O TikTok contra o tempo — e como a festa pode acabar para estudantes de jornalismo

Jan 20, 2025 em Redes sociais
TikTok adjusted graphic

O TikTok é mais do que um simples aplicativo para os usuários publicarem seus vídeos e assistirem conteúdos engraçados. Para muitos adultos jovens, ele se tornou uma plataforma para educação, defesa de direitos e acesso a notícias.

De fato, cerca de 40% dos adultos com menos de 30 anos dizem que se informam regularmente pelo TikTok.

Para estudantes de jornalismo, o popular aplicativo funciona como uma plataforma importante tanto para publicar suas matérias quanto para acompanhar tendências que podem beneficiar seu trabalho.

Com o futuro do TikTok em aberto nos EUA — o aplicativo enfrenta uma potencial proibição devido a uma lei bipartidária que exige que a ByteDance, empresa dona do TikTok, venda-o para uma empresa que não seja da China até 19 de janeiro — estudantes de jornalismo e seus colegas da geração Z estão lidando com as potenciais consequências.

 

TikTok is likely getting banned.

Here’s what will happen if you have the app on your phone.

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— Dave Jorgenson (@davejorgenson.bsky.social) January 10, 2025 at 3:33 PM


Dave Jorgenson, chefe da equipe de TikTok do Washington Post, explora os potenciais resultados de uma proibição do aplicativo

Como estudantes de jornalismo usam o TikTok

Estudantes de jornalismo tiram proveito, particularmente, do humor e de memes para engajar seus seguidores no TikTok, uma abordagem que muitos consideram funcionar mais efetivamente no aplicativo do que em plataformas tradicionais. 

Para Caysea Stone, estudante do último ano na Universidade da Flórida Central, o TikTok tem se mostrado útil tanto para divulgar suas matérias quanto para acompanhar o que acontece em sua região. "Eu acho que ele é um ótimo recurso e ferramenta para qualquer pessoa poder compartilhar suas experiências", diz. "Da perspectiva de uma jornalista, ele me ajuda a saber o que é tendência do ponto de vista local em Orlando e sobre o que as pessoas estão falando."

Stone tem mais de 700 seguidores no TikTok e seu vídeo mais assistido é uma matéria sobre como o Conselho Municipal de Orlando aprovou novas regras para um clube noturno da cidade. Ela teme que, caso o TikTok seja banido do país, outras plataformas não preencham suficientemente o vácuo deixado pelo aplicativo. "Eu posso publicar esses vídeos como reels do Instagram, e eu faço isso só pela coesão do meu conteúdo, mas não sei ao certo como o algoritmo funciona", diz. "Eu observei que tenho muito mais tração no TikTok."

Os amigos da estudante notaram essa tração. "Eles falam 'olha, você apareceu na minha página 'Para você!'", diz. "Mas, infelizmente, eu não acho que nos reels do Instagram eu faço conexões dessa mesma forma."

Como outros usuários de TikTok são afetados

A proibição do aplicativo pode comprometer o modo como jovens se engajam como o mundo ao seu redor. "Para a geração Z, o TikTok não é apenas entretenimento; é uma ferramenta de busca, um construtor de comunidade e onde as pessoas têm verdadeira liberdade para se expressarem", diz Louise Millar, diretora de estratégias da Seed, agência internacional de marketing focada na população jovem. "Sem ele, os jovens nos EUA podem se sentir sozinhos por causa do isolamento e perder o contexto do que está acontecendo." 

O TikTok também funciona como um espaço para que comunidades que se apoiam mutuamente se reúnam em torno de questões importantes, por exemplo identidade e expressão de gênero — uma característica que pode ser difícil de replicar em outras plataformas.

Durante o auge da COVID-19 em 2020, Bobby Escobar, estudante da Universidade da Flórida Central, recorreu ao TikTok para defender causas sociais. As publicações que ele fez sobre questões LGBTQ+ e vídeos sobre sua vida pessoal atraíram mais de 16.000 seguidores.

