O Festival de Jornalismo Internacional desse ano em Perugia, na Itália, foi dominado por dois eventos acontecendo em outros lugares que demonstraram a reformulação contínua da paisagem da mídia global: o lançamento do "Panama Papers" e anúncios na conferência de desenvolvedores F8 do Facebook.
O "Panama Papers" foi citado como um exemplo de como um novo tipo de rede de reportagem colaborativa pode moldar a agenda política global com revelações sobre riquezas escondidas e paraísos fiscais recolhidos a partir de uma investigação de um ano sobre os dados.
O anúncio do Facebook sobre a expansão de seu kit de ferramentas de notícias, vídeo e mensagens de texto para chegar a bilhões de usuários estimulou o debate sobre as oportunidades e os perigos inerentes em nos tornarmos dependentes demais das plataformas que controlam cada vez mais a distribuição de mídia.
Foram esses temas do poder das redes e plataformas que apareceram como questões recorrentes discutidas ao longo dos cinco dias de sessões realizadas em Perugia.
Sobre jornalismo e redes, o "Panama Papers" foi onipresente nas discussões. Isso foi especialmente verdadeiro para a equipe do Code for Africa no festival, assim como a nossa organização irmã, African Network of Centers for Investigative Reporting (ANCIR) e seus parceiros de reportagem que revelaram matéria por matéria detalhando indivíduos do alto escalão em mais de uma dúzia de países africanos pegos na investigação. As investigações do Panama Papers da ANCIR e a escala dos fluxos de dinheiro ilícito e suspeitos globais foram os temas discutidos em uma sessão sobre desmascarar corruptos. Em outros lugares organizações focadas na criação de melhores ferramentas para o jornalismo destacaram como repórteres muitas vezes não são colaboradores naturais, mas que os novos modelos de parceria -- exemplificados pelo "Panama Papers" e investigações anteriores do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo -- poderiam ajudar a alcançar um jornalismo de interesse público mais ambicioso e um impacto que nenhuma publicação única poderia fazer sozinha.
Em uma sessão sobre a publicação de plataforma, uma variedade de interesses da mídia foi representada do mundo da investigação, jornalismo e negócios para redes sociais e mídias digitais. A conversa aqui foi mais construtiva do que as críticas contra as plataformas que ferviam sob a superfície de várias outras sessões. A visão de consenso foi que as organizações de notícias devem moldar suas estratégias de longo prazo antes de saltar a bordo em todas as novas plataformas. Caso contrário, segundo um discurso da painelista Emily Bell, editores vão "perder o controle sobre o relacionamento com seus leitores e espectadores, sua receita e até mesmo o caminho que suas matérias percorrem para chegar ao seu destino."
Em geral, as sessões sobre as plataformas foram além da curiosidade pelo novo e se concentraram em questões de longo prazo sobre o impacto das plataformas na sociedade. Além dos argumentos de negócios, o painel debateu sobre se uma imagem viral horrível mudou ou não a conversa em torno da crise europeia de refugiados e se o surgimento de redes de mensagens fechadas trará um declínio no compartilhamento de testemunhas em plataformas públicas.
Em um evento sobre a criação de novos produtos na redação, palestrantes falaram sobre quebrar os muros e silos chineses, mas disseram que têm receio de que as organizações de mídia são devagares demais em explorar novas oportunidades. Aqui, a conclusão principal foi um aviso de que os produtos de notícias quase nunca prosperam a menos que todas as equipes dentro de uma organização estejam envolvidas e especialmente quando o lado do negócio ou de tecnologia da mídia não recebe a aprovação editorial.
Automação e a perda de trabalhos de jornalismo para a tecnologia foram outros temas explorados por várias sessões. Este foi presciente em um festival que teve o seu próprio robô de telegrama para responder perguntas sobre o cronograma e palestrantes.
Pessoalmente, achei que as sessões mais interessantes abordaram questões sobre como as organizações podem melhor construir a confiança com novos públicos. Um painel sugeriu que usar técnicas de verificação automatizadas para dissipar rumores e desinformação ajudaria a construir ou restaurar a confiança dos cidadãos no jornalismo, com ferramentas impressionantes do Reveal Project, InVID e Verified Pixel tornando isso mais fácil e mais barato para as redações. Outro focou em como fazer a curadoria de comunidades online melhores dentro e fora das próprias plataformas dos editores para reunir leitores. Isso pode vir a ser um exercício extremamente valioso para manter as pessoas envolvidas com temas que ressoam profundamente com elas.
No geral, as possibilidades, caminhos, plataformas, experiências e ferramentas exibidas aos participantes foram estonteantes e extremamente impressionantes. Mil experimentos estão florescendo em empresas de tecnologia, organizações de notícias e comunidades em toda a Europa. Então, a grande questão para todos os presentes foi: para onde vai a minha organização e quais plataformas, ferramentas ou redes podem me ajudar ao longo do caminho?
Você pode agora assistir aos vídeos de todas as sessões do festival via YouTube, clicando nos links das sessões de seu interesse.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Eni