O mundo elogia a forma como a Índia lidera sua campanha de pólio. Mas pequenos povoados, como a Vila Sakhri em Madhya Pradesh, que estão fora desses esforços, não fazem notícia. Sua história, talvez, nunca seria contada. Mas, graças aos esforços da jornalista Saroj Parasthe, a situação não só foi destacada, mas também corrigida.
"Quando percebi que as crianças aqui não tinham sido imunizadas nos últimos dois anos, fiquei chocada", disse ela. "Eu tenho filhos e sei os perigos de não imuniza-los a tempo." Sua matéria, intitulada "Saúde Materna e Infantil em Perigo por fraude de Centro de Saúde" (abaixo), forçou a atenção sobre a situação desses pobres camponeses analfabetos cujo único centro de saúde era completamente disfuncional.
O trabalho de Parasthe garantiu que as 137 famílias que residem na região recebessem os cuidados de saúde a que tinham direito. Esta é uma das 50 questões de corrupção ou de negligência do governo que os correspondentes comunitários do Video Volunteers (VV) conseguiram resolver nos últimos anos.
Contadores de histórias improváveis
Parasthe é uma jornalista diferente. Tendo terminado o ensino médio, ela não fez faculdade, e seu meio de comunicação é hindi. "Eu trabalho com diferentes agências não-governamentais na minha área e foi através deles que fui selecionado para uma sessão de treinamento com a organização Video Volunteers", disse ela. "Eles me ensinaram a filmar e editar vídeo, e mais importante, falar com as pessoas para que problemas reais podem ser destacados." Antes do Video Volunteers, Parasthe nunca tinha sequer tirado uma fotografia. "Eu fui selecionado para o treinamento, porque estava com medo de aparecer e me manifestar", disse ela.
Uma visão alternativa
Jessica Mayberry fundou o Video Volunteers, depois de passar um ano treinando mulheres indianas rurais em filmagem enquanto foi bolsista do programa WJ Clinton Fellowship da American India Foundation. Criado em 2006, o VV completou 7 anos hoje. "A principal razão por trás do VV foi a simples crença de que as mulheres que aprendem a usar a câmera podem ter poderes para trazer mudanças positivas para suas situações e comunidades", disse Mayberry, animada apesar de ter trabalhado o dia inteiro.
"Hoje são os nossos jornalistas que contrariam a linha do governo habitual sobre por que as pessoas estão descontentes", disse ela. "Eles trazem as vozes das pessoas deslocadas e cujos direitos humanos básicos estão ameaçadas." Esses jornalistas fazem parte da seção IndiaUnheard, um serviço de notícias da comunidade lançado pelo VV em fevereiro de 2010. Composta por uma rede de 125 correspondentes comunitários espalhados por 24 estados indianos, esses repórteres, muitas vezes de comunidades muito marginalizadas e abandonadas, oferecem uma visão de uma Índia que não faz manchetes.
(Para mais informações sobre Video Volunteers e India Unheard, leia o post de Jessica Mayberry no Idea Lab, onde ela escreveu sobre os projetos em detalhe.)
Salve o jornalista tribal
O VV é mais ativo na Índia Central --em áreas como Jharkhand, Madhya Pradesh e Chhattisgarh, onde as questões de insurgência e grilagem de terras são frequentes. "Setenta por cento da população aqui é tribal, mas na grande imprensa não existem jornalistas tribais", disse Mayberry. "A maioria dos nossos correspondentes comunitários é tribal e cresceu com as realidades de deslocamento. Eles relatam a partir da perspectiva única de quem vive os problemas sobre os quais informam."
Esta preocupação é reiterada por Shubhranshu Choudhary, bolsista Knight e fundador do CGNET Swara, serviço de notícias de jornalismo cidadão. "O Sindicato dos Jornalistas Chhattisgarh tinha mais de 900 nomes de jornalistas alocados para cobrir a área de diferentes organizações de mídia listadas", disse ele. "Eu tentei descobrir quantos jornalistas falavam qualquer das línguas tribais da região que tinham vindo para cobrir. Eu pude encontrar apenas um punhado."
Mulheres Narradoras
Entre os repórteres mais ativos do IndiaUnheard estão homens. Mas é o impacto que o treinamento do VV teve sobre as mulheres que chama a atenção. Ao permitir que mulheres para descrevessem perspectivas pouco representadas, o VV garantiu toda uma nova variedade de vozes que talvez nunca teria encontrado expressão. Essas mulheres jornalistas não apenas informam sobre as "questões femininas" típicas. Em vez disso, trabalho delas mostra que nenhum assunto é tabu e nenhuma situação complexa demais para elas examinarem.
