Ele (ainda) não recebeu nenhum prêmio, nem tem a fama ou o prestígio de grandes nomes do jornalismo brasileiro. Mas Rafael Pinheiro vibra ao falar sobre o trabalho jornalístico e da busca por estar sempre aprendendo. Assim, ninguém duvida que ele vai chegar lá.
Pinheiro tem apenas 20 anos e mora em Salinas, no norte do estado brasileiro de Minas Gerais. Uma cidade com cerca de 40 mil habitantes, conhecida pela produção de cachaça. Ele vive com os pais e tem dois irmãos.
A cidade de Salinas não dispõe de uma faculdade de jornalismo e Pinheiro não tem recursos financeiros para pagar o curso em outro lugar. Quando terminou o ensino médio há 2 anos, ele resolveu buscar sua própria maneira de atuar em comunicação.
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Ele criou a “TV Central N - Jornalismo” no Youtube. E explica que o “N” vem da palavra “notícia”. Ele é o apresentador e conta com o suporte de amigos, apaixonados por jornalismo. Pinheiro também trabalha como locutor numa rádio da cidade. Fã do conteúdo da IJNet Português, ele está sempre no nosso Instagram e acompanha as oportunidades e dicas profissionais que possa aproveitar na prática.
De onde vem a sua paixão pelo jornalismo?
Quando criança, eu sempre preferi lápis e papel do que brinquedo. Adorava relatar histórias. Eu tinha uns 9 anos quando uma amiga perguntou o que eu queria fazer na vida e eu disse: jornalismo, mas não daqueles que vendem jornal. Esta amiga lembra até hoje que eu inventei a apresentação de um telejornal inteirinho pra ela. Sempre gostei de acompanhar as informações, de assistir telejornais, de saber o que acontecia no mundo. Eu lembro de uma apresentadora que marcou a minha infância, a Laura Lima, eu queria ser como ela. Uma das coisas boas das redes sociais hoje em dia é o contato que eu posso ter com muitos jornalistas e a chance de trocar figurinha com eles.
Como é o seu trabalho?
Eu apresento um programa musical diário numa rádio e sempre dou um jeito de inserir notícias que apuro. O canal no YouTube, mesmo sem rendimento financeiro, eu levo a sério. Claro que nem todos os dias conseguimos entregar aquilo que a gente gostaria. Tento fazer meu melhor. A TV Central N estreou oficialmente em 16 janeiro deste ano. Comunicação é um trabalho de equipe e somos muito unidos. Sem meus colegas, especialmente o Leonardo Henrique e o Pedro Dutra, nada seria possível. Nós produzimos o Edição Brasil, que é um jornal com o resumo das principais notícias do dia, com foco em política e economia brasileira. De vez em quando fazemos vídeos com notícias locais, boletins curtos ou contamos boas histórias. Uma coisa da qual nos orgulhamos foi noticiar um período crucial da pandemia no Brasil: os depoimentos da "CPI da COVID-19”, no Senado Federal.
Como você consegue produzir jornalismo mesmo sem dispor de muitos recursos financeiros e técnicos?
Produzir conteúdo não é nada fácil. Por sermos um grupo de jovens e não uma empresa, tudo é ainda mais desafiador. Sem criatividade é impossível chegar ao resultado que nós chegamos. São vários desafios, um deles é o fato de não termos muita estrutura. Fazemos tudo com celular. Aliás, recentemente o meu celular estragou e tivemos que parar por um tempo. Uma dificuldade diz respeito às imagens. Como não somos uma agência de notícias, é complicado ter acesso a material que eu possa veicular. Já na parte técnica, de vinhetas e trilhas, a gente já evoluiu muito. Outra dificuldade que espero superar é o tempo gasto para editar os vídeos. Além disso, observo bastante a maneira de cada apresentador de telejornal se comunicar com seu público. Acho o máximo os bordões que eles usam para dar ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e ‘boa noite”. Tento imprimir o meu jeito de fazer isso.
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De que maneira o website da IJNet colabora para a sua formação?
Já faz alguns anos que assinei a newsletter do IJNet, fiquei um tempo sem acompanhar, mas agora estou voltando a olhar com maior frequência os conteúdos. Sempre foi um lugar para ver bastidores da profissão, como as pessoas estão trabalhando, as melhores ferramentas. É um espaço muito útil pra mim ou estou sempre mandando para algum amigo algo que possa servir a ele também. Recentemente participei do Congresso da Abraji e também fiz dois cursos online deles.
Qual o seu maior sonho?
Meu sonho mesmo é poder ser um jornalista formado. Mesmo não sendo obrigatória a graduação em jornalismo no Brasil para exercer a profissão, eu não me considero jornalista ainda. Só vou me considerar jornalista quando eu tiver o diploma. Hoje eu digo que sou "comunicador, apresentador/locutor e futuro jornalista". Eu acho muito importante o conhecimento que se adquire numa faculdade. Eu pretendo driblar as dificuldades, principalmente as financeiras, e me tornar um jornalista formado, trabalhar no telejornalismo e apresentar um jornal numa grande emissora. Fico muito honrado com este espaço na IJNet. Acho que, com este artigo, acabo sendo escolhido para representar uma geração inteira de jovens que ama o bom jornalismo, que quer atuar nessa área, que dribla dificuldades e segue lutando.
Foto: Arquivo pessoal Rafael Pinheiro