Um estudo descobriu que pelo menos sete em cada 10 mulheres jornalistas no Quênia foram assediadas online no decorrer de seu trabalho, um fato que as organizações no Quênia estão abordando através de treinamentos e outras medidas.
A pesquisa, conduzida pela Associação de Mulheres da Mídia no Quênia (AMWIK) e Artigo 19 da África Oriental, revela que os ataques comuns direcionados a mulheres jornalistas são cyberstalking, assédio sexual, stalking e uso não autorizado e manipulação de informações pessoais, incluindo imagens e vídeos.
As pesquisadoras coletaram dados através de questionários, entrevistas por telefone, monitoração online e publicações escritas. Sessenta e uma jornalistas da amostra de Nakuru, Nairobi, Kisumu e Mombasa participaram do estudo.
Abaixo estão algumas das descobertas:
- Setenta e cinco por cento das entrevistadas sofreram assédio online no decorrer do seu trabalho.
- A maioria das jornalistas usa Facebook (53,7 por cento), WhatsApp (86,4 por cento), e-mail (61,5 por cento) e a voz móvel (96,2 por cento) no seu dia-a-dia.
- Trinta e seis por cento das entrevistadas preferiram ignorar os ataques e não tomaram nenhuma ação contra os posts ou perpetradores.
- O assédio digital leva as mulheres a desistirem de usar a internet e, em muitos casos, a parar de trabalhar por algum tempo. Também altera os padrões de interação online das mulheres, pois às vezes evitam participar de discussões online por medo de serem atacadas.
- Hacking, stalking e ameaças são as formas mais comuns de assédio digital contra as mulheres.
- Cinquenta e quatro por cento das entrevistadas avaliam seu conhecimento sobre ferramentas e práticas de segurança digital como "bons" e 29 por cento como "passável". A maioria das ferramentas que as mulheres usam está embutida em seus dispositivos, incluindo senhas e bloqueios de tela.
Segundo o relatório, mulheres jornalistas "são vítimas por causa da natureza dos tópicos que abordam, como política, esportes, estilo de vida e sexualidade".
As pesquisadoras buscaram aumentar a conscientização sobre a violência online contra mulheres jornalistas, a natureza evolutiva das ameaças digitais e as intervenções necessárias para enfrentar os ataques.
O estudo também pesquisou tipos e padrões de assédio online contra mulheres jornalistas, além de formas de melhorar os mecanismos de denúncia dos ataques e políticas relacionadas.
Nas conclusões, as pesquisadoras incluíram recomendações para abordar o assédio online com base em suas conversas com mulheres jornalistas. Elas sugerem que as agências de mídia estabeleçam programas de aconselhamento para oferecer apoio psicossocial a jornalistas traumatizadas. Além disso, o estudo recomenda o desenvolvimento de políticas de violência sexual para fornecer mecanismos sensíveis ao gênero para lidar com o assédio.
A AMWIK também está capacitando mulheres jornalistas a combater o assédio online por meio de treinamentos de segurança digital.
Marceline Nyambala, diretora-executiva da AMWIK, enfatizou a necessidade de educar continuamente as mulheres sobre as ferramentas de segurança digital disponíveis, especialmente considerando a alta probabilidade de ataques direcionados a elas.
"Após o treinamento, jornalistas da costa (Mombaça) e Kisumu (oeste do Quênia) [deram] feedback positivo de que conseguiram minimizar os ataques empregando técnicas que aprenderam durante os treinamentos", disse Nyambala.
Ela também disse que uma abordagem multifacetada envolvendo meios de comunicação e polícia seria crucial para combater a violência online de gênero no Quênia e, posteriormente, aumentar a produtividade das mulheres jornalistas.
No relatório, as pesquisadoras levantaram a preocupação de que "xingamentos e comentários insultuosos tenham sido aceitos como norma, de modo que as mulheres que reportam esses casos são rotuladas como "frescas", mas afetam negativamente a produtividade das mulheres em seus locais de trabalho e como usam a internet. "
Winnie Miseda, editora online da Media 16 e beneficiária do treinamento anti-assédio online da AMWIK, disse que agora protege melhor suas informações pessoais e interação com estranhos.
"Eu sou mais cautelosa com quem eu respondo sempre que recebo mensagens no WhatsApp, para não me expor a ataques", disse ela. "Eu também não estou colocando mais informações sobre mim nas redes sociais."
Jael Lieta, uma repórter da NamLolwe FM baseada em Kisumu e também participante de um treinamento da AMWIK, disse que sua presença online mudou desde o curso. Ela não se envolve mais com possíveis invasores online.
"Engajar atacantes online aumenta a vulnerabilidade e, portanto, é importante ignorá-los", disse Lieta.
Outras formas de se proteger online, de acordo com Nyambala, incluem:
- Usar software certificado ou antivírus e mantê-los atualizados. Isso minimiza hacking ou vigilância.
- Configurar senhas complexas para impedir que estranhos acessem informações em dispositivos móveis que possam usar para ataques.
- Evitar postar informações subjetivas ou comentários sobre histórias publicadas.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Women of Color in Tech