Perfis do jornalismo móvel: Levando #mojo à redação

por Clothilde Goujard
Oct 30, 2018 em Jornalismo móvel

Os telefones celulares provaram ser ferramentas úteis para repórteres, mas alguns executivos de mídia têm dificuldade em ver todas as oportunidades que eles oferecem. A maioria das salas de redação limita seu uso e compreensão de reportagem móvel para cobertura de notícias de última hora e conteúdo de testemunhas. Alguns jornalistas e organizações de mídia usam o celular para mostrar os bastidores do jornalismo e outras imagens exclusivas. Mas é apenas secundário aos seus projetos jornalísticos.

Enquanto muitas salas de reportagens ainda estão atrasadas em ver o potencial do celular, usar o jornalismo móvel em uma reportagem tradicional de TV ou imprensa é complicado.

"Nós ainda estamos passando por um processo de evolução que acho que, em última análise, vai mudar a forma como as notícias são feitas e distribuídas -- mas é um processo lento", observa Glen Mulcahy, fundador da conferência Mojocon de jornalismo móvel e chefe de inovação da RTE, uma emissora irlandesa.

O instrutor de jornalismo móvel está familiarizado com esse tipo de "reação instintiva" das emissoras quando novas tecnologias ficam disponíveis para os jornalistas.

"As grandes instituições de difusão tendem a ser muito cuidadosas sobre a infraestrutura das emissoras", diz ele. "Quando algo perturbador chega, as pessoas tendem a tentar reprimir o mais rápido possível, em vez de dar um passo para trás e ver o potencial."

A BBC é um exemplo. Dougal Shaw, um jornalista de vídeo da BBC, descobriu que seus editores estavam um pouco surpresos e céticos sobre ele usar a tecnologia. Agora, a BBC está investindo em seus jornalistas e oferecendo muitos cursos para fazê-los usar seus celulares.

Vários jornalistas produzem reportagens produzidas com um celular sem dizer aos seus editores. Björn Staschen, diretor do NextNewsLab na emissora alemã NDR, filmou uma reportagem após o voto da Brexit com seu celular na Escócia e não disse aos editores na Alemanha. "Eu apenas fiz isso e depois enviei para eles, e eles não perceberam", diz Shaw.

Na Suíça, no entanto, uma redação tem abraçado claramente o jornalismo móvel. Léman Bleu agora produz 80 por cento dos seus vídeos com iPhones depois de produzir um programa de notícias inteiro com iPhones no verão de 2015.

De acordo com Laurent Keller, editor-chefe da Léman Bleu, a organização iniciou o experimento para cortar equipamentos pesados, mas eventualmente encontrou vantagens inesperadas, como maior interatividade, proximidade e reatividade no caso de notícias de última hora. Essa estratégia permitiu que os repórteres fizessem um jornalismo local mais pessoal, sensível e próximo da realidade, disse Keller.

Hindustan Times, por sua vez, deu um salto igualmente inovador, adotando um fluxo de trabalho de redação de "mojo-first" [prioridade ao jornalismo móvel]. Yusuf Omar foi contratado para liderar a ambiciosa iniciativa.

"Eu tive a maior liberdade possível", diz ele. "Eu trabalhei com Nic Dawes, que me contratou. Todo o seu modelo era para pelo menos os primeiros dois meses, depois ele nos deixou correr solto. Fazer o que quiser. Criar formatos."

Omar diz que agora está orgulhoso de não ter jornalistas em sua equipe.

"Eu acredito que se você construir uma cultura de jornalismo móvel corretamente, vai integrá-la em absolutamente todos na empresa, do guarda de segurança ao seu editor-chefe com as habilidades básicas para fazer reportagem de jornalismo móvel", diz ele.

O artigo de opinião de Nicolas Becquet sobre a falta de um bom jornalismo móvel, escrito após os ataques de Paris de novembro de 2015, foi revelador. O jornalista da mídia belga L'Echo ficou desapontado com a cobertura da mídia francófona sobre os ataques.

"Quando eu estava acompanhando os eventos ao vivo, graças a vários fluxos do Periscope, fiquei chocado por não ver nenhum jornalista", diz ele.

Ele acha que muitas organizações de mídia estão lutando para integrar os celulares nos fluxos de trabalho de suas salas de redação.

"Há um grande contraste entre a facilidade do uso de um smartphone e a complexidade para integrar seu método em uma organização de mídia", diz ele.

A implementação do jornalismo móvel nas organizações de mídia, especialmente as mais tradicionais, está se revelando um desafio. No entanto, como a tecnologia está se aperfeiçoando e se tornando mais confiável, a indústria está começando a perceber seu impacto potencial.

Imagem principal cortesia de Dougal Shaw [à direita]. Imagem secundária de Leonor Suárez cortesia de Sir Cam. Terceira imagem cortesia de Yusuf Omar [na foto].