Mulheres jornalistas enfrentam um conjunto único de obstáculos no trabalho, especialmente na cobertura de zonas de conflito e ambientes hostis. A segurança física e mental delas pode estar em risco elevado e frequentemente os veículos não fazem o suficiente para apoiá-las.
Teresa Rehman, jornalista e escritora premiada do nordeste da Índia, e a jornalista de TV Amaka Okoye, que foca na cobertura de conflitos e crises na Nigéria, lançaram luz sobre suas próprias experiências de reportagem na condição de mulheres durante um webinar recente do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.
"Por ser uma mulher, qualquer coisa pode acontecer com você", disse Rehman. "Eu estou constantemente flertando com o perigo."
Mulheres no jornalismo
Muitos veículos não atendem às necessidades das mulheres jornalistas, disse Rehman. "Não há licença-maternidade [em muitas empresas jornalísticas] ou sequer um banheiro separado para as mulheres", ela explicou, acrescentando que sempre carrega uma sacola com itens essenciais em suas coberturas, por via das dúvidas.
Quando o assunto é a cobertura em zonas de conflito, as pessoas perguntam como as mulheres fazem esse trabalho sem temerem por sua segurança, disse Okoye. "Eu não tenho uma fórmula. É uma questão de você se jogar e se descobrir fazendo isso. Se você é convocada a fazer isso, você acabará fazendo.”
Okoye às vezes cobre áreas da Nigéria controladas pelo grupo Boko Haram. "Se eu pensar no perigo, vou recuar — vou ficar literalmente paralisada. Não vou conseguir fazer o trabalho. As coisas de vez em quando dão errado, mas de algum jeito você sai viva", disse. "Você é apaixonada pelo seu trabalho e esse é o seu instinto."
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Cobertura de conflitos
Rehman recorda aprender sobre como os veículos ocidentais treinam seus jornalistas para ambientes hostis, frequentemente fornecendo coletes à prova de balas. Ela, em contraste, cobre uma região periférica que tem testemunhado décadas de insurgência violenta e nenhum veículo da Índia jamais a ofereceu esses recursos.
"Mulheres cobrindo crises é uma novidade para a nossa geração. Usar um colete à prova de balas nunca foi parte da nossa preparação e discurso", disse. "[Porém], sou blindada e jornalistas como nós são blindadas". Inspirada por esse conceito, "Bulletproof" (à prova de balas ou blindado, em inglês) é também o nome de um de seus livros.
Conflitos também podem afetar a saúde mental das jornalistas que cobrem o assunto. Isso não é falado o bastante, observou Rehman. Okoye enfatizou o papel da terapia para que ela siga adiante e consiga fazer seu trabalho, apesar de ser tão cara. A maioria dos veículos também não fornece esse apoio. "Se eu não [buscasse ajuda], o dano [seria] enorme."
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Rede de apoio
Para sobreviver no jornalismo, especialmente durante uma pandemia global, ter uma rede de apoio é importante, argumentou Rehman. Você precisa de um canal para ajuda psicológica, apoio legal, segurança digital e entender seus direitos como jornalista. "Muitos jornalistas morreram [de COVID-19] na Índia enquanto cumpriam seu dever. Precisamos ter esse tipo de conversa para que possamos pensar em maneiras de ajudar uns aos outros", acrescentou.
A internet é outra ferramenta poderosa, afirmou Rehman. O jornalismo móvel também tem sido um divisor de águas, ajudando a destacar vozes marginalizadas. Ela começou sua própria revista online, com foco em jornalismo de soluções, que ela acredita poder melhorar problemas de representação na mídia. "Jornalistas são muito inovadores. Podemos inventar novos tipos de redes de apoio; pode ser global e 'glocal'."
Rehman recomenda que mulheres ingressem em organizações de mídia e se candidatem a bolsas de jornalismo pensadas para mulheres — para reportagens de gênero e para ir atrás das pautas que importam. "Obtenha tudo o que você precisa em termos de conhecimento, de exposição, para ser capaz de entregar", disse Okoye. "Apesar de você não ter proteção, por assim dizer, você tem seu bloco de anotações e sua caneta, e isso é o bastante."
Foto por Christina @ wocintechchat.com no Unsplash.