Perfis do jornalismo móvel: Definindo uma nova linguagem narrativa

por Clothilde Goujard
Oct 30, 2018 em Jornalismo móvel

Em todo o mundo, os jornalistas móveis estão produzindo matérias fascinantes com pouco mais do que um smartphone na mão. Esta série de cinco partes examinará como definimos o jornalismo móvel, como as salas de redação tradicionais estão se adaptando, as contribuições dos cidadãos, como o móvel está melhorando o jornalismo e a interrupção no jornalismo móvel.

Um telefone celular. Isso é tudo que você precisa para ser um jornalista móvel, conhecido em inglês como “mojo” (de "mobile journalism"). 

Se eles atraem a atenção há vários anos, começar não foi particularmente fácil. À medida que as câmeras dos telefones celulares e os gravadores de áudio ficaram melhores, a internet viu um aumento gradual no número de vídeos amadores carregados em plataformas como o YouTube. Mas em algumas salas de redação, alguns jornalistas experientes em tecnologia viram a oportunidade de usar seus celulares como uma ferramenta de reportagem.

"Essa tecnologia me pegou no início, quando percebi que era possível transmitir vídeos ao vivo com um telefone celular", disse Stephen Quinn, um experiente treinador de jornalismo móvel.

John D. McHugh, fotojornalista que fundou uma startup que reúne e verifica conteúdo de testemunhas oculares, lembra quando soldados britânicos registraram imagens de combate "extremamente perturbadoras" no Afeganistão com seus celulares Nokia e entregou-as a vários meios de comunicação quando voltaram para casa, criando um grande escândalo no Reino Unido.

"Isso é realmente quando eu vi como o mojo iria mudar o jornalismo", disse ele. "Foi a visão mais surpreendente de uma guerra que o público britânico simplesmente não tinha visto até aquele ponto."

O celular poderia ser usado para capturar um momento a qualquer hora e em qualquer lugar mesmo durante eventos lotados, como descobriu Björn Staschen, treinador de jornalismo móvel e chefe do NextNewsLab na emissora alemã NDR.

Cada 1° de maio, um protesto da esquerda acontece em Hamburgo, na Alemanha. A cada cinco anos, o protesto se torna violento, atraindo a atenção da mídia. O resto do tempo, não dá manchetes nacionais. Staschen não achou que seria necessário obter uma equipe de câmera, especialmente porque era mais caro no fim de semana. Em vez disso, ele pegou seu celular, pensando que poderia fornecer algumas imagens de vídeo para a equipe online. Após o evento, a qualidade de suas filmagens o surpreendeu, disse ele.

O advento do iPhone permitiu uma melhor qualidade de imagem e som, aumentando as possibilidades de utilização do celular como ferramentas jornalísticas profissionais.

Neal Augenstein, jornalista de rádio da WTOP, uma estação de rádio em Washington, começou a experimentar com seu iPhone em 2010. Ele achou que estava gastando muito tempo usando um gravador tradicional e laptop. Quando descobriu um aplicativo de gravação de áudio multitrack, viu que poderia fazer tudo em um único dispositivo.

"Desde 2010, eu faço todos as minhas reportagens de campo apenas com o meu iPhone e iPad", disse ele.

Seis anos depois, Augenstein está longe de ser o único a utilizar o seu celular como sua principal ferramenta de reportagem na rua. Há tanto interesse no jornalismo móvel que Glen Mulcahy, apelidado de "rei do mojo" por seus colegas, começou a Mojocon, uma conferência anual em Dublin, na Irlanda. O evento apresenta as melhores práticas e experiências no jornalismo móvel, criação de conteúdo móvel, fotografia móvel e novas tecnologias como filmagens de drone. Uma mistura de praticantes e novatos, principalmente da Europa, se reúnem para aprender e compartilhar suas experiências.

Apesar de Mulcahy contar que foi difícil conseguir palestrantes com reportagens interessantes no primeiro ano, a conferência está evoluindo progressivamente. O desenvolvimento da Mojocon reflete a prática em evolução do jornalismo móvel. Embora tivessem começado como uma ferramenta muito técnica que tentava emular a câmera tradicional, os mojos tentaram criar uma nova linguagem narrativa.

"Houve uma sensação muito forte na segunda conferência de que [o jornalismo móvel] tinha amadurecido um pouco", disse Mulcahy.

No grupo do Facebook criado após a Mojocon, os jornalistas às vezes debatem sobre como definir o jornalismo móvel. É quando uma matéria é filmada em um dispositivo móvel? Tem que ter sido editada em um celular também? E se quem fez a matéria não é um jornalista?

Quinn escreveu um livro com Ivo Burum, outro treinador de mojo, para tentar padronizar e esclarecer o significado do jornalismo móvel.

"Uma das coisas que fizemos desde cedo foi definir mojo: mojo é editar em telefones celulares, bem como filmar", disse Quinn. "É também colocar legendas, manchetes e créditos. Mojo real, mojo verdadeiro é fazer tudo com um telefone móvel."

No entanto, muitos jornalistas continuam a depender de equipamentos não-móveis no seu trabalho diário. Por exemplo, alguns ainda editam em seus computadores. O jornalismo móvel também é visto como um estilo mais amplo de jornalismo.

"Tem muito pouco a ver com telefones celulares", escreveu Nick Garnett, um jornalista da BBC. "Significa que o repórter é móvel, não o equipamento. Jornalismo móvel envolve as pessoas percebendo que elas e o equipamento que carregam são como uma faca suíça, com muitos acessórios. Você escolhe o que precisa."

Mojos ao redor do mundo veem seus dispositivos móveis como poderosas ferramentas para produzir jornalismo de qualidade. Embora não haja um consenso real sobre a definição de jornalismo móvel, uma comunidade crescente de mojos está experimentando com diferentes aplicativos, testando limites e vendo como suas audiências se envolvem com esta nova forma de jornalismo.

Imagem principal do Mojocon 2016 e imagem secondária de Glen Mulcahy cortesia de Sir Cam