Esta é a terceira de uma série de entrevistas na IJNet que pretende examinar a fundo as operações de várias plataformas online de notícias, iluminando o futuro da mídia global como pensado por pensadores de todo o mundo. Para ler a segunda entrevista, sobre o Allvoices, clique aqui.
Recentes cortes e fechamentos na indústria de mídia nos Estados Unidos e no mundo levaram comentadores e profissionais do jornalismo a repensar suas estruturas de produção de notícias. E a maré cada vez mais baixa de correspondentes estrangeiros está deixando um vácuo na reportagem internacional que precisa ser preenchido com urgência crescente.
Inaugurado na Internet no dia 12 de janeiro, o site GlobalPost combina inovação com tradição em seu modelo de negócios. Sua vantagem competitiva está na missão de "redefinir a notícia internacional para a era digital " apoiando os valores do jornalismo tradicional: integridade, exatidão, independência e narração poderosa.
Na semana passada, o redator da IJNet Zul Maidy entrevistou Philip S. Balboni, presidente e CEO do site GlobalPost. Balboni também é fundador e presidente há 16 anos do New England Cable News (NECN), a maior e mais celebrada rede de notícias regional do país.
De acordo com o GlobalPost, Balboni é pioneiro no desenvolvimento de um canal 24 horas a cabo e construiu uma das experiências jornalísticas mais expressivas e bem-sucedidas nos Estados Unidos, trabalhando em diversas organizações nacionais. O site apresenta Balboni e Charles M. Sennott, premiado jornalista e escritor de carreira proeminente em reportagem internacional, como fundadores da organização.
Você pode descrever como o GlobalPost foi criado?
Depois de trabalhar como repórter para o United Press International (UPI) no final dos anos sessenta, ganhei uma bolsa em reportagem internacional para a Faculdade de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade de Columbia. Foi quando eu estava em Columbia que desenvolvi um plano para um novo serviço de notícias internacional, e passei o ano após a formatura dando sequência a ele, porque mesmo na época eu reconhecia a falta geral de reportagem estrangeira de alta qualidade na imprensa americana.
Minha carreira eventualmente migrou para o jornalismo televisivo, mas eu nunca perdi meu amor pela notícia internacional ou o sonho de construir uma nova organização de notícias para preencher o vácuo da cobertura do mundo. Então, na primavera de 2006, comecei a levar a sério um plano de negócios para o GlobalPost como site de notícias. Nessa época, o estado da reportagem internacional piorou dramaticamente comparado com o início dos anos setenta, e a oportunidade de preencher esse vácuo tinha se tornado ainda mais atrativa como negócio e proposta editorial.
Enquanto mais e mais organizações de notícias se retraiam da missão de cobrir o mundo, eu estava confiante de que não somente havia uma abertura no mercado de trabalho para o GlobalPost, mas também que havia uma necessidade crescente de notícias internacionais de alta qualidade como parte da conversa americana da democracia.
Quantos correspondentes vocês têm? Qual é o critério para correspondentes?
No momento temos cerca de 65 correspondentes em 46 países e continuamos a acrescentar novos correspondentes. O que descobrimos durante o ano construindo o GlobalPost é que o calibre das pessoas que querem escrever para nós é excepcional e o grupo continua a crescer ampla e profundamente.
Com o crescimento dos nossos recursos financeiros, continuaremos a empregar mais correspondentes para expandir nossa rede tanto geograficamente como em áreas especias de cobertura. Escolhemos nossos correspondentes pela qualidade de seu trabalho e experiência trabalhando nos países que cobrem. Agora temos um banco de dados com centenas de jornalistas que dá ao GlobalPost a capacidade de informar sobre matérias em todos os cantos do mundo.
Vocês ainda mantêm uma equipe de 14 pessoas ou esta cresceu desde seu lançamento?
Temos uma equipe de 16 pessoas aqui na nossa sede em Boston. Acabamos de contratar mais um editor assistente em tempo integral para ajudar a expandir nossa capacidade de edição e dar aos editores sêniores mais tempo para planejamento. Esperamos continuar neste nível por algum tempo.
Os correspondentes podem se consider empregados do GlobalPost? Quais incetivos o GlobalPost lhes oferece?
Nossos correspondentes não são empregados do GlobalPost. Eles estão, contudo, sob contrato de longo prazo conosco e têm a garantia de receber uma quantia mensal fixa. Também recebem um fundo de ações da companhia. Vemos o GlobalPost como uma oportunidade para que eles tenham um pilar no portfólio de trabalho e a chance de serem proprietários parciais de uma organização em crescimento que valoriza a reportagem de alta qualidade.
Até onde vai sua responsabilidade sobre a segurança dos correspondentes? Já passou por situações em que teve que proteger a identidade e localização de um correspondente?
