Novo estudo sugere que estratégia do Twitter para combater desinformação é ineficaz

por Laura Hazard Owen
Oct 30, 2018 em Combate à desinformação

Como aqueles jogos de fliperama de “whack-a-mole” --aqueles em que você acerta um objeto que surge aleatoriamente de buracos-- assim que se bane um perfil que cria ou compartilha notícias falsas, outro aparece. Um relatório divulgado pela Fundação Knight em 4 de outubro revela que a maioria das contas no Twitter que disseminaram notícias falsas durante a eleição nos Estados Unidos ainda estão ativas e que “essas principais agências de notícias falsas e conspiratórias no Twitter são bastante estáveis”, pois o Twitter não as desabilitou.

As conclusões são consistentes com pesquisas recentes de Matthew Gentzkow, Hunt Allcott e Chuan Yu, que descobriram que, enquanto os engajamentos com notícias falsas no Facebook diminuíram, as ações de notícias falsas no Twitter aumentaram desde a eleição.

A Knight trabalhou com uma empresa chamada Graphika para analisar mais de 10 milhões de tuites de 700.000 contas do Twitter que vinculavam a mais de 600 agências de notícias falsas e de conspiração, tanto durante quanto depois da eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016. (Eles trabalharam com a lista de sites de notícias do OpenSources, que é mantida por Melissa Zimdars da Merrimack. Os conjuntos de canais que analisaram foram classificados como “falsos” ou “conspiração”; o OpenSources também tem várias outras categorias, como “sátira” e “preconceito extremo”, que não foram incluídos. Eles descobriram que "mais de 80% das contas de desinformação em nossos mapas eleitorais ainda estão ativos, no momento de publicação deste informe”. E também:

Sessenta e cinco por cento dos links de notícias falsas e conspiratórias durante o período eleitoral foram apenas para os 10 maiores sites, uma estatística inalterada seis meses depois. Os 50 principais sites de notícias falsas receberam 89% dos links durante a eleição e (coincidentemente) 89% no período de 30 dias, cinco meses depois. Criticamente --e ao contrário de alguns relatórios anteriores-- essas principais agências de notícias falsas e conspiratórias no Twitter são bastante estáveis. Nove dos 10 principais sites de notícias falsas durante o mês anterior à eleição ainda estavam no top 10 seis meses depois.

O Twitter, segundo a Knight, não está fechando essas contas.

O Twitter alegou repetidamente que reprimiu as contas automatizadas que espalham notícias falsas e se envolvem em "comportamentos de spam". No entanto, das 100 contas mais ativas na divulgação de notícias falsas antes da eleição, a grande maioria claramente se engajou em "comportamento de spam" que viola as regras do Twitter: mais de 90 ainda estavam ativos na primavera de 2018. No geral, 89% das contas em nosso mapa de notícias falso e conspiratório permaneceram ativas em meados de abril de 2018. A persistência de tantas contas abusivas facilmente identificadas é difícil para quadrar com qualquer repressão eficaz.

Uma outra coisa que o relatório da Knight sugere: proibir funciona. O site de conspiração The Real Stragtegy, que foi proponente do Pizzagate entre outras fraudes, era “o segundo site de notícias falsos com mais links em nosso mapa eleitoral”. O Twitter (e Reddit) o baniu, e “links para The Real Strategy em grande parte desapareceu nos dados pós-eleição”--após a proibição, os links para ele caíram 99,8%. "O caso do The Real Strategy sugere que a ação conjunta pode realmente ser eficaz em reduzir drasticamente os links para notícias falsas e conspiratórias", escrevem os pesquisadores, "desde que plataformas como Twitter e Reddit estejam dispostas a agir de forma decisiva."

Del Harvey, vice-presidente global de confiança e segurança do Twitter, contestou as descobertas da Knight. “Este estudo foi criado usando nossa API pública e, portanto, não leva em consideração nenhuma das ações que tomamos para remover conteúdo automatizado ou conteúdo com spam. Fazemos isso de forma proativa e em escala, todos os dias”, disse ela em um comunicado. “Em segundo lugar, como um serviço exclusivamente aberto, o Twitter é uma fonte vital de antídoto em tempo real para as falsidades do dia-a-dia. Estamos orgulhosos disso e trabalhamos diligentemente para garantir que estamos mostrando o contexto e uma gama diversificada de perspectivas às pessoas à medida que elas se envolvem em debates cívicos nos nossos serviços.”

O Twitter baniu milhões de contas falsas suspeitas durante o verão [no hemisfério norte] --pouco tempo depois que este relatório foi publicado-- e, portanto, é possível que algumas das contas que a Knight encontrou ainda em atividade na primavera de 2018 tenham desaparecido. O Twitter também anunciou esta semana que está "atualizando e expandindo nossas regras para refletir melhor como identificamos contas falsas e quais tipos de atividades não autênticas violam nossas diretrizes". Agora podemos remover contas falsas envolvidas em uma variedade de comportamentos maliciosos emergentes.”

O relatório completo, que inclui mapas bacanas e representações gráficas dos vários grupos que disseminam notícias falsas no Twitter, está aqui.

Este post foi publicado originalmente no NiemanLab e é reproduzido na IJNet com permissão.

Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Marten Bjork