A reportagem sobre religião nunca foi fácil, um dos motivos pelos quais o jornalistas e os acadêmicos se uniram para produzir um manual destinado a ajudar os veículos de comunicação internacionais a cobrirem o Islã com mais precisão.
A segunda edição do "Islam for Journalists (and Everyone Else)" [Islã para Jornalistas (e Todo Mundo)], disponível para compra como e-book, destina-se a ajudar o jornalista nos Estados Unidos e em outros países a produzir uma cobertura mais matizada sobre as comunidades muçulmanas.
O livro argumenta que um conhecimento básico do Islã agora é uma necessidade não apenas para correspondentes estrangeiros, mas para quem quer uma melhor compreensão das notícias envolvendo o Islã. Muitos jornalistas permanecem geralmente desinformados sobre a segunda maior religião do mundo, e essa falta de exposição influencia negativamente suas reportagens sobre o tema, segundo o livro.
Editado pelo veterano correspondente estrangeiro, Lawrence Pintak, e por Stephen Franklin, ex-bolsista Knight do ICFJ, o livro inclui contribuições de 14 acadêmicos e jornalistas, cobrindo os princípios básicos do Islã, sua influência histórica e cultural e seu complicado relacionamento com a política. Uma leitura rápida em 252 páginas, o livro também apresenta seções de "caderno do repórter", nas quais jornalistas discutem suas experiências pessoais sobre o Islã.
Aqui estão algumas das principais lições do livro:
Desenvolva um relacionamento com a comunidade
Uma das principais dificuldades que os jornalistas americanos e europeus enfrentam ao reportar sobre o Islã no país é que algumas comunidades tendem a desconfiar da mídia devido ao que percebem como tratamento negativo geral dos muçulmanos pela imprensa.
Para superar isso, Andrea Elliott (que ganhou um Pulitzer por sua reportagem sobre a comunidade islâmica do bairro Brooklyn em Nova York) enfatiza o valor simples de "aparecer". Repórteres devem continuar a mostrar interesse genuíno através de interações diárias com a comunidade que estão cobrindo, mesmo quando são inicialmente rejeitados, argumenta ela.
Elliott recomenda encontrar um canal - uma figura comunitária confiável que pode ajudá-lo a entrar em casas e mesquitas. No entanto, ela adverte contra ir apenas ao imã de uma comunidade muçulmana para obter uma perspectiva, o que é um hábito comum entre os repórteres. Ela vê isso como análogo a ir direto para a Câmara Municipal: enquanto você pode obter a mensagem oficial, provavelmente vai perder uma perspectiva mais autêntica de outros residentes da comunidade.
Como é o caso de reportagens sobre qualquer religião, os jornalistas construirão um relacionamento mais confiável com suas fontes se entenderem e respeitarem as normas culturais. Elliott descreve várias práticas que considerou úteis como jornalista mulher trabalhando em um bairro islâmico altamente observador, como usar véu e esperar para estender a mão para cumprimentar certos homens até ficar claro que estavam confortáveis com a prática. Pequenos sinais de respeito podem ajudar muito em demonstrar a boa vontade de um repórter e se conectar com muçulmanos mais conservadores, escreve Elliott.
Cultivar fontes e contatos
Comece visitando uma mesquita: esse é o conselho de Bryan Denson sobre como jornalistas locais podem começar a desenvolver contatos com a comunidade muçulmana da cidade. Denson, um veterano repórter do jornal The Oregonian, aconselha repórteres a construir esses relacionamentos com antecedência, antes de precisar deles. Essas fontes podem dar uma visão dos acontecimentos de uma "pessoa comum", que na opinião da Denson é mais autêntica do que a perspectiva filtrada dos especialistas ocidentais.
Ao tentar construir sua lista de contatos, repórteres provavelmente enfrentarão barreiras linguísticas ou, pior, a possibilidade de que ninguém quer falar com eles. Assumindo que muitos repórteres não são fluentes no idioma que predomina na área que estão cobrindo, uma sugestão é alistar a ajuda de um especialista acadêmico ou outro contato que possa traduzir ou ajudar a dar contexto ao que você escutar.
“Se tudo mais falhar, coma com eles”
Muitos jornalistas veteranos provavelmente já são familiarizados com as dicas compartilhadas no "Islã para Jornalistas". No entanto, mesmo os veteranos podem se beneficiar dos relatos de primeira pessoa incluídos em cada capítulo, que podem ajudar a expandir a perspectiva do leitor sobre como a mídia pode abordar questões relacionadas ao islamismo.
De muitas maneiras, as mesmas regras universais do jornalismo se aplicam a essa editoria em particular: seja respeitoso, mostre empatia e cubra a história de maneira tão equilibrada quanto possível. Esteja pronto para comer com seus entrevistados e compartilhar parte de você com eles. Em última análise, o livro é uma lembrete útil de que, não importa o quão estranho um jornalista possa ser, a maneira mais fácil de começar a fazer conexões é simplesmente aparecer.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Rudy Herman