Iniciativa para o Diálogo Político: Antecedentes sobre Mercados de Capitais

por Anonymous
Oct 30, 2018 em Temas especializados

por Catherine McKinley

Os mercados de capitais são aqueles nos quais o capital acionário (ações) e dívidas (títulos) são comercializados. Se é que existem nos países menos desenvolvidos, eles são tipicamente pequenos. Lá, a maior parte do financiamento para ajudar as empresas a crescer é feita através de financiamento bancário ao invés do mercado de ações. Durante a última década, surgiu um mercado de capitais de “mercados emergentes.” Sediado primariamente em Nova York e Londres, esse mercado tem permitido que os governos de países em desenvolvimento (“soberanos”) consigam ter acesso aos mercados de capitais internacionais.

Os mercados de ações de países emergentes são normalmente pequenos porque as empresas preferem levantar dinheiro nos bancos ao invés de vender suas ações. Uma oferta de participação acionária iria forçá-las a oferecer um grau de transparência maior do que seria, de outra maneira, necessário, tornando seus gerentes responsáveis diante dos acionistas, algo que nem todos os gerentes gostam! Títulos corporativos são raros se uma empresa ainda não vendeu suas ações.

Quando os mercados de ações começam a atuar num país menos desenvolvido, normalmente eles têm um pequeno número de empresas listadas no pregão, funcionando em horas limitadas e sob regras que determinam quanto os preços das ações podem subir ou cair num determinado dia. Geralmente, divulgar resultados é um problema, uma vez que as empresas mais frequentemente do que as não controladas por famílias não estão acostumadas a revelar os detalhes de suas finanças. E uma vez que os mercados apresentam uma alta liquidez, eles tendem a ser voláteis. Além disso, a fragilidade dos mercados como um todo leva à escassez daquela multidão de instituições típicas de mercados de países ricos, como analistas, que fornecem informações aos potenciais investidores, são escassos. Isso reforça o círculo vicioso associado à informação assimétrica.

Existe uma série de outras razões pelas quais países em desenvolvimento não têm mercados de ações (como o Laos, Somália ou Sudão) ou têm pequenos mercados (Vietnã, Equador) comparado ao tamanho da economia. Juntos, baixo crescimento econômico, alta inflação e baixa taxa de poupança desencorajam a criação de mercados fortes. Da mesma maneira, frágeis regulações sobre investimento, leis de falências inadequadas e falta de proteção para os investidores também prejudicam o desenvolvimento de robustos mercados de capitais em países em desenvolvimento e de transição.

A maioria dos economistas dizem que a criação de um mercado de ações ajuda o crescimento econômico como um todo por:

Dar às empresas uma alternativa fora do sistema bancário através do qual elas possam levantar capital para investir. Tradicionalmente, o financiamento do mercado de capitais, quando os mercados de capitais estão indo bem, é ao mesmo tempo mais barato e mais longo do que os empréstimos bancários.

Trazer a poupança privada para a arena pública aonde ela pode ser usada eficientemente.

Aumentar a responsabilidade corporativa.

Facilitar o influxo de capital externo.

Para tirar proveito desses benefícios, países menos desenvolvidos trabalham no planejamento para a criação de um mercado de ações. O Camboja é um deles. Geralmente, o Banco Mundial e o FMI consideram o mercado de ações importante e pressionam os países a criá-los. Empresas financeiras estrangeiras beneficiam-se da criação de novos mercados acionários e também envolvem-se no processo; os bancos japoneses forneceram assistência ao Vietnã quanto ele criou seu mercado de ações aberto em Saigon em julho de 2000.

Entretanto, se a maioria dos economistas concorda que os mercados de ações ajudam os países a se desenvolverem, muitos concordam também que isso não é uma prioridade. Afinal, mesmo nos Estados Unidos e Reino Unido apenas uma pequena fração dos novos fundos para investimento são levantados através do mercado de ações. Logo, em termos de desenvolver novos negócios, é muito mais importante ter um sistema bancário forte. Mas se é que um mercado de capitais robusto não vai ajudar muito o desenvolvimento de um país, por outro lado, ter um mercado de ações insuficientemente regulado e propenso à corrupção e ao abuso certamente irá causar graves problemas – os esquemas pirâmide no leste europeu enquadram-se nessa categoria.

