Ataques contra jornalistas de meio ambiente atingiram a máxima histórica e seguem piorando, de acordo com um relatório da UNESCO. Há relatos de intimidação, espancamento, prisões e, em alguns casos, assassinato de quem informa sobre o clima.
Em parceria com a Federação Internacional de Jornalistas, a UNESCO fez uma pesquisa com 905 repórteres de 129 países. O levantamento revelou que 70% dos respondentes sofreram ataques.
Há anos, o Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) documenta ataques contra repórteres que fazem cobertura climática e oferece conselhos de segurança. Agora, a organização dá um passo além.
Em setembro, o CPJ anunciou a Iniciativa de Proteção aos Jornalistas da Crise Climática, com um investimento de US$ 1 milhão para ajudar a lidar com o aumento da violência.
"Jornalistas investigam corrupção política e redes de crime organizado que exploram recursos naturais. Eles informam sobre a devastação ambiental e as inovações e políticas para conter esse processo. Esse tipo de trabalho está se tornando cada vez mais perigoso", disse Jodie Ginsberg, CEO do CPJ, durante o lançamento.
A iniciativa vai oferecer aos jornalistas capacitação em segurança e outras formas de apoio. Os objetivos do projeto são:
- Ampliar a pesquisa do CPJ para detectar pontos de crise no mundo e tendências em segurança
- Mapear as necessidades dos jornalistas e realizar ações preventivas
- Oferecer suporte financeiro, incluindo assistência à saúde mental e oficinas de segurança feitas sobre medida, através de um fundo de emergência
- Ajudar a aumentar a conscientização sobre as ameaças enfrentadas por repórteres especializados na cobertura climática
"Isso chega em um momento em que jornalistas estão enfrentando riscos por causa da cobertura mais ampla da pauta de meio ambiente, incluindo as ligações entre o crime organizado e corrupção política, bem como protestos contra a mudança climática no mundo todo", observa Lucy Westcott, diretora de emergências do CPJ. Ela aponta a ampla disseminação de desinformação e ataques contra meteorologistas durante os últimos furacões que atingiram os EUA.
"Nós esperamos entender melhor essas ameaças e as melhores formas de ajudarmos os jornalistas a atenuá-las", diz Westcott.
De acordo com a UNESCO, o perigo vem de diferentes origens. Agentes estatais como a polícia, o exército, funcionários do governo e autoridades locais são os piores infratores. Empresas do setor industrial, grupos criminosos e manifestantes também perseguem jornalistas.
Os assuntos da cobertura também colocam os jornalistas no rastro do perigo. "Estejam os jornalistas investigando desmatamento na Amazônia, poluição em regiões industriais ou mineração ilegal na África, a natureza remota dessas pautas acrescenta uma camada significativa de risco", diz o relatório da UNESCO.
Conselhos de segurança do CPJ
Recursos de segurança estão reunidos nesta página. Ela inclui links para informações sobre segurança física e digital, por exemplo, como se preparar para uma possível prisão, proteção de fontes confidenciais e boas práticas para preservar sua segurança psicossocial.
Confira algumas dicas para ter em mente ao longo do processo de reportagem:
- Considerações antes do trabalho: descubra quais direitos legais os profissionais de mídia têm no país onde você está trabalhando. Isso inclui pesquisar os motivos pelos quais você pode ser preso, como outros colegas que foram presos foram tratados enquanto estavam sob custódia e se você vai ter acesso a advogados que falam o seu idioma;
- Durante o trabalho: evite ficar no mesmo lugar por longos períodos, principalmente em áreas que são mais sensíveis. Lembre que a maioria das forças de segurança prefere não ser gravada. Não carregue itens que potencialmente podem te levar para a prisão, como armas ou drogas;
- Boas práticas de segurança digital: certifique-se de ter acesso a recursos que podem assegurar a segurança das suas fontes. Faça avaliações de risco digital para te ajudar a se preparar para quaisquer problemas que venham a surgir. A Rory Peck Trust tem um modelo de avaliação de risco digital que orienta os jornalistas para garantir que seus dispositivos não ofereçam perigo para si mesmos ou para suas fontes.
Outros recursos para a reportagem sobre o clima
- O CPJ tem um guia sobre como abordar a cobertura de desastres naturais, incluindo inundações, incêndios e calor extremo;
- O Guia de Recursos sobre a Mudança Climática da Sociedade de Jornalistas Ambientais inclui fontes, especialistas e sugestões de pauta sobre a mudança climática;
- O Climate Blueprint da Rede de Jornalismo de Soluções é um recurso novo que aborda 14 tópicos e inclui boas práticas, estudos de caso e dicas para jornalistas especializados em cobertura climática de todas as partes do mundo;
- A Rede Global de Jornalismo Investigativo tem artigos com sugestões de projetos investigativos, links para recursos úteis e análises sobre como a mídia vem lidando com a mudança climática e o que ela poderia estar fazendo melhor.
Jornalistas podem entrar em contato com o CPJ pelo email emergencies@cpj.org.
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