Antes próspera, mídia independente do Senegal está sob ataque

Jul 15, 2024 em Liberdade de imprensa
Senegal flag on a boat

A mídia independente do Senegal consiste em pelo menos 45 jornais diários, mais de 20 emissoras de rádio de interesse geral e comunitárias e cerca de 20 canais de TV. Nesses veículos trabalham jornalistas de sucesso.

Mas, infelizmente, a mídia independente do país está sob ataque nos últimos anos.

"A liberdade de imprensa já deteriorou muito, pois vimos várias vezes jornalistas de diferentes veículos do Senegal serem presos por motivos injustos e veículos sendo fechados por mostrarem certas imagens", diz o jornalista Azil Momar Lô.

Organizações de imprensa esperam que o novo presidente, Bassirou Diomaye Faye, eleito no início deste ano, ajude a reduzir estes ataques conforme prometido durante sua campanha.

Ataques contra a imprensa

No fim de fevereiro, uma pessoa não identificada atacou a jornalista da 7TV Maimouna Ndour Faye próximo à casa dela com várias facadas. No início do mês, policiais senegaleses atacaram e prenderam pelo menos 25 jornalistas que cobriam protestos por conta do atraso nas eleições do país. O governo também cortou a internet na época, obstruindo ainda mais os esforços de reportagem dos jornalistas.

Em 2021, autoridades suspenderam as licenças de dois canais de TV, a SenTV e Walf TV, por causa da cobertura que fizeram de protestos, sendo que a Walf TV voltou a ter a licença suspensa várias outras vezes nos anos seguintes.

"Os jornalistas sentem como se tivessem uma espada sob suas cabeças e estão com medo que ela vá atingi-los a qualquer momento se forem contra as ditas leis estabelecidas pelas autoridades", diz Momar Lô. "Alguns dos jornalistas brutalmente espancados pelos policiais não venceram o caso na Justiça. Eles nunca tiveram justiça com o nosso sistema."

O governo persegue jornalistas e redações que não estão alinhadas aos seus objetivos, acusando-os de trabalhar para a oposição, acrescenta Momar Lô. Jamais um jornalista que trabalha em um veículo alinhado ao governo vai preso.

"Quando os jornalistas dizem coisas que o governo não gosta, simplesmente aparece alguém um dia dizendo que você ofendeu o presidente e alguns dos legisladores do país, e então você é preso", diz.

O que o governo deveria fazer

censo penitenciário 2023 do Comitê de Proteção aos Jornalistas colocou o Senegal entre os cinco países que mais prendem jornalistas na África.

O governo deveria garantir que os ataques contra jornalistas sejam criminalizados; também deveria adotar urgentemente o acordo firmado entre empresas de mídia e o Sindicato de Profissionais de Informação e Comunicação do Senegal (SYNPICS na sigla em inglês), afirma Soulé Dia, jornalista da Agence France-Presse (AFP). 

"O acordo introduzido em 2019 é uma convenção coletiva que define relações trabalhistas entre empregadores e empregados de empresas de imprensa, principalmente em relação a escalas de pagamento, seguro social e de saúde, o que ainda tem dificuldade de ser respeitado", diz.

O governo também deveria garantir que o código penal não seja usado para reprimir jornalistas por causa de opiniões emitidas, diz Muheeb Saeed, gerente de liberdade de expressão na Media Foundation for West Africa.

"Delitos de imprensa estão sujeitos ao código penal, por isso jornalistas cujo conteúdo aparentemente não está ajudando as autoridades se veem perseguidos. Até mesmo sob o código de imprensa as pessoas são punidas com prisões e multas", diz. "Primeiro, o governo precisa descriminalizar os delitos de imprensa e também garantir que o código penal não seja usado para processar jornalistas por causa de sua opinião editorial."

Muheeb ainda nota que uma mídia independente no Senegal vai atrair mais investidores estrangeiros e reassegurar a eles que o ambiente de investimento é estável. "Uma mídia livre e independente pode garantir a consolidação democrática do Senegal. Um Senegal democrático seria um Senegal civil, que seria atrativo a investimentos estrangeiros e também asseguraria aos investidores locais um ambiente estável e pacífico."

Como os veículos podem operar em meio a estes ataques

Uma forma pela qual a mídia pode operar sob as atuais condições repressivas no Senegal é por meio da colaboração e da adaptação.

Organizações da sociedade civil, particularmente aquelas que trabalham com questões de liberdade de imprensa, também podem fazer pressão no novo governo, diz Saeed. "Principalmente tendo em vista que o presidente e o primeiro-ministro, junto com outros importantes apoiadores, viraram alvo de ataques por causa de opiniões emitidas na mídia."

Momar Lô sugere que os veículos continuem tirando proveito tático da internet e das redes sociais para fazer suas reportagens chegarem até a audiência.

"Estas são plataformas em que você pode informar de forma direta, mesmo sem mostrar imagens. Você pode fazer uma reportagem instantaneamente por mensagens de texto ou áudio sobre o que está acontecendo e as pessoas podem acompanhar atualizações regulares que você der", diz. "Por exemplo, se hoje fosse um dia com manifestações, amanhã daria para organizar o que chamam de 'edição ao vivo' no Instagram ou no X, e organizar uma sessão para falar sobre o que aconteceu, o que deu errado."


Foto por Papa birame Faye via Pexels.