Com ciclos de notícias 24 horas por dia e amplo alcance da mídia social, a necessidade de verificação dos fatos nunca foi tão grande. Um movimento internacional está respondendo à chamada.
O terceiro Global Fact-Checking Summit atraiu participantes de 41 países para Buenos Aires, Argentina, em junho. Alguns vieram de lugares tão distantes como Austrália, Índia, Coreia do Sul e Quênia para compartilhar mais de 100 projetos com um tema comum: manter figuras públicas responsáveis por suas informações.
A International Fact-Checking Network do Instituto Poynter e o Duke Reporters’ Lab organizaram o evento, que reuniu um grupo diversificado de profissionais de mídia, pesquisadores, ativistas cívicos e representantes de organizações sem fins lucrativos que dirigem operações de verificação de fatos.
"O baixo custo da distribuição online, a crescente disponibilidade de dados abertos e a crescente desconfiança da grande mídia fizeram com que muitos projetos de verificação de fatos se originassem fora do jornalismo tradicional", escreveu Alexios Mantzarlis, diretor da International Fact-Checking Network, em um post de 7 de junho. "Na verdade, a maioria dos sites de verificação de fatos fora dos EUA não são geridos pelos meios de comunicação estabelecidos, mas por organizações da sociedade civil."
Ele apontou para líderes globais no campo, como Full Fact no Reino Unido, Africa Check na África do Sul e Chequeado na Argentina. Antes de ingressar no Poynter, Mantzarlis foi cofundador da Pagella Politica, o maior site de verificação de fatos políticos na Itália.
Os participantes da conferência discutiram a criação de um código de princípios para promover uma maior transparência entre os checadores de fatos e ganhar a confiança dos leitores. Isto inclui um compromisso ao apartidarismo, transparência na metodologia, fontes e financiamento. Verificadores de fatos de todo o mundo estão agora convidados a dar sua opinião.
Nós conversamos com Mantzarlis para saber mais sobre esse movimento:
IJNet: Parece haver uma nova tendência do jornalismo de prestação de contas. É verdade?
Mantzarlis: A verificação dos fatos é com certeza uma forma principal de jornalismo de prestação de contas. Nos Estados Unidos, isso veio em resposta a um sentimento de frustração com reportagens do tipo "ele-disse/ela disse". Em muitas outras partes do mundo, nem são os jornalistas que conduzem os esforços de verificação de fatos, mas grupos organizados da sociedade civil frustrados com os meios de comunicação não cumprindo seu papel de investigar alegações públicas.
Gostaria de acrescentar que há uma tendência mais nova em direção a verificação de fatos e não apenas como uma ferramenta de responsabilidade política, mas uma que inspira um ceticismo ativo entre os cidadãos que são agora não apenas consumidores da mídia, mas cada vez mais através de seu uso do Facebook, Twitter, etc, e também de pequenos produtores de mídia.
A stunning view of #GlobalFact3 pic.twitter.com/PrIwJWkQod
— Alberto Puoti (@albio77) June 10, 2016
O que gerou a mudança da verificação de fatos nas redações para onde estamos hoje?
Eu não acho que houve uma transição automática de verificação dos fatos "interna", que visa a verificação ex-ante de artigos, para iniciativas "externas" de verificação ex-post concentrando-se em alegações já públicas. Dito isto, as habilidades são semelhantes e com certeza há uma perceptível redução do nível de precisão em toda a indústria que alimenta demanda do leitor para verificadores de fatos independentes -- que muitas vezes escrutinam dados das redes sociais e não apenas de políticos.
A popularidade das mídias sociais é um fator-chave?
A mídia social é definitivamente um fator chave na medida em que multiplicou os canais espalhando alegações e reduziu ainda mais o ônus sobre a precisão em favor do desejo de imediaticidade e popularidade. A mídia social também permite que os políticos cheguem ao público diretamente, sem um filtro de mídia, então a análise dessas alegações é crucial.
Outro fator crucial por trás do boom de verificadores independentes tem sido a crescente pressão para tornar dados públicos disponíveis online, o que reduziu os custos de verificação de fatos, tornando possíveis estas novas iniciativas que muitas vezes têm orçamentos pequenos ou até mesmo são formadas por voluntários.
Para mais informação sobre verificação de fatos, confira o Global Fact 3 tip sheet, uma lista que oferece links e dicas práticas.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Diana Robinson