O negócio das mídias digitais: presente e futuro

Mar 21, 2023 em Jornalismo digital
Uso digital

Com o objetivo de oferecer treinamento de gestão empresarial e modelos inovadores de negócios a veículos midiáticos brasileiros, o programa "Acelerando Negócios Digitais", um projeto do ICFJ com o apoio da Meta Journalism Project, organizou uma série de webinares para os participantes inscritos. Por 10 semanas, você acompanha aqui na IJNet Português os desdobramentos desses encontros. O primeiro deles contou com a presença de Jeremy Caplan, Diretor de Ensino e Aprendizagem da Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). 

Com o tema “O negócio das mídias digitais: presente e futuro”, Caplan, que é especialista em jornalismo empreendedor e digital, apontou os desafios da profissão na atualidade, entre eles: os desertos de notícias, as fake news e o desinteresse do público em geral. De acordo com o Reuters Institute e a Universidade de Oxford houve uma diminuição em 82% do interesse dos brasileiros em acompanhar notícias, entre 2015 e 2022. Outro número alarmante é do aumento das pessoas que evitam se informar. Um percentual que em 2017 correspondia a 27% dos entrevistados, alcançou 54% em 2022, seguindo uma tendência mundial.

Neste cenário, a diminuição dos anúncios nos jornais é uma realidade, ao mesmo tempo em que os serviços de streaming ganham cada vez mais adeptos. Além disso, líderes mundiais como Donald Trump, Vladimir Putin e Jair Bolsonaro, que interferem na liberdade de imprensa e provocam atos de censura e violência, são apontados por Caplan como entraves no trabalho dos jornalistas.

Otimismo no futuro do jornalismo

Apesar dos problemas, Caplan tem uma visão otimista em relação ao futuro da profissão. Ela ressurge de diferentes formas e é necessário que o jornalista se atualize sempre. Para isso, ele aponta cinco tendências a serem seguidas:

-diversidade de vozes no jornalismo e de produtos;

-necessidade de aprimoramento das capacidades individuais;

-auxílio de ferramentas que possam facilitar o trabalho;

-mudança na estrutura de distribuição da notícia.

“Hoje em dia podemos chegar direto ao leitor através de mecanismos de entregas diferentes, como plataformas de publicação e coletivos que cobrem lacunas no mercado”, diz ele.

Foco na cobertura local

Jornalistas com etnias, orientações de gênero e status econômicos diversos trazem novas capacidades e perspectivas. Longe de ser uma realidade predominante, Caplan afirma que essa onda crescente consegue criar uma experiência personalizada, sobretudo, nas micromídias, que se comunicam com a realidade do seu público.

Segundo o jornalista, o foco precisa ser na cobertura local. Ele destaca a necessidade de cada vez mais as redações serem flexíveis para ouvir a necessidade da audiência e se comunicar horizontalmente com ela. É o caso de newsletters especializadas em determinados segmentos. “A gente queria grandes audiências e alcançar milhões de pessoas e, cada vez mais, estamos focando em nichos e servindo uma micro audiência”. Caplan acrescenta. “Em alguns casos a notícia pode ser customizada, as pessoas escolhem quando e em qual plataforma elas vão receber o conteúdo e em qual formato” .

Atender a cobertura local pressupõe desenvolver outras capacidades. “A formação antiga não satisfaz na atualidade. Precisamos de habilidade de produto, de engajamento, de vendas, de autoconsciência e de saber como podemos trazer expertise”. Ele pontua que é necessário se concentrar em três elementos: o produto (o que está sendo criado e qual valor é acrescentado); a comunidade (qual é o seu público, quais as dificuldades que ele enfrenta e como atender essas necessidades) e a sustentabilidade (é preciso ter engajamento com o seu leitor para que o negócio gere renda e seja sustentável).  O jornalismo pós pandemia precisa oferecer soluções. “Não é apenas dizer, por exemplo, que a água está contaminada, mas apresentar soluções que resolveram o problema em outros lugares. É necessário um jornalismo de diálogo com a comunidade, de engajamento”.

Inteligência artificial e fake news

Na era da inteligência artificial várias ferramentas podem facilitar a produção de conteúdo, é o caso do Descript, do ChatGPT e do Canva Text, citados por Caplan, e que fazem a edição de áudio, vídeo e texto.  Além das plataformas que fazem resumo de artigos acadêmicos ou organizam notas e até criam ilustrações. Ele considera que a inteligência artificial pode ajudar a identificar pontos que precisam ser esclarecidos em um artigo ou até a necessidade de abordar determinada perspectiva na matéria.

Sobre como lidar com as fake news, uma das grandes preocupações de quem lida com notícia, Caplan destaca que é preciso transparência para mostrar como a análise dos fatos é realizada. “É preciso guiar as pessoas a entender o que a gente faz, as pessoas não entendem como funciona o nosso trabalho”.  Além disso, ele pondera que é preciso que os jornalistas sejam mais abertos e demonstrem que também são humanos. “Muitas vezes no jornalismo a gente coloca uma máscara e faz de conta que é essa voz sem corpo. Falar de uma forma distante afastou a audiência”.


Foto: Canva