Videográficos podem dar vida a uma reportagem carregada de dados abstratos, assim fazem projetos como o Folhacóptero, uma série de gráficos de animação produzidos pela Folha de S. Paulo.
O artista gráfico Simon Ducroquet cria infográficos para a Folha desde 2008, quando o jornal começou a mergulhar mais profundamente na cobertura interativa. Nos últimos cinco anos, Ducroquet viu infográficos evoluir do estático ao interativo a vídeos de desenhos animados.
Ducroquet falou com a IJNet sobre projetos inovadores do jornal, o tipo de trabalho envolvido numa animação e como as maneiras de contar notícias estão mudando.
IJNet: O que fez você começar a usar suas habilidades de animação numa redação?
Simon Ducroquet: Eu já estava fazendo infográficos com software 3D e comecei a perceber que não era muito difícil transformar alguns desenhos 3D em animações.
... Havia muito bons gráficos animados sendo feitos pelo New York Times, e eu estava interessado em fazer algo que poderia ir na mesma direção. [A Folha de S. Paulo ] também estava investindo em mais conteúdo de vídeo para a Web e estávamos contratando pessoas para esse fim... Então, havia todos esses fatores que se tornaram um bom começo para fazer animação. Meus editores estavam apoiando isso, então eu comecei a experimentar fazer pequenas animações.
IJNet: Qual é o papel da animação em uma matéria de notícia?
SD: No ano passado, começamos a fazer animações para os Jogos Olímpicos... sobre Usain Bolt mostrando como ele corre e por que é mais rápido do que outros, e nós fizemos disso uma matéria animada, porque poderíamos mostrar os movimentos e isso é o tipo de história que funciona.
[É importante] descobrir que histórias funcionam melhor como animações, porque é um grande investimento que você tem que fazer. Você tem que colocar duas a quatro pessoas trabalhando por uma semana, por isso tem que ser algo que vai funcionar bem.
[Quando começamos a fazer animações], era mais para complementar reportagens mais longas, mas pouco a pouco começamos a contar toda a notícia através da animação.
100 anos em 100 metros from Simon Ducroquet on Vimeo.
IJNet: Você pode me dizer sobre o trabalho que teve com o Folhacóptero?
SD: Essa também foi uma história que começou no ano passado. Naquela época aconteceram as eleições para presidente no Brasil, por isso estávamos à procura de um novo produto para essa cobertura. Tínhamos esse trabalho com a animação, que foi se tornando mais maduro. Vínhamos trabalhando com mapas, mas, às vezes, esse trabalho torna-se técnico ou complexo demais para um monte de gente não acostumada a ver mapas estatísticos. Então, a ideia era obter todos os dados de indicadores socioeconômicos [dos eleitores] disponíveis nas últimas eleições e transformá-los em um mapa que pudesse ser apresentado de uma forma mais agradável.
Havia outras pessoas envolvidas. [A equipe original incluía Otávio Burin, que trabalhou em videográficos; Ariel Tonglet, que trabalhou com os dados; Mario Kanno, editor-adjunto e coordenador do projeto; e o editor de arte Fabio Marra. Gustavo Faleiros, bolsista do ICFJ Knight International Journalism Fellowship, na época com base na Folha, foi consultor no projeto.] Reuniu muitos talentos que estavam muito motivados para fazer algo novo. O Folhacóptero, desde o início, teve uma resposta muito boa por parte dos leitores e dentro da redação, então, depois do primeiro episódio começamos a fazer uma produção regular para cada semana.
Quanto tempo leva para fazer uma produção semanal de animação? Quais os fatores que você tem que considerar quando trabalha nesse curto espaço de tempo?
SD: Nós tivemos que fazer cada um em uns quatro dias. Tínhamos alguma experiência em animação, mas tivemos de começar do quase zero com a gestão da produção. Tivemos que descobrir como poderíamos fazer esses vídeos em um curto espaço de tempo, então começamos a fazer roteiros para prever quanto tempo ia levar e que tipo de animações poderíamos fazer no momento.
Normalmente, em uma redação, o fluxo de trabalho normal é que o repórter... escreve o texto para os infográficos. Mas esse fluxo de trabalho pode ter uma consequência problemática, [porque ] as pessoas que escrevem para a imprensa não pensam visualmente. Eu acho que é muito importante que os artistas gráficos escrevam os textos para os próprios infográficos.
A Folha de S. Paulo tem um programa semanal de televisão que apresentava o Folhacóptero. É por isso que estávamos fazendo isso toda semana no início. É difícil encontrar um bom tema a cada semana, então você tem que prever o assunto que vai durar até o fim de semana [quando o show vai ao ar] , e até que ser transmitido pela Internet... e ainda ser um assunto importante.
Folhacoptero #01 : Campo de Batalha Eleitoral em São Paulo from Simon Ducroquet on Vimeo.
IJNet: Que outras redações estão fazendo bom uso da animação? Há alguns exemplos específicos que inspiram você?
SD: O New York Times publicou uma animação sobre um jogador de beisebol [Mariano Rivera] que mostrou como ele jogava para o batedor. Mostrou sua técnica, como as bolas viravam no ar e todos os lançamentos que ele deu em um ano. Foi muito inspirador para mim, porque era algo que eu nunca tinha visto em gráfico animado. Também executou muito bem a adição de narração para a animação.
O Guardian também teve um vídeo interativo sobre os Jogos Olímpicos , onde você podia fazer sua própria personagem correr nas Olimpíadas, com arte pixel antiga, e era muito engraçado. Eles fizeram um trabalho muito bom, embora não tão sério e técnico.
IJNet : Existem ferramentas para as pessoas que não têm muita formação em design, mas querem criar animações?
SD: Para começar a fazer animações, há o After Effects, um software da Adobe que pode ser um bom começo. É cada vez mais fácil de se trabalhar, especialmente se você já trabalha com Photoshop.
Estamos usando Cinema 4D, e é um pouco mais complicado para começar... É voltado para animações, por isso é uma boa ferramenta para isso.
IJNet: Agora que a visualização de dados interativos e vídeos de filmes de desenhos animados estão se tornando padrão, o que vai ser a próxima tendência em infográficos?
SD: Os videogames podem ser uma maneira de fazer alguns bons infográficos . É cada vez mais fácil fazer jogos de vídeo, que também são boas ferramentas [de aprendizagem]. Eu acho que pode ser uma maneira de adicionar um pouco de experiência [ao usuário]. Por outro lado, existem documentários digitais como Snowfall (Nevasca) do New York Times que se tornou um padrão, e todo mundo está tentando ir nessa direção.
... As mudanças mais importantes que vamos ver está nos papeis das pessoas que fazem os infográficos. Eu acho que todo mundo está ficando cada vez mais visualmente educado em cada geração, e existem muitas ferramentas aparecendo para fazer visualização de dados. Então, fazer gráficos básicos está se tornando uma ferramenta de mercado acessível a todos.
Colocar todas essas experiências juntas --animação de vídeo, gráficos interativos e estáticos também, tudo com a mesma narrativa na Internet-- tenho certeza de que vai ser a direção a seguir.
Leia mais sobre como Folhacóptero foi feito aqui ou conheça mais projetos de Ducroquet aqui.
Margaret Looney, assistente editorial da IJNet, escreve sobre as últimas tendências de mídia, ferramentas de reportagem e recursos de jornalismo.
O conteúdo de inovação de mídia global relacionado com os projetos e parceiros dos bolsistas do Knight International Journalism Fellowsship na IJNet é apoiado pela John S. and James L. Knight Foundation.
Imagem do Folhacóptero #3