Nossa responsabilidade pela segurança de nossos correspondente está em guiá-los ao caminho mais seguro. Nunca enviamos nossos correspondentes para uma zona de combate sem ter uma discussão mais cuidadosa e fazer isso é sempre a escolha do correspondente. Protegemos a identidade de nossos correspondentes no Zimbábue por causa de restriçõs na imprensa do país.
O Global Post oferece algum tipo de capacitação a jornalistas jovens ou de países em desenvolvimento?
Não conduzimos capacitação, mas enviamos um manual de campo detalhado, escrito pelo nosso editor executivo Charles Sennott, que tem uma longa carreira como correspondente estrangeiro.
Muitas novas plataformas multimídia parecem adotar o modelo do jornalista cidadão. O Global Post está indo na contramão, utilizando correspondentes estrangeiros em vez de jornalistas cidadãos. Poderia explicar a razão por trás desta estratégia?
Enquanto vemos um lugar para o jornalismo cidadão neste ambiente, nossa visão foi de ter um site onde a formação, experiência e esclarecimento de jornalistas profissionais poderiam ser aproveitados na cobertura de importantes questões e eventos globais. O processo editorial, cultivar fontes e entender os complexos cenários políticos, financeiros e culturais, leva a uma reportagem que ilumina a verdade. Nosso objetivo foi criar uma organização de mídia jornalística nova e inovadora que fosse profundamente enraizada nos mais altos princípios do jornalismo, porque acreditamos que uma reportagem cuidadosamente elaborada nos dá a habilidade de ter um impacto significativo. Acreditamos que com a maturação da Internet cada vez mais pessoas estão buscando informação competente de sites que visitam, e isto é o que o GlobalPost oferece a nível internacional.
É apropriado pensar que o Global Post é como um Washington Post ou New York Times mas sem impressão, tinta e papel? Indo mais além, como é diferente da mídia tradicional?
O GlobalPost está enraizado em muitas das melhores tradições da "mídia de notícia tradicional", e somos todos leitores e fãs do bom trabalho do Washington Post e New York Times, entre outros. Contudo, estamos criando um nova marca que é unicamente online e é para lá que acreditamos que a maioria dos sérios consumidores de notícias estão se dirigindo. Não temos nenhum dos pesados custos de estrutura das companhias de mídia tradicional. Por outro lado, não temos a vantagem da marca e precisamos ganhar nome, visibilidade e credibilidade para criar um empreendimento de sucesso. Acreditamos que o GlobalPost, Politico e outros por vir estão criando novas formas de jornalismo que irão definir boa parte do futuro das notícias.
Como vai a seção de blog editoral? Como distinguir entre o trabalho de um blogueiro e de um correspondente?
Identificamos e levamos para o nosso site quase 300 dos melhores blogueiros de quase todos os países em que temos correspondentes. A mensagem mais recente do blogueiro aparece em íntegra no GlobalPost, mas os comentários vão para o próprio site dele, então achamos que é um relacionamento bem recíproco. Também temos uma seção de opinião chamada Worldview, que é realizada pelo H.D.S. Greenway, um dos repórteres internacionais e intérpretes de acontencimentos mundiais mais respeitados do país. Suas observações e análises, juntamente com um crescente número de colaboradores, oferecem esclarecimento e contexto à reportagem de campo de nossos correspondentes.
Diferenciamos claramente as contribuições dos blogueiros do resto do nosso conteúdo editorial, porque queremos que nossos usuários saibam quando estão lendo o trabalho de um jornalista credenciado. Amamos as vozes que nossos blogueiros trazem para esta mistura, mas o jornalismo é o cerne da nossa marca. Nossos correspondentes também têm seus próprios blogs, chamados Reporter's Notebooks, que oferecem um fórum para que os leitores vejam como é ser um jornalista na ativa.
Como você acha que o ambiente da mídia jornalística irá mudar no futuro? Como vê seu papel sobre este respeito?
Este é um momento transformativo na história do jornalismo e da mídia noticiosa. Está na hora de uma revolta e, para muitos, um tempo de grande aflição e incertidão. Como sempre acontece em tempos revolucionários, há de ter perdedores e vencedores. Acreditamos que uma grande parte do futuro das notícias é online e que há oportunidades significativas para construir empreendimentos puramente online. Acho que muitas das entidades de mídia existentes sobreviverão a este período, mas é capaz que muitas se vão. Acho que estamos começando a ver sinais de que o conteúdo de qualidade está estabelecendo novas fundações de valor que irão dar grande lucro no futuro. Isto é difícil de ver agora, mas se olhar de perto, os sinais estão aí. Além destes poucos pensamentos, o resto seria mera especulação.
Para saber mais sobre o site GlobalPost.com, clique aqui (em inglês).
Para mais informação sobre Philip S. Balboni, clique aqui (em inglês).