Lições dos vencedores dos prêmios de jornalismo de dados 2018

por Daria Sukharchuk
Oct 30, 2018 em Jornalismo de dados

Com mais de 600 inscrições de todo o mundo, o Prêmio de Jornalismo de Dados (DJA, em inglês) deste ano registrou um número recorde de matérias. Os 13 vencedores receberam um troféu e prêmio de US$1.801 durante a conferência da Rede de Editores Globais (GEN, em inglês), em Lisboa.

Todas as equipes enviaram vídeos curtos falando sobre seus projetos, que podem ser vistos aqui.

Cada um dos 13 vencedores ofereceu informações valiosas sobre tipos de histórias relevantes em diferentes regiões do mundo. Algumas das matérias vencedoras foram além do jornalismo clássico e experimentaram com o engajamento cívico, como a reportagem do site filipino Rappler, que ganhou o prêmio Semrush de Jornalismo de Dados do Ano.

Não só a equipe usou dados públicos sobre acidentes rodoviários, mas também fez uma pesquisa detalhada sobre segurança no trânsito nas Filipinas e trabalhou com a comunidade online através de um grupo no Facebook para criar um feed ao vivo sobre segurança no trânsito baseado nas mensagens de seus leitores. Foi a primeira organização a mapear acidentes de trânsito nas Filipinas e a criar um mapa de calor mostrando as estradas mais perigosas.

O projeto da Reuters "Life in the Camps" ganhou a Visualização de Jornalismo de Dados do Ano. A matéria foca nos acampamentos no sul de Bangladesh e faz parte de uma longa série de reportagens da Reuters sobre a crise dos refugiados de Rohingya.

"Os acampamentos são apenas um estágio dessa história maior, mas importante", disse Simon Scarr, vice-diretor de gráficos da Reuters. “A velocidade e a dimensão do êxodo criaram o maior e mais densamente povoado assentamento de refugiados do mundo”. Esse projeto, disse ele, vai mais fundo e tenta medir as difíceis condições de vida dentro dos acampamentos.

Essa matéria levou cerca de seis semanas para ser feita, com o apoio de dois editores gráficos e um editor de texto trabalhando no escritório da Reuters em Cingapura, além de jornalistas fotografando nos acampamentos.

A reportagem é baseada em dados de agências humanitárias, que forneceram as coordenadas exatas de GPS que permitiram mapear precisamente os acampamentos. Repórteres da Reuters em campo também visitaram e fotografaram os locais com as piores condições, o que serviu não apenas para verificar mas para esclarecer a história. As imagens mostram aos leitores que estes não são apenas pontos no mapa, mas pessoas reais que vivem nesses acampamentos.

De certa forma, esses dois projetos refletem as tendências presentes no jornalismo de dados hoje, que incluem trabalhar com conjuntos de dados cada vez maiores, como a reportagem da Reuters sobre campos de refugiados, e envolver mais os leitores, como foi feito no projeto #SaferRoads do Rappler.

Este ano, não foram apenas projetos específicos que foram premiados, dois jornalistas também receberam prêmios individuais com base em seus portfólios.

Um deles, Marie-Louise Timcke, ganhou o prêmio de Jovem Jornalista do Ano. Recentemente, ela se tornou diretora da equipe interativa do Berliner Morgenpost, um importante jornal da cidade de Berlim que é bem conhecido por seus projetos baseados em dados. Ela também é a fundadora do Journocode, uma iniciativa que ensina aos jornalistas habilidades essenciais em dados.

Marie-Louise comecou a trabalhar com dados em 2014, quando deixou seu curso de medicina molecular para estudar jornalismo, e fez um curso de estatística na universidade.

"De repente eu tive um montão de tempo livre e decidi fazer algo com isso", disse Marie-Louise. Ela estudou programação por conta própria e ensinou a outros alunos, e foi assim que o Journocode foi fundado.

"Felizmente, meu estágio foi um tédio", disse Marie-Louise. “Tão tedioso, na verdade, que tive tempo livre para tentar fazer meu primeiro mapa interativo, no qual passei uma quantidade de tempo impossível, tentando e falhando muitas vezes.”

Ela chegou ao Berliner Morgenpost primeiro como estagiária. Ainda está orgulhosa de alguns projetos que fez como estagiária: especialmente, de um chamado "Berlin an deiner Linie", que permite a espectadores ver como o perfil demográfico mudou em cada linha do transporte público de Berlim. Ela foi responsável pela limpeza dos montes de dados confusos para este projeto, uma tarefa que ela ainda gosta muito.

"Para um jovem jornalista de dados, acho importante fazer parte de um bom time e ser bom em uma habilidade básica", disse ela. “Para mim, foi encontrar os dados, limpá-los e trabalhar com o software estatístico. Para outra pessoa, isso pode ser visualização. E não se preocupe em falhar. Eu falhei nos primeiros dois anos aprendendo a trabalhar como jornalista de dados, mas ainda assim me diverti.”

Imagem sob licença CC no Unsplash via Ariel Besagar