Certamente não será fácil promover as reformas legais exigidas para criar um mercado de ações efetivo. Em particular, criar um mercado de ações antes que existam proteções efetivas aos acionistas é um convite ao desastre ao final do caminho: se houver abusos, e eles são frequentes, então haverá uma reação contrária aos mercados de capitais que poderá ser de longa duração. Mesmo quando as reformas necessárias são feitas, as empresas maiores e mais bem-sucedidas, aquelas com boa governança corporativa, capazes e dispostas a atender aos padrões dos países mais avançados, provavelmente vão querer ser listadas nas maiores bolsas do planeta, o que significa que as empresas menores continuarão a dominar as bolsas locais. Empresas que querem ser listadas nos EUA podem fazê-lo emitindo os American Depository Receipts (ADRs) que são listados na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e na NASDAQ, a bolsa especializada em ações de empresas de alta tecnologia.

Os mercados de títulos, através dos quais a dívida de empresas e de governos é vendida e comercializada, tendem a desenvolver-se domesticamente antes que os devedores tentem levantar dinheiro no exterior. Existem boas razões para isso: tipicamente, eles têm que tomar dinheiro emprestado em dólares e outras moedas fortes, vendo-se forçados a carregar o risco de oscilações na taxa de câmbio. Além disso, normalmente os mercados cobram um prêmio muito alto. Governos de países menos desenvolvidos podem desvencilhar-se dos riscos associados à venda de dívida internacional - ainda que frequentemente vendam títulos de curto prazo do tesouro - levantando boa parte dos fundos para investir no desenvolvimento do país através de empréstimos em condições bastantes favoráveis, obtidos junto a doadores como o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, bancos de desenvolvimento regional e doadores bilaterais. Entretanto, às vezes esse dinheiro é condicionado a promessas de reformas econômicas e pode ter o seu escopo limitado.

Cobertura do Mercado de Capitais

Ações, ou capital acionário, representam a propriedade de uma empresa. Apesar de ser possível comprar e vender ações que não estão listadas numa bolsa (veja abaixo transações off-market), muitos investidores acham mais fácil atuar através de uma bolsa de ações em função do alto grau de transparência corporativa exigido das empresas listadas e em função das rígidas regulações que normalmente acompanham uma transação realizada na bolsa. Além disso, uma transação feita através da bolsa também oferece aos investidores uma forma de poder lidar com altos os custos e a burocracia relacionada a questões como acordos, entregas e sistemas de pagamento. Quando um país menos desenvolvido lança a sua bolsa de valores, pode ser que ela se diferencie daquelas de países mais desenvolvidos das seguintes maneiras:

Influência governamental - Em países menos desenvolvidos, os governos tendem a “micro-administrar” a sua economia e isso pode refletir-se no mercado de ações. Quão independente é a bolsa de valores de seu país e o corpo regulatório que a governa? Será que o governo tenta influenciar os negócios? Em caso positivo, como?

Regulação e fiscalização - Alguns reguladores de países emergentes impõem muito poucas regras nas transações acionárias na época da abertura dos mercados para atrair especuladores e empurrar os preços para cima. A China fez isso no começo da década de 1990 e viu um crescimento fenomenal em suas duas bolsas de valores. Entretanto, muitos investidores acabaram se dando mal durante o inevitável crash que seguiu-se a cada fase de euforia (ou “bull rush,” em inglês), e agora a China está tentando apertar o seu ambiente regulatório. A longo prazo, os negócios migram para os mercados melhores regulados. Isso talvez explique porque outros países, como Vietnã, Egito e, num grau menor, os países da Europa central, tomaram o caminho oposto, impondo regras estritas desde o início. Qual é a moldura regulatória no país que você cobre? O que é relevante não são as regras regulando os negócios em si, mas aquelas que têm a ver com governança corporativa, proteção dos acionistas minoritários e os direitos de voto. Por exemplo, a NYSE tem regulações que restringem fortemente as ações sem direito a voto. Que impacto essa moldura terá no sentimento do investidor e na disposição e capacidade das empresas serem listadas? Seja lá quais forem as regras, muitos países menos desenvolvidos não dispõem de infra-estrutura administrativa e legal para fazer com que elas se cumpram. Preste atenção à desobediência às regras: quem está passando por cima delas, as empresas listadas ou os investidores? Será que o seu regulador está tentando consertar a situação? Quão efetivo é ele?

