo Eco-Nai+ no fornecimento de cobertura diária sobre a crise climática.
"Há ainda resistência à tecnologia nas áreas rurais e relutância por pagar por nova tecnologia", diz Chidi. "As limitações técnicas incluem o custo de aquisição de drones e de equipamentos de GPS necessários para trabalho de campo avançado."
Planos futuros
O Eco-Nai+ pretende se tornar a plataforma de mídia africana líder em inovação no impulsionamento de esforços no combate à mudança climática e proteção do meio ambiente, ao mesmo tempo em que conecta comunidades remotas por meio de colaboração ativa, explica o diretor-executivo Samuel Ibemere.
"Estamos analisando a criação de um ecossistema abrangente de geojornalismo para a África que terá um hub de geojornalismo focado na África no qual jornalistas poderão acessar ferramentas, cursos e materiais", diz.
No futuro próximo, a plataforma também planeja lançar um aplicativo que os leitores possam baixar para acessar mais facilmente informações e ferramentas do site. Para Chidi, esse aplicativo vai empoderar jornalistas na África para serem geojornalistas na prática e contribuírem coletivamente para reportagens mais precisas e responsáveis sobre o meio ambiente.
"A crise climática exige um senso de urgência e ação significativa constante não só por parte de alguns, mas por todos nós. É por isso que o Eco-Nai+ está mobilizando um exército de partes interessadas para essa grande causa", diz Chadi. "De moradores de comunidades rurais a pesquisadores e jornalistas espalhados pelo continente, estamos ajudando a unir esses grupos diversos pelo único propósito de salvar o planeta."
Foto por Ovinuchi Ejiohuo via Unsplash.