MídiaLab: a formação jornalística que faltava em Moçambique

Dec 5, 2021 em Jornalismo básico
Alunos com câmera de filmar

O MídiaLab é um projecto jornalístico na cidade de Maputo, capital de Moçambique, na região da África Austral, que ajuda a realizar os sonhos de muitos jovens que querem ser jornalistas e bons comunicadores.

Em Moçambique, as escolas e universidades com cursos de comunicação carecem de recursos para disponibilizar aulas práticas aos estudantes. Os laboratórios têm pouco equipamento e material. E muitas vezes, esta situação dificulta a aprendizagem. É diante deste quadro, com o slogan: "Jornalismo aprende-se fazendo", que o MídiaLab tem um papel importante na profissionalização dos novos comunicadores. 

O MídiaLab complementa a formação de estudantes graduados desde 2017. No início, entre 2013 e 2016 não era imperioso que o estudante tivesse concluído o nível de licenciatura. Hoje o projecto aceita estudante de qualquer que seja curso de graduação, basta que a pessoa se interesse pela formação e passe pela seleção. 

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Programa gratuito

O programa de formação no MídiaLab é todo gratuito. Para fazer parte da formação, os interessados fazem inscrição através de uma plataforma digital. Respondem a um questionário sobre cultura geral. Quem sai com sucesso no questionário, passa por uma entrevista presencial. Se for bem na entrevista, o candidato é apurado para a fase de workshop, em que os formandos aprendem sobre iniciação ao jornalismo. Depois disso, são submetidos ao bootcamp, fase em que são treinados a escrever, filmar e editar. A formação dura 10 meses.  No total, já participaram do programa 200 candidatos. 

O MídiaLab é financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, sigla em inglês). O projecto tem equipamento audiovisual, por exemplo de filmagem e edição de vídeos, que algumas escolas de comunicação não têm. Rui Lamarques, diretor-executivo do Mídia Lab, destaca que: “O MídiaLab não é concorrente a instituições de ensino em comunicação. O projecto apenas faz um papel complementar”.

Mesmo em tempos de pandemia, o projecto está a funcionar, diga-se, no “novo normal”. O mais importante é obedecer ao protocolo sanitário estabelecido no país, que é o uso da máscara e não exceder a 100 participantes em lugares fechados e 250 em espaços abertos. 

Julieta Zucula, de 25 anos de idade, é, actualmente, jornalista da maior empresa de comunicação privada de Moçambique (Grupo Soico). Ela possui uma licenciatura em Jornalismo pela Universidade Eduardo Mondlane, a maior instituição do ensino superior do país.

No início da sua vida acadêmica, Julieta teve a sorte de ter passado pelo laboratório de jornalismo do MídiaLab, em 2015, onde fez um curso. “Foi a primeira experiência que tive no jornalismo para televisão. O desafio foi enorme, pois eu os meus colegas tínhamos de pensar em reportagens, mais do que fazer noticias”, diz Zucula.

Humanizar as notícias

No MídiaLab, Julieta aprendeu a humanizar as histórias que envolvem as pessoas. Para ela, o jornalista não se deve limitar ao simples trabalho de informar sobre um determinado assunto, mas também é importante que essa informação seja representativa.

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“Podemos fazer mil notícias, mas se nenhuma delas tocar a vida das pessoas, essa notícia de interessante tem nada. Não há nada melhor que contar a história de alguém numa notícia. É basicamente isso que levo até hoje”, conta Zucula.

Em novembro de 2020, as portas da maior empresa de media privada do país admitiu Zucula como efectiva e ela confessa que isso foi a realização de um dos seus sonhos.

Dália Langa, também jornalista no Grupo Soico guarda boas lembranças da sua passagem por MídiaLab. “A notícia é como uma novela ou um filme. Ela tem que ser bem escrita”.

Despertar o espírito crítico

O MídiaLab se preocupa em despertar nos seus formandos o espírito crítico e defende que ele não se perca dentro da classe jornalística, seja por razões pessoais ou mesmo por motivos políticos.

Omardine Omar é jornalista do jornal digital Carta de Moçambique, que em 2018, destacou-se em noticiar o caso das dívidas não declaradas, o maior escândalo financeiro avaliado em cerca de 2.2 mil milhões dólares, desde a independência do país.

Para Omar, o MídiaLab o ajudou a tornar-se um profissional de causas importantes. “Foi no MídiaLab que pude ver as várias facetas do jornalismo. Desenvolvi o princípio de que o jornalista tem que estar preparado para tudo”.


Foto: MidiaLab no Facebook.