Limites sobre os negócios - Alguns mercados menos desenvolvidos irão impor limites sobre vários aspectos dos negócios. Eles podem incluir: o grau em que o preço da ação possa cair/subir a cada dia; o número de ações que um investidor pode comprar numa única operação ou possuir de uma única empresa listada; o grau de acesso que investidores estrangeiros terão ao mercado; etc. Essas regras servem para muitos propósitos, como limitar a volatilidade do mercado, evitar que alguém monopolize o mercado e garantir a existência de um nível mínimo de atividade que assegure a realização de negócios.

Tipos de ações oferecidas - Enquanto a maioria dos países mais desenvolvidos permitirá a qualquer empresa que tenha cumprido as exigências de listagem participar do pregão, países menos desenvolvidos têm prioridades específicas de desenvolvimento e podem vir a impor regras que determinem que tipos de empresas podem ou não ser listadas. Você deve considerar se esse tipo de empresas autorizadas a serem listadas irão atrair os investidores. Em caso negativo, por que não? Em economias de transição, você deve também perguntar qual é a porcentagem, se alguma, que o governo virá a reter do controle de uma empresa listada. Na China, o governo possui uma maioria de 51% na maior parte das empresas listadas (que geralmente são empresas estatais parcialmente privatizadas) e portanto retém a maioria dos direitos votantes. Mas mesmo se o governo retém o controle majoritário, ele pode vir a não exercer tais direitos, deixando a administração para a empresa, ou ele pode vir a intervir apenas através de membros nomeados para o Conselho. Apure a experiência que o seu governo tem e o impacto do “controle” por ele exercido. Cada vez que uma empresa é listada, você terá uma penca de novas matérias: de que tipo de empresa se trata? Como ela está se preparando para o seu début? Será que ela vai vender ações através de uma oferta privada ou será que promoverá uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês)? Que tipo de interesse ela está despertando na comunidade investidora? Geralmente as IPOs são emitidas com um desconto substancial, permitindo um negócio extremamente vantajoso a quem tem sorte o bastante, mas tirando, por outro lado, o dinheiro que deveria pertencer aos acionistas mais antigos. Qual é magnitude do desconto da IPO? Quem leva o bônus?

Bancos de Investimento - Nos países mais desenvolvidos, os bancos de investimento têm um importante papel na emissão de ações (títulos e outros valores). Antes da criação das bolsas, eles ajudaram a “construir o mercado.” Ou seja, eles juntaram de um lado os fornecedores de ações (empresas que precisavam do capital) e de outro os fornecedores de fundos (potenciais investidores). Hoje, os bancos de investimento continuam a ter um importante papel, informando ao emissor das ações como e quando emitir valores, e sobre como “colocar” tais valores, ou seja, encontrar compradores. Muitos acreditam que eles ajudam o mercado fornecendo serviços certificados, ou seja, os investidores são mais propensos a comprar ações emitidas por um respeitável banco de investimentos que aconselha a empresa sobre o preço “justo” para emitir as ações. Em muitos países em desenvolvimento, a falta de bancos de investimentos bem informados e com boa reputação pode ser um empecilho para o funcionamento de um efetivo mercado de ações.

Um mercado de ações menos desenvolvido pode enfrentar problemas inexistentes em mercados mais avançados. As questões para se ficar atento incluem:

Problemas técnicos como a incapacidade de processar as ordens de compra e venda, perda de informação causada por problemas em computadores, falta de comunicação entre o pregão e os escritórios de corretagem etc. “Grilos técnicos” nos registros do mercado de ações podem ser usados para inibir mudanças no controle de uma corporação.

Insider trading, através das quais os executivos das empresas, os subscritores (veja banco de investimento) e outros com um conhecimento íntimo das operações de uma empresa usam suas informações para comercializar ações. Isso lhes dá uma vantagem injusta sobre o público.

Falta de transparência corporativa, quando as empresas não fornecem a informação devida, seja negando-a totalmente ou fornecendo-a com atraso. Isto pode acontecer de uma maneira deliberada ou pode resultar da falta de entendimento das regras. Isso pode dever-se também à fragilidade do sistema de contabilidade do país. As reformas estão a caminho?

Alta volatilidade pode ser causada, particularmente num mercado jovem, por uma pequena elite que detém o conhecimento e o dinheiro para investir em ações e portanto dominar os negócios. Num mercado tão “i-líquido,” um ou dois negócios feitos por um investidor desses pode provocar uma significativa subida ou descida do mercado, causando um efeito dominó à medida que outros investidores sigam tal movimento, criando ganhos ou perdas ainda maiores.