A história de Savitha Rath, "Satyagraha Carvão: Minha Terra, Meu Carvão" (abaixo) destaca a corrupção e a ganância no setor de mineração no país e a situação dos pobres de quem a terra é tirada em nome do desenvolvimento. "Eu adorava a escola e realmente queria estudar", disse ela. "Mas tinha que sair mais cedo, porque meu pai não podia pagar mais."
Sendo uma ativista natural, ela estava sempre à procura de oportunidades onde poderiam usar suas habilidades. Com o Video Volunteers, acrescentou uma nova dimensão ao seu ativismo. "Eles me treinaram para usar uma câmera e gravar as vozes das pessoas, suas lágrimas, suas lutas", disse ela. "De repente, eu percebi que realmente tinha o poder de fazer diferença."
Enquanto cobria uma reportagem sobre os protestos do povo contra a mineração ilegal, ela foi sutilmente ameaçada pela polícia. Ela sabia que poderiam impedir que seu trabalho fosse transmitido. Ela escondeu a câmera sob a roupa e foi escoltada de volta para seu escritório por seis amigos da área em bicicletas. "Foi muito emocionante --não dava tempo para sentir medo", disse ela, o riso iluminando sua voz.
Enfrentando os desafios
O Video Volunteers recruta jornalistas por meio de organizações não-governamentais e movimentos sociais diferentes e, em seguida, fornece o treinamento necessário. "A profissionalização de algo assim leva tempo", disse Mayberry. "Distribuir nossos relatórios é muitas vezes difícil. Mas nós não estamos apenas tentando provar um modelo de negócio, embora acreditamos que uma 'rede de colaboradores rurais' é altamente expansível e atende a uma necessidade real no ecossistema da mídia indiana. Nós somos uma organização de direitos humanos, que está se tornando conhecida como um grupo que não tem medo de falar sobre a realidade dura. "E o trabalho de Zulekha Syed, de 25 anos, sublinha isso.
Ela está profundamente empenhada em explorar os planos polêmicos de demolir favelas e construir arranha-céus de alta e baixa renda , o chamado "Slum Redevelopment Program". Moradora do parque Vikhroli, Zulekha dá uma visão aprofundada sobre a vida na outra metade de Mumbai, a metade que é geralmente varrida para baixo do tapete, ou tratores. Em seu recente vídeo, "Cenas de Guerra Classe em Mumbai: Construtores Vs. Pessoas", ela destaca as ameaças contra as pessoas para as quais, aparentemente, o governo está gastando milhões. Ela foi recentemente aceita para uma pós-graduação em comunicação em uma faculdade da cidade de Mumbai. É muito raro para os chamados "slumdwellers" (favelados) entrarem em instituições como esta.
O VV é em grande parte financiado por doações e fundações como a Knight News Foundation e Christian Aid. Todos os produtores da comunidade do VV são pagos pelo seu trabalho.
"Trinta por cento do nosso orçamento vem da renda que obtemos através de treinamentos e consultorias", disse Mayberry. "Tentamos por dois anos vender conteúdo para mídia". O VV fez parceria com o News X um canal de televisão popular em inglês na Índia.
Mas a geração da receita através da venda de conteúdo para canais de mídia tradicionais é talvez o aspecto mais difícil de seu trabalho.
"É muito difícil conseguir que as redes paguem", disse ela. "Estamos esperando que os canais percebam como nossos repórteres podem efetivamente ser usados como colaboradores locais". Mas a crescente urbanização na Índia levou ao declínio de interesse no tipo de questões que o VV destaca também. "Eu espero que algum administrador em algum lugar nos ouça e venha para ajudar. Nosso próximo desafio é descobrir o modelo de negócio de uma rede de colaboradores rurais. Há uma grande oportunidade de negócio à espera de ser explorado. "Até lá, o VV continua a mudar a Índia, um vídeo de cada vez.
Paromita Pain, graduada recentemente pela Escola Annenberg de Jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia, escreve sobre questões de desenvolvimento na Índia e nos Estados Unidos. Estudante de doutorado na Universidade do Texas em Austin, ela está atualmente investigando questões de mídia do cidadão e capacitação global.
Esse artigo foi publicado originalmente no site parceiro da IJNet, o Idea Lab do PBS MediaShift, um blog formado por um grupo de inovadores que estão reinventando notícias da comunidade para a Era Digital. Cada autor ganhou uma bolsa no Knight News Challenge para ajudar a financiar uma ideia de startup ou para blogar sobre um tema relacionado à reformulação das notícias de comunidade. O artigo completo é traduzido na íntegra nas seis outras línguas da IJNet com permissão do MediaShift.