Na América Latina, fazer jornalismo de dados é muitas vezes difícil por causa de um simples fato: não é fácil conseguir dados aqui.
Isso é devido a uma série de questões, incluindo a falta geral de acesso aos dados públicos, uma obscura liberdade de imprensa e política de dados abertos, baixos níveis de transparência e riscos de segurança para jornalistas e hackers.
Agora, um novo manual em espanhol tem como objetivo ajudar os jornalistas da região a compreender e trabalhar com dados neste contexto às vezes complicado. O Manual de Periodismo de Datos Iberoamericano (Manual de Jornalismo de Dados Ibero-Americano) foi lançado na recente Media Party do Hacks/Hackers em Buenos Aires, com colaborações de mais de 40 jornalistas, designers e programadores da região.
O livro examina o estado do jornalismo de dados em países na América Latina e compartilha recomendações úteis para repórteres e organizações de notícias. Seu objetivo é promover o desenvolvimento do jornalismo de dados na região e "reduzir a divisão digital", segundo a introdução do manual.
A produção colaborativa do manual foi liderada por Miguel Paz, o jornalista chileno que é fundador e diretor da plataforma de dados Poderopedia, durante sua bolsa Knight do ICFJ.
O manual foi inicialmente destinado a ser um paralelo simples do Data Journalism Handbook, uma iniciativa colaborativa global apoiada pelo Centro de Jornalismo Europeu e a Fundação Open Knowledge. Mas Paz e outros colaboradores perceberam rapidamente que a região precisava de seu próprio manual.
“Em países onde os princípios de transparência são estabelecidos, os jornalistas têm dados atualizados em formatos apropriados como parte da prática diária", a introdução do manual afirma. “Nós não temos isso.”
Então Paz fez uma chamada por colaboradores (aqui na IJNet e por toda parte) para criar um manual específico para a região e começou a criar um plano. Cada passo do processo seria transparente e a equipe prometeu usar ferramentas gratuitaas e de fontes abertas sempre que possível.
O Manual Ibero-Americano de Jornalismo de Dados, que está sendo distribuído gratuitamente sob licença Creative Commons, foi publicado pela Poderomedia Foundation em parceria com Faculdade de Jornalismo da Universidade Alberto Hurtado, com o apoio de Hivos e o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês).
O manual inclui dicas, guias e tutoriais sobre como obter e processar dados, fazer visualizações e trabalhar efetivamente como jornalista no ambiente tecnológico atual. Abrange tópicos, incluindo bases de dados, pesquisas na Web profunda, mineração e raspagem de dados, visualização de dados e mapeamento, dados abertos, acesso à informação pública e segurança cibernética.
Também explica como alguns dos projetos de jornalismo de dados mais conhecidos da região foram gerados e desenvolvidos, e destaca o trabalho envolvido nestes esforços: peneirar "milhares de documentos, muitas vezes dispersos, que não foram concebidos para fornecer dados úteis para a população."
O manual também apresenta perspectivas criativas sobre a tarefa de trabalhar com dados, como uma "entrevista com um banco de dados," por Hassell Fallas, editor investigativo de dados do jornal La Nación, na Costa Rica.
"Um banco de dados é como qualquer outra fonte," Fallas escreveu. “Pode contar mentiras, esconder informações, nos dar uma imagem parcial do fenômeno e levar a erros.”
Cópias impressas do manual serão disponíveis neste mês e podem ser solicidadas por e-mail aqui.
A Poderomedia realizou um evento no Chile para discutir o jornalismo de dados e o manual. Um outro evento acontece no dia 17 de outubro em Lima, Peru.
Jessica Weiss é uma jornalista com base em Bogotá, Colômbia.
Imagem: Captura de tela do website do manual.
O conteúdo de inovação de mídia global relacionado aos projetos e parceiros das Bolsas Knight na IJNet é apoiado pela John S. and James L. Knight Foundation e editado por Jennifer Dorroh.