Entrevista: Como funciona uma redação de jornalismo móvel

por Corinne Podger
Jul 24, 2019 em Jornalismo móvel
Ana Puod na conferência de jornalismo móvel na Ásia

Usar smartphones para jornalismo é cada vez mais comum, mas poucas redações deram um salto para confiar apenas no jornalismo móvel (mojo, em inglês). Uma redação que está nesse caminho é a News5 nas Filipinas.

A editora-gerente da News5, Ana Puod, deu uma aula sobre as redações que priorizam dispositivos móveis na Mobile Journalism Conference Asia, realizada em Bangcoc em junho. Puod depois conversou com a IJNet sobre criação de conteúdo, fluxo de trabalho, Facebook e mais.

IJNet: Como sua redação está usando telefones celulares para criação de conteúdo?

Puod: Fazemos 50% de nossas notícias reunindo e editando em câmeras tradicionais, e os outros 50% usando telefones celulares para filmar, editar, publicar e transmitir conteúdo de vídeo. [Conteúdo para dispositivos móveis] é composto, em parte, de histórias orgânicas coletadas por nossos repórteres para nossos canais de televisão e plataformas digitais. Também temos uma nova divisão que prioriza o celular chamada N5X, que se concentra em histórias filmadas e produzidas inteiramente em telefones celulares.

Nós também criamos um fluxo de trabalho apenas para os repórteres pesquisarem e escreverem textos em seus telefones, que chegam a um editor digital em um grupo de aplicativos de bate-papo. Isso significa que eles podem trabalhar remotamente e ainda assim produzir histórias no mesmo ritmo que as redações de televisão ou jornal.

Também recebemos reações e sugestões em resposta a uma determinada história em tempo real das pessoas, porque elas também estão online e em seus telefones.

Como é esse fluxo de trabalho, desde a apuração até finalizar a matéria?

Nossos repórteres saem com um kit de mojo que consiste em um telefone da empresa com plano de dados, um pequeno tripé e microfones. Eles acompanham uma equipe de filmagem tradicional. Essa equipe pode transmitir ao vivo a qualquer momento: no telefone via Facebook ou no aplicativo de smartphone AviWes, ou via câmera de TV usando equipamento de satélite portátil.

Os repórteres também podem enviar reportagens de áudio e vídeo usando o Facebook, Skype ou Viber e usar seus telefones para editar matérias para enviar para a redação por e-mail ou fazer o upload diretamente para as redes sociais.

Filmagens enviadas por e-mail são recebidas pelos nossos editores de redação e inseridas em nosso sistema Avid iNews, onde podem ser acessadas por nossos produtores digitais para conversão e publicação em plataformas sociais e online. Os editores também checam qualquer fato na história e alertam o repórter sobre a matéria de um de nossos concorrentes que eles precisam cobrir: tudo por meio de aplicativos de mensagens.

Ana Puod delivering masterclass at the Mobile Journalism Conference in Asia
Ana Puod ministra uma masterclass na Conferência de Jornalismo Móvel na Ásia. 

Houve algum desafio em integrar o vídeo do smartphone com a TV?

O maior desafio tem sido gerenciar a qualidade dos arquivos de vídeo e áudio, especialmente quando vídeo e áudio não processados ​​são às vezes compartilhados várias vezes entre aplicativos de e-mail e sociais antes de irem ao ar, e podem ser comprimidos ao longo do caminho.

Para atenuar isso, usamos um compressor de vídeo ou pedimos ao repórter que faça a edição no campo.

Se é uma história de última hora, usamos o que está disponível.

No momento em que muitas redações estão repensando o vídeo no Facebook, você está publicando muito conteúdo de vídeo. Por quê?

O relatório Digital 2019: Global Digital Overview reforçou o que já sabíamos: os filipinos são os maiores usuários de internet no mundo, e pesquisas recentes sugerem que um em cada cinco filipinos usa o Facebook todos os dias para acessar notícias.

Também temos evidências de que nossos consumidores de notícias preferem assistir ao conteúdo do que ler ou ouvir uma história, por isso, embora os cartões, infográficos e o texto possam engajar, os vídeos estão gerando dinheiro para nós.

Nosso 1 bilhão de visualizações no Facebook e mais 1 bilhão de visualizações no YouTube só no ano passado é um testemunho do quanto nossa comunidade aprecia nosso conteúdo em vídeo.

Quais plataformas estão gerando monetização positiva para o News5?

No início, investimos muito no Facebook, mas demorou um pouco até ganharmos dinheiro lá. No momento, estamos particularmente interessados ​​no YouTube, pois achamos seus esquemas de monetização mais atraentes do que o Facebook ou o Instagram.

Os tipos de histórias que fazem mais dinheiro para nós são histórias de serviço público, reportagens políticas e matérias boas ou positivas.

Em maio, o algoritmo do Facebook foi alterado para favorecer vídeos de mais de 3 minutos. Como vocês reagiram? 

Mantivemos a quantidade e a duração de nossos posts. Isso não causou nenhuma queda significativa nas visualizações, mas desde a implementação da regra de 3 minutos, também fizemos questão de produzir conteúdo especializado que atenda a esse requisito de monetização. Esse conteúdo pode incluir segmentos de uma entrevista crua ou uma série de vídeos relacionados —imagens brutas ou pacotes de voz— agrupados antes de ser enviados para nossas páginas online.

Estou interessada em sua política de incentivar a equipe a fazer cursos de treinamento no Facebook para obter um valor melhor na plataforma. 

Nosso chefe da News5 Digital, Bing Mallari Maano, incentivou todos a fazerem esses cursos. A maioria dos funcionários apenas faz cursos básicos, mas nós temos requisitos adicionais para os gerentes de divisão que são responsáveis ​​pela monetização, implementação da lei de ética e mídia, análise, operações técnicas e assim por diante.

Inicialmente, o pessoal podia fazer os curso se quisessem ou não, mas agora a equipe precisa concluir os cursos e obter um certificado como prova de conclusão.

Como não temos dinheiro para pagar cursos caros, estamos sempre à procura de cursos gratuitos, webinários e guias técnicos. Por isso, também participamos de muitos cursos do Google News Initiative, e alguns de nós fazemos MOOCs do Poynter, Coursera, Edex e Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Usamos as lições desses cursos para criar nossos protocolos de estilo e de notícias, e isso é mantido constantemente atualizado à medida que surgem novas lições.


A imagem principal mostra Ana Puod na Conferência de Jornalismo Móvel na Ásia.

Créditos das imagens: Konrad Adenauer Stiftung Media Programme Asia.