Latinos nos EUA se informam mais por redes sociais e estão mais expostos à desinformação

May 24, 2024 em Combate à desinformação
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Latinos nos EUA que usam redes sociais em espanhol estão mais propensos a acreditar em desinformação quando se deparam com esse tipo de conteúdo, de acordo com uma nova pesquisa sobre os hábitos de consumo de notícias na comunidade latina.

Entre as falsas narrativas que se espalharam amplamente estão a "Grande Mentira", segundo a qual o presidente Joe Biden não venceu a eleição de 2020, conforme descobriram os autores da pesquisa, os professores Jonathan Nagler, codiretor do Centro de Redes Sociais da Universidade de Nova York e Marisa Abrajano, da Universidade da Califórnia em San Diego.

Os latinos são o maior grupo racial e étnico minoritário dos Estados Unidos, com mais de 60 milhões de pessoas vivendo no país atualmente. Porém, são poucas as pesquisas feitas para entender os hábitos de consumo de informação online dos latinos e como esses hábitos moldam suas opiniões políticas e comportamento. 

A lacuna de informação resultante limita a habilidade de partes fundamentais – políticos, acadêmicos, líderes de grupos da sociedade civil e diretores de veículos de mídia em espanhol (como eu) – de entender a diversidade desse grupo político que será uma das chaves na corrida das eleições de 2024 e além.

O estudo, intitulado Entendendo Hábitos de Mídia & Engajando Comunidades Latinas, é a maior e mais abrangente pesquisa sobre o assunto já publicada até hoje. Ela traz resultados esclarecedores que jornalistas devem considerar no seu trabalho de combate à desinformação entre comunidades latinas.

O estudo

Mais de 2.500 latinos nos EUA, incluindo números iguais de pessoas com maior domínio do inglês, maior domínio do espanhol e bilíngues, participaram do estudo, disseram os autores em um evento virtual de lançamento. As conclusões são resultantes de cinco pesquisas realizadas ao longo de um ano, bem como de informações analisadas a partir de dados de rastreamento digital no X (antigo Twitter), Facebook, YouTube e de navegação na internet.

Além dos resultados mencionados acima, o estudo confirma a hipótese que nós do Factchequeado vivenciamos em primeira mão e temos compartilhado com a nossa comunidade há muitos anos: os latinos nos EUA usam o WhatsApp muito mais que a população branca. Eles não só usam o aplicativo de mensagens para falar com amigos e família; eles também o utilizam para receber notícias e debater política e outras questões importantes em suas vidas.

Os dados são claros: enquanto 15% das pessoas pesquisadas que se identificam como brancas não-hispânicas disseram ter acesso a notícias via redes sociais, 57% dos latinos da pesquisa disseram fazer o mesmo. A porcentagem é ainda mais alta, e chega a 75%, entre os latinos que preferem consumir notícias em espanhol.

O estudo confirma que o Facebook continua sendo a rede social mais usada pelos latinos nos EUA. Essa população também é muito mais propensa do que americanos brancos a consumir notícias sobre política no YouTube – que não tem um programa implementado para combater desinformação em espanhol.

Considerando que a desinformação em espanhol nas redes sociais é bem menos monitorada que a desinformação em inglês, latinos que falam espanhol e contam com as redes sociais para se informarem podem, portanto, serem mais suscetíveis à desinformação política do que aqueles que usam redes sociais em inglês.

Consistente com as expectativas que os pesquisadores tinham no começo, o estudo descobriu que latinos que contam somente com redes sociais em espanhol tendem mais a acreditar em desinformação, incluindo as teorias da "Grande Mentira" ou do "Pare de Roubar", do que aqueles que usam como fontes de notícias redes sociais tanto em inglês como em espanhol. Os autores, Nagler e Abrajano, também confirmaram que os latinos se engajam mais em atividades políticas nas redes sociais do que americanos brancos, principalmente no WhatsApp. Além disso, os latinos são mais propensos que os brancos a acreditar em informações sobre a COVID-19 que eles veem circulando nas redes sociais e na internet.

De acordo com os dados de rastreamento digital analisados no estudo, os latinos também tendem mais do que brancos não-hispânicos a usar o YouTube como uma fonte de notícias e informação sobre política. Latinos que preferem usar o espanhol ou são bilíngues consomem uma quantidade semelhante de informação política e de fontes alternativas no YouTube. Pouco se sabe sobre essas fontes de informação alternativas no YouTube e quem está por trás delas. 

Lições

Quais lições essa pesquisa ensina para nós que somos jornalistas ou editores servindo comunidades latinas nos EUA?

Uma lição é que os latinos buscam informações políticas e se envolvem em debates entre si sobre o conteúdo mais do que a população branca. Os hábitos de consumo de informação mostram que as comunidades latinas não querem só notícias de entretenimento e esporte, uma narrativa que circulava frequentemente e foi perpetuada pela grande mídia por muitos anos.

Outro ponto importante é que o estudo mostra que nós temos que prestar atenção às escolhas de consumo de notícias da comunidade latina. Este passo é fundamental para nós que lideramos organizações de mídia em espanhol nos EUA e estamos nos esforçando mais do que no passado para informar as comunidades latinas com mais eficácia.

É importante que sejamos "primariamente sociais" como parte dessa estratégia, criando e adequando nosso conteúdo para os aplicativos de mensagens – o WhatsApp em particular – e redes sociais que nossas audiências usam para se comunicar e se informar.

Temos também que reconhecer que essa fronteira está mudando rapidamente: o TikTok já é usado por 50% dos adultos latinos, sendo a plataforma de rede social que mais cresce entre os latinos nos EUA.


Imagem principal por Sara Kurfeß via Unsplash.

Este artigo foi originalmente publicado pela IJNet em espanhol.