Bolhas surgem quando as pessoas não entende o valor básico das empresas em que estão investindo. Se os preços começam a subir (às vezes por causa de uma única grande transação) alguns investidores irão antecipar ganhos futuros e comprar ações para tirar vantagens daqueles ganhos. Outros irão segui-los até que as ações tornem-se sobre-valorizadas ou, em outras palavras, quando o preço das ações desvia-se materialmente de seu valor fundamental (veja Relação Preço-Lucro). Isso cria uma bolha. Quando um ou vários investidores percebem quão sobrevalorizado o mercado está, eles começam a vender, realizando lucros enquanto podem. Novamente, outros irão seguir a tendência e a bolha vai estourar. Isso aconteceu no mercado japonês no final dos anos 80 e começo dos 90 e, mais recentemente, nos Estados Unidos.

Fundos de investimento, os compradores de ações das empresas, frequentemente estão ausentes de novos e pequenos mercados de ações, seja porque há poucos desses mercados que lhes interesse ou porque os fundos acabam sendo impedidos de ter acesso a eles devido à ausência de regulação. Da parte dos investidores, os fundos de investimento possibilitam uma grande diversificação. Em alguns países grandes, como a Rússia, eles desenvolveram-se muito rapidamente. Na Europa do leste, alguns desses fundos causaram sérios problemas, uma vez que seus gerentes usavam seu poder para drenar o dinheiro das empresas que administravam para conseguir o controle efetivo das mesmas, além de desviarem ativos em seu próprio benefício.

Todas as questões acima fornecerão a base para reportagens. À medida que o seu mercado se desenvolva, você também deve garimpar as seguintes áreas para matérias:

Mudanças nos sistemas regulatórios e de contabilidade - Será que as mudanças reforçarão ou enfraquecerão o sistema? Será que elas irão beneficiar os investidores, as empresas listadas ou ambos?

Manipulação de preços - Seja feita por “insider traders” ou grandes investidores com uma participação grande o bastante para influenciar todo o mercado.

Será que as empresas estão listadas no exterior? - Em países menos desenvolvidos, empresas de alta qualidade tendem a listar suas ações no exterior usando ADRs ou GDRs. Por que será que elas escolherão esse caminho?

O papel de investidores estrangeiros - Isso pode mudar (possivelmente crescendo) ao longo do tempo, à medida que as regras de investimento são relaxadas e/ou porque os mercados se desenvolvem, tornando-se mais atrativos. A chegada em grande escala de investidores internacionais pode ajudar a estabilizar o comércio, ao trazer um maior grau de profissionalismo que possivelmente poucos investidores domésticos teriam tempo bastante para desenvolver. Por outro lado, em função de seu tamanho, frequentemente os investidores estrangeiros podem perturbar o funcionamento dos mercados domésticos, aguçando as corridas e, à sua saída, aprofundando as perdas. Condições adversas no exterior podem causar um impacto negativo imediato nos mercados domésticos. Alguns investidores internacionais anunciaram que eles investirão apenas em países que tenham um bom padrão de governança corporativa. Grandes investidores institucionais, como CALPERS, fizeram uma lista negra incluindo certos países. O seu país é um deles? Em caso positivo, por que?

Quem está investindo? - Será que o mercado é dominado por instituições or por investidores individuais? Será que o perfil do investidor típico está mudando? Em caso positivo, por que?

Quem são os fundos doadores em ação? Frequentemente, doadores fornecerão dinheiro para que um país crie a sua bolsa de valores. Você pode checar com a comunidade doadora em seu país a maneira pela qual (e quão efetivamente) esses fundos vêm sendo usados.

A cobertura do Mercado de Títulos (Dívida)

A venda de títulos permite que governos e corporações tomem dinheiro emprestado do público ao invés de bancos e/ou permitem que bancos negociem entre si, criando um mercado secundário. Isso proporciona uma diversificação e liquidez maiores, possibilitando, por sua vez, o aumento da competição entre os credores. A criação de um mercado de títulos governamentais com títulos com diferentes datas de vencimento pode vir a ser útil para uma outra finalidade: a informação sobre o retorno de diferentes vencimentos ajuda na precificação do débito corporativo com diferentes vencimentos. Os devedores podem decidir por ir aos mercados de dívida porque a quantidade de dinheiro que eles precisam é mais alta do que qualquer banco é capaz ou está disposto a emprestar, ou para diversificar o risco associado à sua dívida entre um número maior de emprestadores. (Entretanto, frequentemente os bancos abordam tais problemas formando um consórcio emprestador). O emissor (devedor) venderá títulos por um certo número de anos e pagará juros ao comprador (credor) pela duração da vida dos títulos. Os juros podem ser pagos anualmente ou quando os títulos expirarem (vencerem). Os juros são determinados pelo mercado que irá demandar uma taxa mais alta de retorno de devedores mais arriscados (para compensá-los do risco de uma moratória) do que daqueles relativamente mais seguros. Alguns títulos, os Títulos Cambiais sem Pagamento Antecipado de Juros (Zero Coupon Bonds, em inglês) não pagam juros mas são vendidos com um desconto sobre o seu valor de face. O “retorno” é a diferença entre o preço de venda e o valor de face no qual o credor irá descontar o título na data de vencimento.

