Em experimento europeu, apenas mulheres escolhem as notícias

Oct 30, 2018 em Diversidade e Inclusão

Uma editora de óculos olha para a câmera e faz uma pergunta: "Já que apenas 27 por cento dos tomadores de decisão nas redações europeias são mulheres, você já se perguntou como isso afeta a cobertura dos eventos atuais?"

O NewsMavens.com, lançado em outubro de 2017, espera lançar luz sobre essa e outras questões que parecem estranhamente familiares às mulheres que lutam pela igualdade nas redações de todo o mundo.

No vídeo curto, a editora, Zuzanna Ziomecka da Polônia, descreve um experimento onde somente mulheres jornalistas fazem a curadoria das notícias.

O conteúdo pode fornecer informações sobre questões interessantes como:

  • Uma agenda de notícias criada inteiramente por mulheres seria diferente da cobertura padrão da mídia de massa?

  • Com homens tomando a maior parte das decisões editoriais, como podemos saber se o gênero de uma pessoa tem impacto nas notícias?

  • O desequilíbrio de gênero na direção da redação afeta como a história da Europa moderna está sendo contada hoje?

"Enquanto não conhecemos as respostas a essas questões, qual é a motivação do setor de notícias para enfrentar o problema do equilíbrio de gênero? Precisamos começar construindo uma sólida justificativa para a mudança", disse Zuzanna, fundadora da NewsMavens e editora-chefe.

Seu jornal, Gazeta Wyborcza da Polônia, está liderando o NewsMavens com apoio do Digital News Initiative Fund (DNI) do Google.

Até agora, o site tem colaboradoras de 12 meios de comunicação europeus. O objetivo é ter 30, representando todos os países da UE. As matérias são postadas diariamente, de segunda a sexta-feira, com mulheres freelancers produzindo uma edição de fim de semana sobre grandes questões e eventos com comentários editoriais.

O sistema foi projetado para facilitar o acesso: as colaboradoras selecionam uma matéria que consideram importante para uma audiência global, fornecem um breve resumo e adicionam comentários justificando sua seleção. Um sistema de gerenciamento de conteúdo ajuda a acelerar a colaboração transfronteiriça.

O conteúdo do NewsMavens é compartilhado por meio de canais dedicados de mídia social, boletins informativos e promoções de parceiros de notícias participantes.

Todas as recomendações de matérias são arquivadas em inglês com links para levar os usuários para a cópia original. O botão Google Translate é colocado ao lado de links de artigos para acesso rápido a uma versão traduzida.

Zuzanna já vê tendências notáveis emergentes.

"Nossos primeiros meses de publicação mostram que, em média, as mulheres jornalistas prestam atenção a questões que estão além do campo de visão de muitos tomadores de decisão nos principais canais de notícias", disse ela. "As recomendações do artigo para o NewsMavens estão cheias de notícias que são não aparecem na primeira página sobre as lutas diárias das pessoas comuns."

Zuzanna destacou as seguintes matérias (em inglês):

Se for bem sucedido na Europa, o NewsMavens pode servir de modelo para outras regiões do mundo. A mídia americana, por exemplo, também não tem equidade de gênero.

Um estudo de 2017 do Women's Media Center (WMC), cofundado por Gloria Steinem, descobriu que "os homens ainda dominam a mídia em todas as plataformas: televisão, jornais, internet e agências" nos Estados Unidos. A diferença de gênero da TV foi mais flagrante. Os homens reportam 75 por cento das notícias de TV; as mulheres, 25 por cento. O estudo também descobriu que "os homens produzem mais matérias sobre esportes, clima, crime e justiça. Os matérias das mulheres são em grande parte sobre notícias de estilo de vida, saúde e educação."

Na introdução do relatório, a presidente do WMC, Julie Burton, observou: "As mulheres não são parceiras iguais ao contar a notícia, nem são parceiras iguais em encontrar as fontes e interpretar o que e quem é importante na cobertura."

Ela exorta executivos do sexo masculino a expandir o grupo de talentos e "desenvolver uma estratégia mais planejada e talvez radical para compartilhar o poder com as mulheres."

Zuzanna dirigia um suplemento semanal na Gazeta Wyborcza, que enfoca questões da mulher, quando a ideia do NewsMavens surgiu. "Fui encarregada de entrar em contato com o DNI do Google com um conceito de igualdade de gênero. A pergunta que fizemos a nós mesmas era "O que gostaríamos de aprender?"

"A resposta era simples: queríamos saber o que aconteceria com a cobertura dos assuntos atuais se apenas as mulheres escolhessem as notícias", ela explicou.

Zuzanna ressalta que, embora haja inúmeros casos de organizações de notícias dominadas por homens ou exclusivamente masculinas na Europa, nunca houve uma composta inteiramente de mulheres. O NewsMavens é pioneiro nessa área.

Nos estágios iniciais do NewsMavens, os veículos de notícias que contribuem são: The Irish Times, MicroMega (Itália), Der Standard (Áustria), Nepszava (Hungria), Eesti Ekspres (Estônia), De Standaard (Bélgica), WikiTribune (Reino Unido), Deine Korrespondentin (Alemanha), Dennik (Eslováquia) e TOK FM (Polônia).  Freelancers de outros países também colaboraram nas matérias.

Imagem sob licença CC no Flickr via WOCinTech Chat