Na C2 Montreal, uma conferência para os pensadores criativos do amanhã, o futuro da mídia estava na mente de todos. Este ano, a conferência internacional inclui convidados como o cofundador do VICE, Suroosh Alvi, que assumiu riscos que valeram a pena, bem como editores e produtores da mídia tradicional que ainda estão tentando se adaptar.
Durante sua palestra, Alvi contou a história do VICE desde o seu início em 1994, em Montreal. Ele tinha acabado de sair de um tratamento de reabilitação e Quebec estava no meio de uma recessão econômica. Alvi estava confiante ao criar VICE, uma revista mensal gratuita em inglês em uma cidade de maioria francesa. Desde então, o VICE cresceu em uma empresa de mídia de vários departamentos. Viceland, o canal de TV da VICE Media, lançado nos EUA e no Canadá em fevereiro, em breve estará disponível em mais de 20 países.
"A história do VICE é uma história de sobrevivência, mas o que nos sustentou é que acreditamos que havia uma necessidade para ele", disse Alvi.
Conversações diversas e painéis de discussão abordaram componentes-chave para a mídia no futuro.
Elizabeth Tobey, chefe de engajamento de comunidade no Medium, destacou a importância de se conectar e envolver o público. Para Tobey, ter uma comunidade poderosa significa ter as pessoas dizendo "esta é a minha gente, aqui é onde está o meu lar". Seu conselho é abraçar dados -- mesmo se você estudou letras na faculdade como ela --, acrescentou.
O painel mais importante focou nos próximos passos que a mídia tradicional deve tomar para sobreviver no cenário de mídia em rápida mudança. A conversa foi mediada por Elizabeth Plank, editora da Vox Media, e incluiu Olivier Royant, editor-chefe do Paris Match; Guy Crevier, presidente do La Presse; Guy A. Lepage, apresentador de talk show; e Marie-France Bazzo, jornalista.
Três questões se destacaram durante esta conversa:
O problema da imprensa
Royant, que lidera o Paris Match, o equivalente francês da ex-revista Life, argumentou que a imprensa ainda é muito importante, especialmente no cenário da mídia digital.
"A revista é um objeto pessoal com uma experiência sensorial. Não há necessidade de se livrar desse objeto", disse ele.
Mas o sucesso do La Presse +, o primeiro jornal norte-americano a existir completamente na versão tablet durante a semana, também prova que leitores estão interessados em novas plataformas. Durante a semana, os leitores têm que acessar a versão digital disponível através de seu aplicativo para tablet, pois o jornal tem apenas uma versão impressa no fim de semana.
Crevier, presidente do La Presse, queria criar matérias mais ricas, com gráficos, mapas interativos, vídeos e fotos. A versão para o tablet também oferece análises valiosas para a redação La Presse.
"Quando tínhamos um jornal normal, era impossível saber que seção tinha sido lida e quanto tempo o leitor passava lendo-a", acrescentou.
Ele não é o único que fez a escolha de abraçar a publicação digital. Bazzo, uma famosa jornalista no Quebec, lançou sua revista no tablet para alcançar uma outra geração. Ela disse que também acha que o formato permite que ela seja mais criativa e flexível.
Informação demais: Como se concentrar em qualidade em vez de quantidade
Royant suspirou ao falar de um vídeo do BuzzFeed de uma melancia explodindo, que conseguiu mais de 800.000 espectadores durante sua transmissão ao vivo original no Facebook -- muito mais atenção do que qualquer artigo de reportagem séria teria alcançado.
"É frustrante", disse ele.
Ele disse que o jornal dedica uma grande quantidade de recursos para produzir reportagens sérias, mas a concorrência é dura na internet. Mas ele acrescentou que não é nova. Quando a revista Paris Match foi lançada após a Segunda Guerra Mundial, as pessoas não estavam interessadas em cobertura de guerra. Quando decidiram escolher uma foto de um casamento de uma atriz famosa para a capa da revista, as vendas aumentaram.
No entanto, ele disse que não desanima. Ele acredita que uma boa história será sempre uma boa história. "Os seres humanos não mudam e as emoções são fortes", disse ele.
La Presse, um dos jornais mais lidos do Quebec, tem orgulho de dizer que seus leitores agora gastam 40 minutos por dia no tablet consumindo notícias.
"Os meios de comunicação do futuro terão que ter um DNA forte", disse Crevier para a IJNet. Ele disse que La Presse está tentando diferenciar-se contando histórias com conteúdo rico. O editor-chefe do La Presse, Eric Trottier, acrescentou que seus jornalistas trabalham em equipes e colaboram com designers gráficos.
Como fazer dinheiro com a internet
"Criadores na web são mal pagos - ou nem mesmo pagos", disse Lepage, um famoso produtor e apresentador de talk show no Quebec. Quando um programa é feito para a web, recebe um quinto do orçamento da televisão tradicional, ele continuou. "No futuro da web, nós [criadores] precisamos ser respeitados e receber um valor justo."
Royant argumentou que para ganhar dinheiro, a mídia tem que prestar atenção a suas comunidades e criar lealdade a estimulá-los a assinar e pagar pelo conteúdo.
Clothilde Goujard é uma jornalista freelance com base em Montreal, Quebec.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Ville de Montréal