Os títulos podem ser emitidos por governos e empresas e podem ser negociados no mercado interno ou no exterior. Os títulos negociados no mercado interno são normalmente denominados em moeda local e vendidos a investidores domésticos, seja individuais ou institucionais (ainda que seja possível para investidores estrangeiros operarem no país comprando títulos).

Os títulos que são vendidos no mercado externo, geralmente em dólares americanos, são vendidos aos bancos, fundos de investimento e outros investidores institucionais. Normalmente, eles não visam a investidores individuais. A venda de títulos no mercado internacional implica o risco de moratória; uma preocupação porque o país emissor deve repagar o título e os juros em moeda estrangeira e deve assegurar que ele terá moeda estrangeira em quantidade suficiente para cobrir aquela obrigação na hora certa.

Títulos soberanos são vendidos por governos. O preço deles é normalmente cotado em pontos-base acima dos preço dos títulos do Tesouro americano com o mesmo vencimento. Por exemplo, um título de 750 milhões de dólares a vencer em 15 anos vendido pelas Filipinas em janeiro de 2002 foi precificado a 437,5 pontos-base acima dos títulos do Tesouro americano. Mas uma vez que chegue ao mercado secundário, maior o spread (ou seja, se a taxa de juros que o país tem que pagar for maior) menor será o preço do título. Por exemplo, numa situação de crise, na qual os investidores passam a evitar um título, os preços desse papel podem cair para 20 centavos de dólar - um nível tipicamente associado a níveis de spread demasiadamente altos. (Às vezes, o prêmio é descrito como o spread sobre a LIBOR, ou SIBOR, as taxas de juros em empréstimos inter-bancários cotadas em Londres ou Cingapura).

Ao fazer uma apuração sobre a emissão de um título soberano, fique atento:

Será que o país tem uma classificação de risco soberano? As classificações, que incluem uma classificação atual e uma previsão futura, dão aos investidores uma idéia da credibilidade do país emissor. Um país deve ser classificado por até duas agências diferentes antes que possa vender seus títulos soberanos no exterior. Uma mudança nessa classificação pode virar manchete, porque causará um grande impacto sobre como o mercado avalia um título emitido por um país e como isso influenciará a sua taxa de juros. (As principais agências de classificação são a Moody’s e a Standard&Poors).

Quanto o governo espera poder levantar e quanta demanda existe para a nova dívida? Se existe uma alta demanda para títulos de seu país, então pode ser que o governo de seu país consiga tomar emprestado uma grande quantidade de dinheiro relativamente barato. Mas se existe uma demanda limitada, os seus planos de empréstimo podem ser constrangidos. Alguns fundos de investimento precisam reter uma certa quantidade de dívida de países emergentes e estão sempre à espreita de novas ofertas. Vale a pena descobrir comparativamente quanta dívida já está no mercado internacional e como isso influenciará o apetite do investidor para novas dívidas.

Por quanto tempo o país tomará o dinheiro emprestado? A data de vencimento de um título pode afetar a sua taxa de juros; os credores irão exigir uma taxa de retorno mais alta para um empréstimo mais longo em função do risco maior que ele carregar.

Limitações do Credor - Alguns credores internacionais, como o FMI, controlam o limite de dinheiro que alguns países podem tomar emprestado no exterior. Se o país que você cobre tem um acordo de empréstimo com o FMI, ele terá um limite sobre quanta dívida em moeda estrangeira o governo local pode emitir. Para descobrir se é possível que os planos para novos empréstimos do governo venham a entrar em conflito com o programa do FMI, você terá que apurar se a dívida anterior não foi amortizada e qual é a sua data de vencimento (o FMI tem limites diferentes para dívidas de curto, médio e longo prazo).

