Para a jornalista indiana Sonali Kudva, acadêmicos e jornalismo andam de mãos dadas.
Atualmente, ela é estudante de doutorado em comunicação na Universidade de Kent State, em Ohio, Kudva está investigando as conexões entre o cinema de Bollywood, a cultura indiana e a diáspora indiana em todo o mundo.
"Eu não me considero uma acadêmica de verdade, mas, também, a maioria dos jornalistas na academia não é", disse ela. "Acho que o meu trabalho e formação como jornalista definitivamente me ajudam a escrever de forma concisa e clara."
Como jornalista, seu trabalho muitas vezes destaca as dificuldades dos indianos que vivem no exterior, particularmente nos Estados Unidos. Quando não está estudando, ela trabalha como editora assistente da Brown Girl Magazine, uma publicação online produzida por e para as mulheres do sul da Ásia.
"Um dos maiores desafios que tenho encontrado como um profissional de jornalismo é o viés inerente contra jornalistas de cor nos Estados Unidos", disse ela. "Espero fazer o meu melhor para aumentar a conscientização sobre esta questão."
Kudva conversou por e-mail com a IJNet sobre suas experiências de reportagem na Índia e o trabalho como acadêmica e jornalista nos Estados Unidos:
IJNet: Como você usa a IJNet?
Kudva: Eu acompanho as muitas oportunidades e bolsas de estudo disponíveis na IJNet regularmente. Eu também uso a IJNet para obter informações sobre oportunidades para enviar aos meus alunos. Sinto-me encorajada pela quantidade, especialmente para as mulheres. Mas eu percebo que não há que muitas da Ásia. Isso me faz pensar sobre a reportagem 'grassroots' desses países. Será que existe? Como as pessoas desses países podem ter acesso ao financiamento de que necessitam?
Conte-nos sobre a matéria mais desafiadora que você fez até agora. Que medidas você tomou para ter sucesso?
Eu diria que a tarefa mais desafiadora que eu já fiz foi para o Pulitzer Center for Crisis Reporting em 2009. Quando eu olho de novo para o meu trabalho, me dá vontade de revisá-lo. Eu fui uma das primeiras bolsistas estudante do programa [e] tive que trabalhar sob algumas condições não ideais. Houve alguns problemas de linguagem. A reportagem de mídias sociais também foi um problema, pois a Índia não tinha qualquer tipo de cobertura 3G na época. Ainda assim, considero essa reportagem um sucesso. Espero ter a oportunidade e o tempo para fazer algo assim novamente.
O problema de projetos como esses é que muitas vezes se perdem na cobertura da mídia, mas não deveriam. Histórias que afetam comunidades e indivíduos são importantes para assegurar a diversidade.
Como a indústria de jornalismo nos Estados Unidos se compara com a da Índia?
Jornalistas têm um poder considerável na Índia. Não há um monte de dinheiro (ou não havia) em jornalismo, mas os jornalistas são mais respeitados do que nos Estados Unidos. E apesar de ter alguns anos que eu trabalhei em uma organização de mídia indiana, minha percepção é que a mídia e os jornalistas (pelo menos a maioria deles) consideram o jornalismo como uma forma de serviço social. Há um elemento de ativismo social em um muito dele.
Outra coisa que noto é o pouco interesse em cobertura global nos Estados Unidos. Há bastante foco em notícias locais, mas muito pouco sobre eventos e análise dos assuntos internacionais. Isso é uma pena, na minha opinião, porque nestes tempos globalizados, é imperativo ter essa compreensão e consciência.
Você escreveu ensaios pessoais sobre os desafios que enfrentou como indiana que mora nos Estados Unidos. Como o seu trabalho na Brown Girl Magazine confronta esses desafios?
Meu trabalho voluntário e experiência na Brown Girl Magazine é algo que prezo muito. Sul-asiáticos estão sub-representados nos meios de comunicação norte-americanos e em outras esferas públicas. [Sul-asiáticos] às vezes também podem ser bastante divididos como comunidade. A Brown Girl Magazine fornece para as mulheres do sul da Ásia um espaço seguro para se expressar e discutir assuntos relevantes.
Grande parte do meu trabalho é nos bastidores, pois trabalho como editora assistente. No entanto, ocasionalmente fico inspirada o suficiente para escrever artigos de opinião sobre questões que me motivam fortemente. Meu primeiro artigo veio na esteira do lançamento de "India's Daughter" (Filha da Índia), um documentário sobre um caso de estupro hediondo na Índia.
Finalmente, a minha convicção é que organizações como Brown Girl Magazine e outras similaras a ela, são importantes na formação da percepção do público e cobertura da mídia. Minorias e comunidades tradicionalmente sub-representadas precisam de espaços para a expressão e, no mundo digital, elas podem encontrar esses espaços. É empoderador também.
Imagem cortesia de Sonali Kudva