Enquanto boatos se espalhavam nas redes sociais antes das eleições de 1° de julho no México, mais de 90 veículos de comunicação se uniram para verificar as informações sobre a eleição. A iniciativa, conhecida como Verificado 2018, é um exemplo das possibilidades do jornalismo colaborativo.
Inspirado no Verificado19s (o projeto colaborativo que surgiu para verificar informações sobre danos e ajuda necessários após o terremoto que atingiu o México em setembro passado), o Verificado 2018 está trabalhando com veículos de mídia nacionais e locais, incluindo canais de TV, sites de notícias, jornais e rádios, bem como universidades e organizações da sociedade civil, para verificar as informações relacionadas às eleições.
Eles também têm suporte do Facebook, Google e Twitter, Oxfam e Open Society Foundations.
“O jornalismo colaborativo é o futuro do jornalismo”, diz Alba Mora Roca, produtora executiva da AJ+, organização que lidera o projeto, junto com Pop-Up Newsroom e Animal Político.
A iniciativa começou há um ano, quando a jornalista mexicana Diana Larrea, que trabalha no Al Jazeera Media Institute, conheceu um dos editores do Pop-Up Newsroom em uma conferência de jornalismo em Beirute. Eles foram inspirados por outros projetos que usam uma abordagem colaborativa para cobrir eleições, como a Electionland --uma iniciativa conjunta para cobrir os problemas que eleitores enfrentam nas eleições intermediárias dos Estados Unidos.
Eles queriam incluir uma organização com experiência em checagem de fatos, então convidaram o Animal Político para colaborar com a equipe. Desde 2015, o site de notícias publica o El Sabueso, um blog dedicado à verificação do discurso público.
Esses três principais parceiros definiram a metodologia e seus objetivos antes de convidar veículos de comunicação (nacionais e locais) para participar do projeto. A equipe queria ir além da Cidade do México e envolver jornalistas de outras partes do país para detectar e verificar notícias falsas circulando ao nível local.
“Acreditamos que é realmente importante descentralizar as iniciativas [jornalísticas] das grandes capitais”, diz Mora Roca.
Para participar do projeto, jornalistas de organizações de notícias aliadas passaram por um treinamento sobre checagem de fatos e aprenderam como detectar informações manipuladas, imagens e vídeos usando a metodologia do Verificado 2018.
Cada um dos parceiros contribui com sua própria experiência para o projeto: um fator-chave para o sucesso da colaboração. Como líder editorial, o Animal Político centraliza a informação. Com 10 verificadores de fatos e dois coordenadores trabalhando em tempo integral, eles pesquisam informações, localizam fontes e fazem verificações. A equipe produz materiais diferentes e os compartilha com os veículos de comunicação aliados que os adaptam ao seu próprio público e estilo jornalístico.
As organizações aliadas também contribuem com informações para verificar e fazer suas próprias verificações em coordenação com o Animal Político, que tem que aprovar cada verificação antes de ser liberada.
Todas as noites, as verificações do dia são enviadas a todos os parceiros com um embargo. Na manhã seguinte, todos eles publicam as informações ao mesmo tempo e também são enviadas para o site do Verificado 2018.
“O objetivo é alcançar mais pessoas com informações precisas, verdadeiras e úteis, que lhes permitam dar um voto informado”, diz Tania Montalvo, editora geral do Animal Político.
Uma das inovações do projeto tem sido a forma como a informação é apresentada. Com o AJ + e seu estilo inovador liderando a editoria visual, o Verificado 2018 criou materiais e conteúdo que são atraentes para o público, incluindo GIFs, humor e narração rápida de histórias.
“Queremos combater notícias falsas virais com verificações que também têm potencial para se tornarem virais”, diz Mora Roca.
O Verificado também está aproveitando as habilidades de seu público. De acordo com um estudo publicado na Science Magazine, os leitores desempenham um papel importante na disseminação da informação errônea através das redes sociais, e a equipe espera que eles também possam divulgar os fatos. Eles estão treinando os leitores sobre como identificar e entender a desinformação.
“Estamos dando aos eleitores ferramentas para diferenciar e usar seu espírito crítico para poder dizer quando a informação foi manipulada [para que eles] não contribuam para a disseminação de notícias falsas”, diz Mora Roca.
Até agora, a iniciativa do Verificado 2018 foi um sucesso. Mais veículos de comunicação pediram para participar da iniciativa e os leitores estão compartilhando suas verificações e pedindo que a equipe verifique as informações usando a hashtag #QuieroQueVerifiquen.
“A marca gerou confiança entre as pessoas”, diz Montalvo. "Estamos no centro do debate público".
Talvez a melhor prova de que eles se tornaram atores nas eleições presidenciais do México é que eles mesmos se tornaram alvo de notícias falsas. E, obviamente, eles as desmascararam e explicaram às pessoas como reconhecer suas próprias verificações.
Imagem sob licença CC no Pexels via Arantxa Treva