Outros tipos de títulos governamentais incluem os listados abaixo:

Títulos Brady (Brady Bonds, em inglês) receberam o nome de seu criador, Nicholas Brady, ex-secretário do Departamento do Tesouro dos EUA, e são emitidos por um governo em troca do re-agendamento de empréstimos em moratória de bancos comerciais. O princípio dos Títulos Brady é possibilitar que o pagamento de uma dívida com cupom (que tem uma taxa de juros adicional sobre os juros iniciais) seja garantido por títulos do Tesouro americano com cupom zero (sem uma taxa de juros adicional).

Dívida do Clube de Londres e de Paris - A dívida do Clube de Londres é um fórum através do qual credores internacionais do setor privado podem re-agendar uma dívida atrasada devida por governos internacionais. O Clube de Paris é formado por um grupo de países ricos que se encontram para reagendar a dívida de países em desenvolvimento. O objetivo é facilitar o pagamento definitivo de países que não se encontram em situação de pagar dívidas não amortizadas no prazo. No momento, o Iêmen deve 1,9 bilhão de dólares aos credores do Clube de Paris.

Títulos Regionais e Municipais - São emitidos por diferentes provícias e municipalidades. Eles são menos comuns em países em desenvolvimento/transição e encontrados normalmente em países cuja estrutura fiscal é altamente descentralizada e nos quais os governos regionais entram em déficit e precisam levantar capital internacionalmente. Os exemplos mais notáveis incluem a Rússia (as cidades de Moscou e São Petersburgo) e a Argentina.

ítulos Corporativos Comercializados Internacionalmente - Geralmente são emitidos por empresas para financiar um investimento no exterior ou porque os mercados de capitais domésticos são muito pequenos para propiciar uma emissão de títulos grande o bastante em casa. Em países que impõem controles à livre troca de moedas, uma oferta de um título internacional pode vir a ser a única maneira de fazer um empréstimo em moeda estrangeira. Os títulos corporativos comercializados internacionalmente não são comumente emitidos por empresas em países menos desenvolvidos porque os investidores estrangeiros exigem um grau de transparência corporativa que poucos deles podem atender. Existem algumas exceções à essa regra geral ligada a países emergentes que se encontram num grau mais avançado de desenvolvimento. A lista inclui a Coréia do Sul e o México, e num grau menor, a Tailândia e o Brasil. Da mesma maneira, normalmente (mas não sempre) uma empresa precisa esperar até que o seu governo tenha vendido pelo menos um título soberano (excluindo-se os títulos Brady e do Clube de Paris, entre outros) antes que possa levantar dinheiro no exterior. Isso acontece porque investidores em potencial precisam de um ponto de referência do governo antes que se arrisquem num investimento de títulos corporativos. No momento, o Vietnã prepara uma emissão de títulos soberanos para estabelecer um ponto de referência sobre o qual as suas empresas poderão vir a tomar empréstimos no exterior.

Glossário Básico de Termos

Ação Dividendo Dividendo pago na forma de ação ao invés de dinheiro.

Ação Ordinária Ação emitida pela maioria dos acionistas. Os acionistas têm o direito ao voto sobre os negócios de uma empresa e recebem pagamentos de dividendos. Se uma empresa não ganha dinheiro bastante para pagar dividendos a todos os seus acionistas, então os portadores de ações ordinárias somente serão pagos depois de efetuado o pagamento dos acionistas preferenciais.

Ação Preferencial Ação que garante a seu proprietário um dividendo fixo, a despeito da performance da empresa, e que tem prioridade sobre a ação ordinária no pagamento dos dividendos. Entretanto, ela não dá direito a voto.

American Depository Receipt (ADR) - Emitido por um banco americano, representa as ações que ele possui numa corporação estrangeira. Os ADRs são negociados na bolsa de valores de Nova York (NYSE) como se fossem as próprias ações daquela empresa.

Ano Fiscal - Período de 12 meses depois do qual uma empresa listada deve consolidar e publicar seu balanço. O ano fiscal não precisa seguir o calendário normal.

Ativos - Todos os itens de valor possuídos por uma empresa. Eles podem incluir ativos disponíveis (dinheiro em espécie ou ativos que possam ser facilmente convertidos em espécie), ativos de longo prazo (edifícios, equipamentos e outros ativos que irão se depreciar ao longo do tempo), ativos deferidos (custos, como os de seguro, que são pagos como adiantamento, mas que beneficiarão a empresa no futuro) e ativos intangíveis (ativos que não têm como ser avaliados exatamente, tais como a marca da empresa, direitos autorais etc).

