Melhorando a segurança dos jornalistas ao longo de uma fronteira violenta

por Jorge Luis Sierra
Oct 30, 2018 em Segurança Digital e Física
U.S. Mexico Border

A fronteira EUA-México é uma região muito desafiadora para os jornalistas. Eles precisam cobrir tudo de uma perspectiva binacional; falar dois idiomas; compreender dois sistemas políticos, legais e judiciais diferentes; e também se arriscam cobrindo o comércio ilegal de drogas, tráfico de seres humanos e a criminalidade e violência inerentes.

Apenas cerca de duas horas da minha base no sul do Texas, cartéis de drogas decapitam as pessoas da mesma forma que o Estado Islâmico está fazendo na Síria. Isto mostra como é grave a violência na fronteira EUA-México, considerada uma área de segurança nacional para ambos os países.

Eu recentemente retornei de Washington para o Texas para continuar a minha bolsa Knight do ICFJ sobre a intersecção do jornalismo investigativo e cibersegurança. No primeiro dia, li uma história em El Mañana, um jornal com sede na cidade de Reynosa, sobre confrontos entre criminosos e unidades militares mexicanos apenas algumas milhas ao sul do Rio Grande, um rio de 2.000 milhas de comprimento que serve como uma fronteira natural entre os EUA e o México.

Quando li essa notícia, os nomes de vários colegas vieram à minha mente, porque eles cobriram tais histórias. Enrique Juarez, editor do El Mañana de Matamoros, foi sequestrado e ameaçado de morte há um ano por militantes irritados com a cobertura de confrontos entre os membros militares e cartéis de drogas mexicanos. Roberto Mora, que foi meu editor há vários anos, não teve a mesma sorte. Roberto era um jornalista muito bom e de renome quando foi nomeado editor do El Mañana de Nuevo Laredo. Não muito tempo depois de sua chegada em Nuevo Laredo, pessoas desconhecidas o esfaquearam até a morte em março de 2004. Ele escrevia sobre a conivência de políticos locais com os Zetas, uma organização criminosa que ainda controla grandes áreas ao longo da fronteira. Armando Rodríguez, repórter policial do El Diario de Juárez, foi morto em novembro de 2008 quando estava levando sua filha para a escola.

Não importando o risco, ambos jornalistas norte-americanos e mexicanos têm que cobrir essa fronteira e seus problemas em uma base diária. No lado mexicano, os repórteres são silenciados por ameaças de retaliação de organizações criminosas e autoridades corruptas que não gostam de jornalismo independente e reportagens investigativas. No lado texano, repórteres evitam cruzar a fronteira e limitam a cobertura devido a ameaças frequentes. Às vezes, os membros das organizações criminosas os acusam de ser do FBI ou informantes da polícia local.

A situação tem afetado a qualidade do jornalismo. Verificação não é fácil, principalmente porque os criminosos ou funcionários corruptos não falam com a imprensa. No lado mexicano, é difícil saber quem é quem e fontes oficiais podem ser coniventes com organizações criminosas. No lado dos EUA, a corrupção também é um problema. Ao longo dos últimos 12 anos, três chefes da polícia local no Texas foram processados ​​por participar de redes de drogas e outras atividades criminosas.

Para obter informações precisas e se manter seguros, os jornalistas aqui talvez precisem desenvolver mais habilidades do que quaisquer outros jornalistas nos EUA ou México. Eles precisam de métodos sólidos de construção de fontes, verificação de informações, matérias certificadas e cumprimento das normas éticas. As suas competências profissionais devem incluir um comando de ferramentas de segurança digital. E eles precisam de treinamento tanto em segurança emocional como física.

Com isso em mente, estou começando um programa para ajudar jornalistas na fronteira EUA-México permanecerem seguros ao fazer investigações sensíveis.

O programa incluirá parcerias com a Escola de Jornalismo da Universidade do Arizona, a South Texas College e organizações de mídia no Texas, Novo México, Arizona e Califórnia, bem como contrapartes em Tamaulipas, Nuevo León, Coahuila, Chihuahua e Baja Califórnia, no México.

Jornalistas usará Salama, o aplicativo que eu criei no início da minha bolsa Knight do ICFJ, para conduzir avaliações de risco e planos de segurança de design e protocolos. O treinamento incluirá como lidar com fontes de alto risco em matérias sensíveis, como verificar e proteger matérias contra as leis de difamação, como cobrir a violência e ser respeitoso para com as vítimas, como proteger a informação digital e os conceitos básicos de cobrir um conflito armado na fronteira, incluindo armas e o que fazer em situações de fogo cruzado.

Essas habilidades vão ajudar os jornalistas a se protegerem e protegerem seu trabalho enquanto estiverem operando em uma região violenta e desafiadora.Também vão ajudar os jornalistas a produzirem reportagem de maior qualidade, mesmo com os riscos.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via BBC World Service.