Jornalistas apresentam ferramentas úteis para quem cobre COVID-19

por Marina Monzillo
Mar 15, 2021 em Reportagem sobre COVID-19
Ferramentas

Em parceria com a nossa organização-matriz, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), a IJNet está conectando jornalistas com especialistas em saúde e líderes de redação por meio de uma série de seminários online sobre COVID-19. A série faz parte do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.

Este artigo é parte de nossa cobertura online sobre COVID-19. Para ver mais recursos, clique aqui.


Depois de um ano de cobertura da pandemia, os jornalistas podem já ter suas listas de fontes preferidas sobre o assunto, mas diversificar nomes é sempre valioso. Pensando nisso, o Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde, lançou o Buscador de Experts, uma ferramenta gratuita para facilitar a descoberta de especialistas que sejam mulheres. São epidemiologistas, cientistas, divulgadoras científicas, biólogas e psiquiatras, entre outras dezenas de especialidades.

Os mais de 340 perfis são puxados do banco de dados do Science Pulse, uma plataforma que auxilia na pesquisa de conteúdo sobre ciência nas redes sociais. Convidamos seu criador e editor do Núcleo Jornalismo, Sérgio Spagnuolo, e também Bruno Fávero, editor do Radar Aos Fatos, serviço focado em detectar desinformação, para o webinar “Ferramentas para jornalistas que cobrem COVID-19”, realizado em 12 de março de 2021. 

Em breve, a IJNet vai compilar essas e outras ferramentas em uma página deste site para consulta. 

Veja a seguir os principais pontos da conversa. 

Science Pulse

  • “É uma ferramenta para achar ciência nas redes sociais, mas por trás, é mais que isso”, explicou Spagnuolo. O jornalista contou que o Science Pulse tem uma tecnologia de social listening e monitora as redes sociais por bom conteúdo, não só de ciência, apesar de estarem usando primeiramente para ciência. “O código é aberto, replicável, pode ser usado para outros tópicos, em parcerias, caso o jornalista tenha interesse em expandir o monitoramento que faz das redes sociais”, disse ele, acrescentando que o serviço tem também bot de Telegram, newsletter diárias e bot de Twitter - duas vezes ao dia, com os três principais tuítes das últimas 12 horas. 

[Leia mais: O que descobrimos ao acompanhar a comunidade científica nas redes sociais]

  • Os próximos passos são aumentar o marketing, aumentar o foco na ciência e construir novas plataformas em volta da ciência, por exemplo, de privacidade dos dados da saúde. No site, o usuário vê uma seleção de tuítes relevantes e pode definir a métrica de busca, como popularidade, vacina, assunto do dia, etc.  Estão começando a explorar o Facebook também. 

  • Spagnuolo comentou que muita gente usa o Science Pulse para fazer reportagens. “Nosso objetivo é que mais jornalistas usem, mas ela é aberta a todos. A taxa de engajamento que temos dos hard users é muito boa”.  Ele deu outros dados da audiência: são quase 5 mil usuários, 33% acompanham o Science Pulse no Twitter, um a cada quatro chegaram no site por recomendação e dois terços deles usam a ferramenta uma vez por semana. 

Radar aos Fatos

  • Fávero descreveu o Radar aos Fatos como “um núcleo de análise de conteúdo das redes, criado no ano passado, [que] surgiu da necessidade de entender e escrever sobre a desinformação de um ponto de vista mais amplo que o da checagem”. A ferramenta coleta posts sobre alguns temas e avalia para destacar os potencialmente de baixa qualidade. 

Leia mais: Dicas de como identificar, combater e neutralizar notícias falsas]

  • Na página inicial, o usuário pode escolher o tema: coronavírus ou judiciário. “No ano passado, fizemos também monitoramento das eleições”, contou o jornalista. Estão disponíveis números gerais dos últimos sete dias, palavras que mais aparecem nos conteúdos de baixa qualidade, as buscas que estão em ascensão sobre o tema, entre outros dados. As postagens que o Radar detecta estão separadas por plataforma. Há inclusive conteúdo de WhatsApp: a ferramenta monitora 129 grupos públicos de discussão política. No total, agrega em tempo real e classifica 200 mil publicações por semana.

  • A metodologia tem um fluxo de cinco passos: escolha de um tema para mapear, coleta nas redes sociais de termos gerais, limpeza e organização da base, análise metodológica por rede -- que ajuda a definir se considera conteúdo desinformativo ou não -- e uma nota final, de 1 a 10 (quanto mais baixa a nota, mais chance daquele conteúdo ser de baixa qualidade). 

  • A análise usa conhecimentos de linguística: são duas linguistas que estudam termos gerais ligados àquele tema e esse mapeamento de palavras é sempre atualizado, porque o jeito que as pessoas falam vai mudando. “Por exemplo, no começo, os posts tinham termos óbvios: coronavírus, pandemia. Com o passar do tempo, quando se fala de vacina, nem sempre se fala da pandemia, mas sabe-se que está relacionado a isso. Já ‘resfriadinho’ é um termo interessante, quando surgiu, era muito associado a campanhas de desinformação, depois ficou associado mais a críticas ao Bolsonaro”, exemplificou Fávero. 

  • Cada rede social tem cerca de 30 regras diferentes, que podem ser divididas em dois grupos: autoria e conteúdo. Em relação à autoria, leva-se em consideração se o site não tem informações de contato, tem comportamento automatizado e o nome do usuário no Twitter é formado por vários caracteres aleatórios, por exemplo. Em relação ao conteúdo, as métricas incluem o uso recorrente de caixa alta, a substituição de letra por caractere especial - para burlar algoritmos contra desinformação das plataformas--, tom alarmista e exagerado e pedido de doações ou compartilhamentos. “No WhatsApp, por exemplo, a gente usa combinação de emojis como sinais de desinformação. E a frase “passe adiante”, como pedido para compartilhar”. Fávero encerrou avisando que o Aos Fatos dá consultorias para empresas e está aberto a parcerias.


Marina Monzillo é jornalista freelancer com 20 anos de experiência em diversas áreas, como cultura, turismo, saúde, educação e negócios.

Imagem sob licença CC no Unsplash por Şahin Sezer Dinçer