Ativo Líquido Valor/Ação - Valor total (ativos menos obrigações) de uma empresa ou fundo de investimentos dividido pelo número total de ações.

Balanço - Documento financeiro que compara os ativos com as obrigações de uma empresa.

Caçada à Pechincha - Compra de ações de uma empresa a preço baixo na expectativa de que o seu valor irá subir.

Banco de Investimento - Banco que serve de intermediário entre as empresas que desejam vender ações e o público investidor. Eles são também conhecidos como subscritores.

Bear/Bull Markets - Em um “bear market” (ou literalmente “mercado urso,” em inglês), o preço das ações caem e o sentimento do investidor está em baixa. No “bull market” (ou literalmente “mercado touro,” em inglês) acontece o oposto.

Blue Chip - Empresa de primeira linha.

Capital Acionário - Capital total de ações emitidas por uma empresa (veja ação ordinária e preferencial).

Colocação Privada - É a venda de ações sob um acordo privado entre o vendedor (que pode ser um investidor institucional ou um empregado da empresa, por exemplo) e o comprador. Uma empresa que vende ações através de uma colocação privada não convida o público a fazer lances por suas ações e isso é o que diferencia uma colocação privada de uma IPO.

Depreciação - A perda de valor de um ativo ao longo do tempo.

Direito de Voto - Direito que os proprietários de uma mesma ação possuem para poder opinar sobre as operações da empresa na qual investem.

Dividendo - Pagamento feito por uma empresa a seus acionistas. Para acionistas ordinários ele irá variar à medida que os lucros da empresa variarem, para acionistas preferenciais, ele é fixo.

Especulação ou Investimento de Curto Prazo - Comércio com ações e títulos para fazer caixa através de mudanças de curto prazo (horária, diária ou semanal) em seu preço. Investidores que especulam não compram uma ação ou título por acreditarem nos fundamentos da empresa ou do governo no qual estão investindo. Ao contrário, eles podem estar tentando fazer um bom dinheiro baseando-se na maneira como o mercado vai se mexer.

Fundo de Investimento Aberto - Fundo que vende continuamente novas ações, desde que haja demanda por elas. Tal como o fundo de investimento fechado, o fundo aberto também investe o dinheiro levantado através da venda de ações em nome de seus acionistas. Uma vez que não existe uma data fixa para a sua liquidação, sempre que desejarem fazer caixa, os acionistas vendem suas ações desse fundo. O preço delas dependerá tanto do valor do investimento secundário como do valor do próprio fundo, que também é listado.

Fundo de Investimento Fechado - Fundo no qual os investidores colocam o seu dinheiro por um período determinado de tempo, permitindo que os gerentes do fundo invistam aquele dinheiro em seu nome. Em retorno pelo investimento, os investidores recebem ações. Logo após a data de vencimento do fundo, ele é dissolvido e todo o dinheiro levantado é distribuído entre os investidores de acordo com o número de ações que possuam. (Veja fundo aberto). Às vezes, os fundos de investimento são chamados fundos mútuos.

Fracionamento de Ações - A divisão das ações ordinárias de uma empresa, seja para aumentar ou diminuir o seu número. Normalmente, ela aumentará o número total de ações e é planejada para facilitar os negócios futuros com tais ações, através do aumento de sua liquidez e do barateamento de seu preço unitário. Não afeta o valor relativo da propriedade dos investidores existentes, uma vez que o número de ações possuídas por cada investidor aumenta ou dimuinui na mesma razão.

Ganhos por Ação - (EPS, do inglês “earnings per share”) - A medida dos ganhos de uma empresa em termos de suas ações. Calculada através da divisão dos ganhos totais pelo número de ações ordinárias. Enquanto em alguns países as empresas usam os números de seus ganhos mais recentes para calcular o EPS, em outros usam-se as previsões de ganhos futuros para dar aos investidores uma idéia do valor futuro de suas ações.

Global Depository Receipt - (GDR) - Similar ao ADR, mas emitido em outras moedas que não o dólar americano, permite que empresas de países em desenvolvimento sejam listadas em outras bolsas de valores ao redor do mundo que não a NYSE.

Índice - Todos os mercados acionários terão pelo menos um índice, usado para medir a performance das ações listadas. O índice leva em consideração as flutuações de preços e tira as médias para refletir a mudança agregada. Alguns índices levam em consideração todas as ações listadas, mas concentram o foco num pequeno grupo delas (talvez o mais representativo de um certo tipo de atividade, ou todas as ações blue chips, ou, por exemplo, uma representação cruzada do mercado como um todo).

