É cada vez mais difícil combater a desinformação no Quênia à medida que o uso da internet no país cresce rapidamente. Ao longo dos últimos meses, principalmente, com a proximidade das eleições no país, as redes sociais se transformaram em uma plataforma para propagar desinformação.
Em campanhas políticas anteriores, declarações feitas por candidatos foram mais tarde apontadas como enganosas. Campanhas de desinformação são comuns, já que as equipes dos candidatos usam essa estratégia para distorcer o discurso de oponentes e promover a si mesmos. Por exemplo, uma prática recorrente é manipular fotos de multidões em eventos para criar impressões exageradas de popularidade.
Para lidar com a disseminação de desinformação durante a temporada eleitoral de 2022 e além, o Media Council of Kenya (MCK), em parceria com o Programa de Desenvolvimento da ONU, lançou a Rede iVerify de Editorias de Verificação de Fatos, uma plataforma digital que redações e jornalistas podem usar para checar informações antes de divulgá-las. Novidade no Quênia, o iVerify já foi usado anteriormente com sucesso em outras regiões da África.
Verificação
O iVerify tem três objetivos principais: identificar desinformação e discurso de ódio; verificar informações e gerar relatórios dessas checagens; e coordenar estratégias de resposta em conjunto com as partes envolvidas.
A plataforma combina o uso de inteligência artificial com checagem de fatos feita por humanos para verificar declarações feitas por pessoas, organizações, políticos e instituições de governo. Na sequência, as declarações são categorizadas como falsa, enganosa e/ou discurso de ódio.
"A plataforma vai oferecer um mecanismo de cooperação aprimorado para verificação de informação ao mesmo tempo em que estimula a colaboração", diz o CEO da MCK, David Omwoyo. Uma dessas colaborações ocorre entre verificadores de fatos, jornalistas e a Comissão Nacional de Coesão e Integração, órgão do governo encarregado de combater o discurso de ódio e a incitação no Quênia.
O lançamento do iVerify é especialmente oportuno ao coincidir com o período eleitoral. "As campanhas políticas tiveram uma explosão de desinformação e discurso de ódio, principalmente nos comícios", diz Esther Koimett, secretária executiva do Departamento de Estado de Radiodifusão e Telecomunicações durante o evento de lançamento da plataforma. "Acreditamos que o iVerify vai ajudar a restaurar a lei e a ordem no uso das redes sociais ao compartilhar informação exata e equilibrada."
O iVerify já está sendo usado por veículos de mídia nos 47 condados do país, segundo Omwoyo. "A plataforma vai ajudar a cobrir a lacuna existente no ciclo de checagem de notícias, o que é muito necessário para melhorar o jornalismo profissional e responsável às vésperas das eleições de agosto e para além dela", diz.
Equipe de verificadores
Uma equipe de mais de 70 verificadores comanda o iVerify no momento, todos selecionados e treinados pela MCK. Os verificadores recebem conteúdos de jornalistas e em seguida fazem a pesquisa para determinar a validade dos mesmos.
"Os jornalistas são o primeiro ponto de contato quando as pessoas estão em busca de informação. É importante assegurar que eles tenham as habilidades necessárias para expor notícias falsas, incluindo propaganda política, e ajudar a cessar o ciclo de desinformação", diz Omwoyo.
O Quênia segue os passos da Zâmbia, que usou o iVerify durante as eleições em 2021. A Libéria também usou a ferramenta para combater discurso de ódio.
Como funciona
Dois verificadores avaliam cada conteúdo enviado para o iVerify. Isso é feito para reduzir as possibilidades de viés individual e assegurar que nada passa despercebido. Os verificadores consultam o autor da mensagem ou a pessoa a quem a mensagem foi atribuída, bem como pessoas citadas no conteúdo. Eles também usam fontes e dados públicos, incluindo especialistas e autoridades para assegurar que todos os aspectos da informação foram investigados. Um chefe da equipe revisa os resultados antes deles serem publicados.
Os jornalistas estão confiantes de que a plataforma vai ajudar a mitigar a publicação de declarações enganosas e sem verificação feitas por políticos durante eventos de campanhas.
"Às vezes nos deixamos levar por declarações feitas em comícios e as usamos sem mesmo verificar se são verdadeiras ou não", diz Moreno Ocampo Junior, jornalista radicado na cidade queniana de Nakuru. "Com o iVerify, podemos colocar à prova qualquer declaração para testar a verdade."
Foto por Adeolu Eletu no Unsplash.