Mídia digital pretende equilibrar representação étnica na Austrália

por Erin Cook
Oct 30, 2018 em Diversidade e Inclusão

"Masculinos, velhos e brancos" é uma forma de descrever os veículos de comunicação australianos nos últimos anos. Embora a proporção de australianos com pelo menos um dos pais nascidos no exterior continue a crescer, a mídia australiana ainda não parece muito diferente de décadas atrás.

As estatísticas da Screen Austrália ajudam a ilustrar isso: enquanto 32% dos australianos têm antecedentes de primeira ou segunda geração que não são anglo-celtas, de acordo com um relatório de 2016, pessoas de grupos de minorias compõem apenas 18% dos personagens principais em dramas de TV.

E quando falamos de notícias, a discrepância é ainda maior.

A recente aposentadoria da icônica âncora da SBS World News, Lee Lin Chin, mostrou como a representação é insustentável na mídia australiana. Anunciando sua aposentadoria em julho, depois de 30 anos, Chin, nascida na Indonésia e criada em Cingapura, recebeu uma série de homenagens em todo o país.

Nenhuma foi tão potente quanto a homenagem de jovens australianos e asiáticos que lamentavam a perda da voz australiana-asiática mais proeminente da mídia.

Uma nova voz

O que está claro para muitos jovens é que a grande mídia australiana não vai se diversificar sozinha. E aí entra o Liminal.

Em 2016, Leah Jing decidiu que era hora dos asiático-australianos conquistarem seu próprio espaço na mídia.

Toda segunda-feira, o site traz o perfil de um profissional criativo asiático-australiano, abordando a maneira como a raça, a política e a cultura se combinam no seu trabalho.

Os perfis, acompanhados por fotos impressionantes de Jing, se tornaram uma coleção da próxima geração de líderes criativos da Austrália. Entre os destaques estão a escritora e editora Elizabeth Flux, a roteirista e dramaturga Michelle Law e a estilista Amie Mai.

Chamando o Liminal de seu próprio “pequeno ato de resistência”, Jing usa os perfis para explorar questões frequentemente negligenciadas pela grande mídia australiana.

"Na última década, tenho visto um desejo crescente na mídia por mais diversidade, o que é realmente emocionante", diz ela. "Eu só posso esperar que o Liminal tenha tido uma pequena parte na mudança das percepções de asiático-australianos dentro do panorama da mídia australiana."

Remodelando percepções

A missão do projeto é criar um "espaço para a exploração, interrogação e celebração da experiência asiática-australiana". Jing é apaixonada por esses valores.

“Eu comecei o Liminal porque estava interessada em criar espaço para conversas com pessoas que são muitas vezes mal ou pouco representadas. Acho importante criar visibilidade e garantir que nossas histórias sejam contadas por nós, não para nós”, diz ela.

Com sede em Melbourne, o Liminal é parcialmente financiado por uma doação da VicArts, uma iniciativa do governo que oferece até US$44.000 para coletivos realizarem empreendimentos criativos. Para o Liminal, esse financiamento significa que o site seja livre de publicidade e permite que Jing pague seus entrevistadores e um diretor de design.

“Como editora, não sou remunerada e a equipe editorial trabalha voluntariamente”, diz ela, acrescentando que uma melhor representação motiva grande parte da equipe. “Eu acho que as pessoas querem trabalhar com o Liminal por causa do nosso ethos e visão para um futuro mais justo.”

Procurando por soluções

A doação também permitirá que o Liminal lance uma edição impressa no final deste ano.

Uma edição impressa fechará um grande ano para o projeto, que incluiu uma colaboração com o recém-criado escritório australiano do New York Times.

Jing assumiu o popular grupo do Facebook do New York Times Austrália por uma semana no final de maio para conduzir conversas baseadas em questões difíceis levantadas nas reportagens e artigos de opinião do jornal.

Ela usou o espaço para debater as frequentes questões no Liminal com uma grande audiência: quem pode reivindicar propriedade, o papel da Austrália branca no combate ao racismo.

“Foi interessante acessar um novo público, estar em conversa contínua com uma enorme gama de pessoas com quem não poderíamos entrar em contato”, diz ela.

Mas Jing espera que o Liminal não seja um projeto de longo prazo e que em breve se torne redundante.

"Eu gostaria de pensar que não precisaremos do Liminal, que nos tornaremos desnecessários devido a um aumento na representação ética da mídia através dos principais meios de comunicação, na tela, nos livros", diz ela.

"Se isso não acontecer, presumo que continuaremos fazendo o trabalho que fazemos melhor: trabalhar para uma melhor representação, apoiar, interrogar, elevar e celebrar a experiência asiática-australiana."

Imagem principal sob licença CC no Unsplash via rawpixel. Segunda image por Leah Jing.

Este artigo foi publicado originalmente no Splice e reproduzido na IJNet com permissão.