Investidores Institucionais - Empresas cujo negócio é a compra e venda de ações, títulos e outros ativos negociáveis usando o seu próprio dinheiro e também o de seus clientes. Fundos de pensão e companhias de seguros são alguns exemplos.

Investidores de Varejo - Investidores individuais, em oposição aos investidores institucionais, como um fundo ou banco.

Investimento de Longo Prazo - É um investimento em ações de uma empresa com o objetivo de deixar o dinheiro retido por um longo período de tempo para tirar-se vantagem do crescimento e do pagamento de dividendos (veja Especulação).

Liquidez - Medida sobre quão facilmente compradores e vendedores podem negociar entre si no mercado. Também pode ser usada para descrever a posição dos ativos de uma empresa. Ou seja: quantos de seus ativos são líquidos o bastante para serem convertidos em espécie a curtíssimo prazo?

Mercado Cinza - Um mercado não-oficial no qual os investidores podem comprar ações não-listadas. Normalmente, por não serem regulamentadas e portanto consideradas de risco mais alto do que as transações realizadas nas bolsas de valores, as transações em mercado cinza são desencorajadas pelas instituições fiscalizadoras.

Mercado Primário - O “mercado aberto” no qual as empresas e governos vendem ações ou títulos pela primeira vez. No caso de ações, isso acontece através de uma IPO (veja Mercado Secundário).

Mercado Secundário - Refere-se ao comércio entre investidores de ações e de títulos depois que tais papéis tenham sido vendidos por seu emissor.

Obrigações - Os custos que uma empresa deve pagar, como salários, impostos, dividendos e empréstimos bancários.

Oferta e Preço Pedido - Oferta é o maior preço que um comprador se dispõe a pagar um papel (ação ou título) enquanto o preço pedido é o valor mínimo aceito pelo vendedor. Juntos, os dois estabelecem a cotação.

Oferta Pública Inicial - (IPO, do inglês “Initial Public Offering”) - A venda pública de ações de uma empresa de capital privado feita para torná-la uma empresa pública. As suas ações são vendidas a um ou vários bancos de investimento que então as revendem ao público. Normalmente, uma IPO é planejada para levanter capital para projetos de investimento (veja Colocação Privada).

Opção de Emissão - Oferta da empresa feita aos seus acionistas para comprarem novas ações, a lhes serem vendidas a um preço pré-determinado antes que sejam oferecidas ao público. A quantidade de novas ações que cada acionista pode comprar é determinada pelo número de ações que eles já possuem.

Prospecto - Documento publicado por uma empresa antes de sua IPO abordando a sua situação financeira, plano de negócios e outras informações de interesses de potenciais investidores.

Realização de Lucros - Venda de ações uma vez que elas tenham alcançado um valor acima do preço original pago pelo investidor. Planejada para render ganhos financeiros imediatos. A realização de lucros em grande escala pode empurrar o índice do mercado para baixo caso um número considerável de investidores vendam ações de um número considerável de empresas.

Relação Preço-Lucro - (PE, do inglês Price-Earnings Ratio) - (PE, do inglês Price-Earnings Ratio) – Oferece aos investidores uma comparação relativa do valor das ações listadas. É calculada pela divisão do preço por ação pelo ganho por ação (EPS, na sigla em inglês). Quanto maior a EPS, mais investidores estarão dispostos a pagar por uma participação na empresa e maior a sua confiança de que ela terá uma boa performance no futuro. A EPS é mais útil na comparação de empresas de uma atividade similar, uma vez que elas devem estar expostas a perspectivas similares de crescimento, todos os demais fatores considerados igualmenta. Uma empresa com uma EPS muito mais alta que as outras de seu ramo de atividade é uma empresa muito melhor, ou terá sido sobre-valorizada pelos investidores. Setores produtivos como um todo também podem tornar-se sobre-valorizados, como foi o caso da empresas tecnológicas entre 2000-2001.

Relatório de Ganhos - Declaração de ganhos e despesas sobre um determinado período de tempo. Uma empresa listada na bolsa de valores deve publicar relatórios de ganhos periodicamente. Eles serão usados pelos investidores para avaliar o valor das ações.

Sobre o Balcão - (OTC, do inglês “Over the Counter”) - Transação entre compradores e vendedores feita fora do mercado.

Taxa de Retorno - Quantidade de d