Jornalista do mês: Veronica Dan-Ikapoyi

por Lindsey Breneman
Sep 30, 2019 em Jornalista do mês
Veronica Dan-Ikapoyi

Desde criança, a nigeriana Veronica Dan-Ikapoyi admirava os jornalistas de TV e foram eles que lhe inspiraram a se tornar jornalista.

“Quando pequena, não tinha certeza de que jornalismo se tratava de contar histórias. Eu ficava encantada ao ver as pessoas no ar falando. Isso me levou a entrar no jornalismo”, disse Dan-Ikapoyi. "Mas quando ingressei na carreira, comecei a ver que havia mais coisas a fazer."

Ela começou no rádio e logo depois mudou para a TV, onde se sentiu mais à vontade. Em pouco tempo, Dan-Ikapoyi se apaixonou por contar histórias e começou a perceber que as histórias ao seu redor estavam sendo ignoradas. Ela viu muitas mulheres sofrendo, mas as injustiças que sofriam não eram reportadas.

Em 2016, Dan-Ikapoyi cobriu a mutilação genital feminina (MGF) na Nigéria para o TVC News. Sua matéria mistura dados e entrevistas pessoais para mostrar o significado cultural e os efeitos nocivos da MGF. A reportagem acabou conquistando reconhecimento internacional depois de ter sido selecionada como finalista do Jornalista do Ano da CNN na África: uma oportunidade que ela encontrou na IJNet.

Dan-Ikapoyi viajou com outros finalistas para a África do Sul como parte da oportunidade. "Eu nunca esquecerei essa experiência", disse ela. “Mudou minha vida, porque eu conheci pessoas que estavam no campo fazendo um trabalho muito importante. Esse foi um dos pontos altos da minha carreira.”

Agora, ela é uma das apresentadoras do programa TVC Breakfast, onde cobre as manchetes diárias do país e entrevista especialistas e líderes nigerianos. Ainda assim, Dan-Ikapoyi entra em campo sempre que tem a chance de lançar luz sobre as histórias que sente que precisam ser contadas.

IJNet: Você é âncora de um programa popular nas manhãs, mas seu trabalho mais aclamado está em campo. Ainda encontra tempo para trabalhar como repórter de campo?

Dan-Ikapoyi: Fui contratada como âncora, mas descobri que adorava entrar [no campo] para fazer histórias de interesse humano. Então, tanto quanto possível, eu saio para fazer o trabalho. Recentemente, fiz uma matéria focada na migração e agora estou trabalhando em uma história sobre saúde mental.

Quando tenho uma ideia para uma história que sinto que a maioria das pessoas não está prestando atenção, eu a apresento aos meus chefes. Pode levar de dois a três meses, porque eu sou uma âncora importante no programa da manhã e não posso simplesmente sair, mas assim que me dão permissão, começo a trabalhar.

Dan-Ikapoyi discussing effects of the Nigerian border closure with economist, Harding Udoh, on TVC Breakfast.
Dan-Ikapoyi discutindo os efeitos do fechamento da fronteira com o economista Harding Udoh na TVC Breakfast.

Não apresentamos muitos jornalistas de TV como jornalistas do mês da IJNet. Quais são as vantagens do jornalismo de TV sobre, digamos, o jornalismo impresso?

O benefício é basicamente o fato de que as pessoas conhecem e veem você. Se amam o seu trabalho — se amam o que você faz — querem entrar em contato com você para trabalhar com você, o que lhe dá a oportunidade de fazer outras coisas. Quando você vai a algum lugar, abre as portas para você, especialmente se estiver em uma plataforma popular.

Por que você escolheu entrar no jornalismo?

Sou apaixonada por pessoas e adoro contar histórias. Quando tenho uma oportunidade, quero fazer o máximo que puder.

Odeio injustiça e odeio ver as mulheres sofrerem. Eu sei que as mulheres passam por muita coisa e não contamos histórias focadas nas mulheres e nos desafios que elas enfrentam, especialmente quando se trata de práticas culturais e coisas assim. Quando tive a oportunidade de fazer a história sobre a mutilação genital feminina, dei tudo o que pude.

Essa história me rendeu reconhecimento, mas há outros aspectos injustos quando se trata de mulheres que não são reportados como deveriam.

As mulheres sofrem para sair do país e sofrem com problemas de saúde. Quem está contando essas histórias e com que regularidade? Quanto mais contamos essas histórias, mais chegam na mente das pessoas e no governo, e mais coisas começam a mudar.

Por que você acha que as injustiças que as mulheres enfrentam não são contadas?

"O mundo é do homem", como dizem, e no espaço [da reportagem] essas histórias às vezes são vistas como "muito soft" porque falam de problemas "normais" que as mulheres enfrentam no dia a dia. As pessoas pensam: “O que há para falar?” 

Por outro lado, os jornalistas são encorajados a cobrir questões "fortes" para mostrar que podem fazê-lo. Assim, lidamos com outras questões e as histórias que envolvem mulheres são negligenciadas.

Você disse que enfrentou discriminação e assédio como mulher neste setor. Que conselho você daria a outras mulheres que tentam superar obstáculos semelhantes?

Primeiro, precisam ter confiança em si mesmas e precisam acreditar que são capazes de alcançar qualquer coisa. Também precisam ter muito conhecimento, porque um aspecto que pode ser usado contra elas é que alguém pode afirmar que não têm ideia do que estão fazendo. Leia amplamente, tenha conhecimento, tenha confiança e esteja pronta para enfrentar qualquer tópico ou tarefa.

Que conselho você daria para aspirantes a jornalistas, especialmente quem quer ingressar no jornalismo de TV?

Eles devem se abrir para o aprendizado. Eu já vi muitas pessoas quererem aparecer na TV imediatamente, mas existe um processo, e esse processo o fundamenta como jornalista. Se você não estiver bem fundamentado, não poderá exalar confiança.

Aprenda o processo de produção. Aprenda a pesquisar, porque a transmissão tem tudo a ver com informação. Aprenda a escrever roteiros e fique atrás da câmera. Pode ser desafiador e difícil ou irritante. No entanto, este trabalho não é apenas sobre estar na TV, é sobre o que você pode oferecer enquanto está na TV.

Como jornalista de TV, às vezes você precisa improvisar sobre notícias ao vivo e, se você não tem o conhecimento prévio, o que vai dizer? Eu aconselharia a seguir o processo e abrir sua mente para aprender tudo o que puder, para quando chegar a hora, nunca parecer incompetente.


Todas as imagens são cortesia de Veronica Dan-Ikapoyi.