Segundo o jornalista paquistanês Amar Guriro, tem sido difícil para os repórteres de seu país acompanhar o cenário de notícias em rápida evolução. Um jornalista ambiental multimídia, Guriro credita seu sucesso a uma bolsa que descobriu através da IJNet há uma década.
"Tornei-me jornalista digital graças a esse treinamento", diz Guriro. "E isso mudou toda a minha vida."
Seu interesse pelo meio ambiente tem uma conexão pessoal. Por ter crescido no deserto de Thar, que se estende ao longo da fronteira Índia-Paquistão, Guriro testemunhou em primeira mão como os períodos de seca resultaram em fome e sofrimento.
"Eu cresci nessa área, então o meio ambiente sempre foi do meu interesse", disse Guriro. "Quando comecei a trabalhar como jornalista, decidi que ia cobrir o meio ambiente."
Hoje, Guriro é correspondente do The Independent Urdu, a edição paquistanesa do The Independent London, em Karachi. Nos últimos cinco anos, ele também escreveu seu primeiro livro, que examina os efeitos das mudanças climáticas no Paquistão.
Conversamos com Guriro sobre seu trabalho em jornalismo ambiental, as dificuldades que os jornalistas paquistaneses enfrentam e seus conselhos para repórteres no campo.
IJNet: Quais são alguns dos desafios que os jornalistas enfrentam atualmente no Paquistão?
Guriro: Hoje estamos enfrentando um momento difícil para a mídia paquistanesa, e muitos meios estão fechando. Meu jornal anterior, o Daily Times, fechou seu escritório em Karachi, e muitos canais de TV também acabaram.
Há também a questão de cortes no orçamento. Recentemente, o jornal em inglês Dawn cortou 40% do salário de toda a equipe. Em Karachi, mais de 2.000 jornalistas estão desempregados devido a demissões em diferentes meios de comunicação. Os jornais frequentemente também não conseguem pagar jornalistas a tempo. Quando estava no meu jornal anterior, eles não me pagaram por quatro a cinco meses seguidos.
Finalmente, se você falar sobre os problemas que as pessoas da mídia enfrentam — como jornalistas ou redações — o maior é a falta de treinamento e atualização. Jornalistas paquistaneses não aprendem jornalismo moderno. Eles geralmente não sabem como fazer jornalismo digital.
Amar Guriro, como bolsista do CCMP, trabalha na sala de imprensa da COP24 em Katowice, na Polônia, em dezembro de 2018.
IJNet: Você disse que a bolsa do ICFJ foi um momento decisivo em sua carreira. Por quê?
Em 2009, eu estava procurando por diferentes bolsas na IJNet. Encontrei o programa de reportagem entre culturas do ICFJ: liberdade de expressão no programa da era digital. Eles nos levaram ao Nepal e ensinaram o básico do jornalismo online e digital.
Logo depois, lancei meu próprio site pessoal. Comecei a me mostrar como jornalista ambiental e jornalista digital naquele site. Isso me ajudou a trabalhar como freelancer.
Eu também comecei a trabalhar com fotografia e videografia. Eu me preparei para o cenário em mudança da mídia. Eu não acho que muitos jornalistas paquistaneses tenham suas assinaturas em 30 meios de comunicação. Eu aprendi muito, eu sobrevivi a tempos difíceis.
IJNet: Como você integra multimídia em suas reportagens?
No Paquistão, quando o cenário da mídia começou a mudar, todos os jornais migraram para o online e precisavam de vídeos e fotos com histórias. Eles queriam jornalistas que tivessem habilidades em todas essas coisas. Não podiam pagar por um cinegrafista, depois um editor, depois um fotógrafo. Não podiam contratar um exército para escrever as notícias. Eles estavam procurando qualquer jornalista que tivesse todas essas habilidades, para que ele ou ela pudesse reportar todos esses aspectos.
Se você é jornalista, precisa olhar ao redor. Se estão mudando e você não muda, seu jornalismo morre.
Crédito da foto: Saif Jiskani
IJNet: Quais são alguns dos desafios que você enfrenta ao fazer jornalismo ambiental?
O Paquistão tem habitats entre os mais vulneráveis às mudanças climáticas. Por exemplo, há poluição nos rios. Há secas em nossa área deserta. Há inundações urbanas, poluição plástica, poluição do ar, desmatamento e desastres naturais.
Para cobrir esses problemas, você precisa de dinheiro para ir a essas áreas. Mas a mídia paquistanesa, que não está pagando os salários dos jornalistas, não pode arcar com os custos de viagem para ajudar jornalistas a ir para essas áreas. Para reportagens ambientais, preciso de dinheiro para entrar no campo para apurar as histórias e voltar à redação. Sempre encontro dificuldades em negociar com os meios de comunicação e explicar que essas não são histórias rotineiras de Karachi.
IJNet: Como você supera esses obstáculos?
Quando eu proponho pautas, sempre começo explicando a importância da questão: por que [os meios de comunicação] deveriam cobri-la. Eu falo sobre por que essa determinada história é muito importante para o seu jornal, para o seu leitor e para toda a região.
IJNet: Como você explica o impacto de suas reportagens ambientais para as pessoas que as estão lendo?
O Paquistão tem problemas complexos. Se você puder explicar a situação atual da degradação ambiental e os efeitos no futuro, a matéria será legível. Se você puder explicar esses efeitos, contar histórias interessantes e compartilhar seu trabalho online como jornalista ambiental, o mundo chegará até você, mesmo se você mora no Paquistão.
IJNet:Você conseguiu encontrar vítimas das mudanças climáticas e da crise da água para mostrar os impactos humanos. Como você encontra essas pessoas?
Eu acho que sou diferente dos outros jornalistas aqui por não ir e apenas fazer perguntas às pessoas. Passo algum tempo em uma área, dois ou três dias, para absorver o que está no ar e observar como as pessoas são afetadas. Então eu falo com elas. Eu descubro qual é a melhor história e quem é a melhor pessoa para conversar. Eu passo muito tempo no local. Converso com a comunidade, converso com as pessoas e tento entender a vida.
Como em Rehri Goth, um assentamento de pescadores ao longo da costa de Karachi, estabelecido por migrantes climáticos do delta do rio Indus. Os pescadores migraram de suas aldeias nativas na esperança de um futuro melhor, mas mesmo neste novo local, suas casas estão submersas. Passei um dia inteiro lá e, à noite, soube que eles tiveram que fazer banheiros suspensos. Então eu percebi, se você está grávida, como vai ao banheiro? Se você tem problemas de mobilidade, como vai ao banheiro? Se você é criança, como vai para lá? Então, apenas escrevi essa história, e isso foi de partir o coração para todo mundo.
Banheiro suspenso. Imagem cortesia de Amar Guriro
IJNet: Que conselho você daria para aspirantes a jornalistas que tentam entrar nesse campo?
Eu diria a eles que esse não é um trabalho das 9 às 5. É uma paixão. Quando você está apurando uma história que precisa entender, qual é a história? Quem é afetado? Quem é o herói da história?
Você deve começar com uma editoria, porque ainda trabalhará em quase todos os assuntos, mas terá experiência em um assunto e poderá se mostrar como tal.
Aprenda habilidades modernas. Aprenda a fazer jornalismo digital, caso contrário, você não sobreviverá no campo.
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Imagem principal cortesia de Abhaya Raj Joshi. Esta entrevista foi resumida.