As mudanças acontecem na indústria da mídia tão rapidamente que é difícil prever as tendências para 2014. E, quando 2064 chegar, "nós não nos reconheceremos", disse o analista de mídia Ken Doctor.
Doctor é autor do livro "Newsonomics: Twelve New Trends That Will Shape the News You Get" (sem tradução) e cobre a indústria de notícias em constante mudança no seu site e no Nieman Journalism Lab.
Ele também está trabalhando para a empresa de pesquisa Outsell e atuando como consultor e palestrante em conferências de imprensa. Antes disso, trabalhou para o grupo americano Knight Ridder (agora parte da McClatchy Company) por 21 anos em diferentes posições, incluindo editor-executivo do jornal St. Paul Pioneer Press e vice-presidente da Knight Ridder Digital.
Depois de assistir a sua última palestra sobre o que devemos esperar da mídia em 2014, decidi pedir a ele para explicar as mudanças na indústria da mídia que todo mundo da área já começou a ver -- em suas telas e em seus relatórios de rendimento.
Em um evento da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias, o senhor descreveu as principais tendências que os editores podem esperar para 2014. Se formos a uma escala maior e tentarmos sonhar com o que a indústria da notícia pode parecer em 2064, pode imaginar as diferenças fundamentais do que vemos agora?
Olhando para trás --aqueles de nós que ainda estamos aqui-- nós não nos reconhecemos. A revolução biotecnológica, fundindo humano e tecnologia, não vai mudar apenas as notícias e informações que recebemos, mas a natureza básica do ser humano, seu potencial e risco. Agora, os nossos dispositivos de informação são todos externos e nosso aprendizado interno; nós vamos ver uma fusão dos dois em formas além da nossa imaginação atual.
Os textos na Internet tendem a se ser mais curtos, enquanto todos na mídia começamos a fazer vídeos. Isso significa que os hábitos das pessoas mudaram para ler menos e assistir mais? As leituras longas são necessárias para os sites de notícias?
Sim e não. Não devemos tomar a revolução inicial da Internet como o fim de tudo. Desktops --com os minutos gastos agora estagnados-- provaram ser dispositivos provisórias. Não oferecem conforto para leitura de formato longo. Agora, porém, com os tablets proliferando --35 por cento de penetração nos Estados Unidos e 40 por cento nos países nórdicos--, o formato longo está vendo um renascimento. Estamos aprendendo que o conforto no dispositivo, em parte, determina como e o que lemos.
Como não perdemos técnicas de reportagem ao ser extremamente obcecados com a nova tecnologia no jornalismo?
Os princípios básicos --a precisão, verificação dos fatos, contar a história de maneira eficaz-- não mudam, embora a tecnologia muitas vezes podem ser confundida como um fim, e não apenas o meio de fazer as coisas de forma diferente e melhor. Bons jornalistas compreendem a distinção e a necessidade de passá-la para a próxima geração.
O jornalismo é um negócio de relações ou de venda de conteúdo?
Cada vez mais, é sobre relações. Tecnologia --a tecnologia digital-- torna essas relações possível. Estamos passando de usuários (um termo odioso) de volta para leitores e assinantes (o que implica uma relação de pagamento) e agora, recentemente, para membros ou associados. Associação oferece muitas mais contato, servindo melhor as necessidades de leitura e comerciais.
Nós vimos jornais perderem seus classificados para o Craigslist nos Estados Unidos. Que outras áreas tradicionais de operação podem ser perdidas pelos jornais, se não agirmos rápido?
A maior preocupação é os anúncios de varejo locais. Grande parte do negócio de classificados está desaparecendo, e a publicidade nacional está se movendo rapidamente para o digital. A capacidade de satisfazer os comerciantes locais, especialmente em marketing móvel, é a chave.
Quais novos serviços e outras oportunidades de monetização provaram ser o maior sucesso entre na mídia americana nos últimos anos?
Sem dúvida, paywalls geraram mais receitas novas, crescendo 5 por cento no ano passado e este ano. Mais promissor: os "serviços digitais" em que as empresas de notícias ajudam os comerciantes locais desde com produtos de SEO e SEM a cupons e construção de site.
A compra do Washington Post por Jeff Bezos foi um sinal de que a indústria da mídia pode ser salva pela nova geração de empreendedores de alta tecnologia? O que mais isso significa?
"Salvar " é uma palavra muito forte. A entrada de Bezos e [ Warren ] Buffett no negócio é um sinal potencialmente bom, um sinal de paciência e investimento no negócio a longo prazo. Em Boston, Tampa e no Orange County, também estamos vendo pessoas de fora [do jornalismo] investindo; em parte, a Velha Guarda ficou sem ideias e paciência, em parte, esses novos proprietários trazem dinheiro, uma perspectiva nova e fora do negócio do jornalismo e [mais] "chão", como Bezos colocou .
O senhor declarou recentemente que em breve veremos um Paywall 2.0 --uma série de novos produtos, com um preço individual e voltado para o público de nicho. Pode citar um exemplo ativo de tal modelo ou se ainda está sendo desenvolvido?
Claro, o Printer's Row do Chicago Tribune é uma seção paga sobre livros, site digital e oferta de eventos que está revivendo a velha ideia de ter uma seção de livros semanalmente, mas paga separadamente da assinatura All-Access do jornal.
O senhor pode descrever as soluções integradas de marketing sobre as quais falou no recente evento da WAN -IFRA?
O marketing integrado é a vasta área além da venda de espaço, online ou impresso. Ele inclui o marketing de conteúdo, publicidade nativa, eventos como negócio e serviços digitais oferecidos aos comerciantes locais. Começa a agir sobre a forma como os editores podem usar uma caixa de ferramentas de apoio a serviços de comércio, além da ideia de "compre este espaço, e boa sorte."
Qual é a sua opinião sobre o desenvolvimento de conteúdo de marca? Pode prejudicar a reputação de uma organização de mídia?
Certamente, o conteúdo patrocinado ou conteúdo de marketing mal divulgado publicidade nativa pode prejudicar a credibilidade. Dar aos anunciantes uma nova voz e ajuda-los a criar e sustentar essa voz é bom, mas tem que ser separado do trabalho da redação. Fazer o contrário é violar a confiança dos leitores, e isso é prejudicial para o negócio, bem como viola as normas éticas estabelecidas e bem pensadas.
O senhor continua a ler jornais em papel e livros de papel?
Leio meu jornal local, o Santa Cruz Sentinel, impresso para ter um bom e rápido resumo sobre as [notícias] locais. O New York Times de domingo em versão impressa dura toda a semana, e o_ Times, Wall Street Journal e todos os outros veículos de comunicação eu leio digitalmente durante a semana.
Esta entrevista foi publicada originalmente no site do Denver Post e é reproduzida na IJNet com permissão.
Vsevolod Pulya, editor-executivo do Russia Beyond the Headlines, visitou The Post como parte do Russia-U.S. Young Media Professionals Exchange Program. O programa de intercâmbio é gerido pelo Centro Internacional para Jornalistas, organização que publica a IJNet.
Imagem usada sob licença CC no Flickr via s2photo.