Para usuários do TikTok como Escobar, o aplicativo é mais do que uma rede social; é uma porta de entrada para uma comunidade mais ampla e solidária. "Quando eu era adolescente, o TikTok era um lugar onde eu podia ver que não estava sozinho enquanto uma pessoa LGBTQ+", diz. "Há inclusive páginas que destacam pautas LGBTQ+, como direitos de pessoas trans e outras questões políticas que são importantes para a comunidade."

Ele acredita que a proibição do aplicativo infringiria a liberdade de expressão, a capacidade de se expressar e até mesmo a fonte de renda de algumas pessoas. "Pequenos negócios dependem do TikTok para divulgação e vendas, principalmente por meio do TikTok Shop; banir o aplicativo tiraria das pessoas sua voz e oportunidades", diz. 

O aplicativo se tornou um espaço para Escobar interagir com outras pessoas e compartilhar conteúdo. "Outros aplicativos tentaram copiar o estilo do TikTok, como o Instagram com o reels e o Snapchat com seus próprios recursos, mas eu nunca encontrei o mesmo tipo de conteúdo porque o algoritmo do TikTok é muito personalizado."

Estudantes, jornalistas e privacidade de dados

No centro dos esforços dos legisladores dos EUA para banir o TikTok estão preocupações com a privacidade de dados no aplicativo de propriedade chinesa.

De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center, entre os respondentes com idade entre 18 e 29 anos, mais da metade está ao menos um pouco preocupada com a forma como seus dados são usados pelo TikTok.

Craig Agranoff, especialista em tecnologia e professor-adjunto da Universidade Atlântica da Flórida, compartilhou suas visões na CBS12 News, West Palm Beach, Flórida, no fim do ano passado, quando discussões sobre uma potencial proibição do TikTok estavam ganhando mais atenção. As preocupações dele vão além do tempo gasto na plataforma e se estendem à exposição de informação privada.

"É muito perigoso, tendo em vista a grande quantidade de dados que uma pessoa comum está dando para o aplicativo", disse Agranoff. "Você pode achar que são só suas fotos ou sua idade, mas você também está compartilhando sua localização, as pessoas com quem você compartilha conteúdo e, mais importante, o que te influencia."

Em dezembro de 2022, o TikTok admitiu que usava o aplicativo para monitorar os movimentos físicos de jornalistas, dados que por sua vez foram acessados por trabalhadores da ByteDance. A empresa demitiu quatro funcionários que acessaram a informação; o chefe-executivo dos mesmos, Rubo Liang, se desculpou em um email para a Forbes. "A confiança do público, a qual fizemos grandes esforços para construir, vai ser significativamente abalada pela má conduta de uns poucos indivíduos", escreveu. "Eu acredito que essa situação vai servir como uma lição para todos nós." 

Naquele mesmo mês, o diretor do FBI, Christopher Wray, fez um alerta sobre preocupações com a segurança nacional em torno do TikTok, e no início de 2023 os EUA proibiram o aplicativo em todos os dispositivos móveis do governo.

O que vem pela frente

"Mesmo se o TikTok sumir dos usuários nos EUA, não vai acontecer o mesmo com as tendências", diz Escobar. "As pessoas vão encontrar outras opções." 

Em declarações recentes, o TikTok negou rumores de que Elon Musk pode vir a comprar o aplicativo. "Não se pode esperar que façamos um comentário sobre pura ficção", disse o porta-voz Michael Hughes.

Paralelamente, uma alternativa em potencial, o RedNote, conhecido como Xiaohongshu na China, de propriedade da empresa Xingyin Information Technology, com sede em Xangai, subiu posições na lista de aplicativos mais baixados às vésperas da proibição. E apesar da perda do TikTok, alguns usuários dizem que vão evitar usar aplicativos da Meta, incluindo o Instagram e Facebook.

"No fim das contas, é só um aplicativo, e está claro que ele se tornou muito importante", diz Escobar. "Eu espero que ele permaneça, mas caso contrário, não é o fim do mundo."


Foto por visuals via Unsplash.