As revoltas na Tunísia e no Egito foram sobre liberdade e dignidade, de acordo com a diretora deral da Unesco, na quinta-feira durante uma teleconferência que antecedeu a 20ª comemoração pelo Dia Mundial da Liberdade de Imprensa na próxima semana em Washington, D.C.
Ela “... enviou uma missão especial ao Egito para auxiliar com a legislação sobre os meios de comunicação [implementar boas práticas] em sua constituição e leis”, disse Bokova. “Nós temos algumas ideas de treinamento para jornalistas nesse ambiente de mudanças políticas."
Durante uma teleconferência de 40 minutos, falou sobre as centenas de jornalistas mortos nas últimas décadas, muito deles por desafiarem a corrupção encoberta. Ela disse que os jornalistas cidadãos não irão substituir os profissionais de imprensa e sobre as mudanças na educação e no conhecimento trazido pela tecnologia.
Bokova também reafirmou o compromisso da Unesco com a liberdade de imprensa mundial e expressou preocupação com a situação na Síria.
“Durante a última década mais de 500 jornalistas perderam suas vidas no exercício da sua profissão e 60 mortes foram relatadas em todo o mundo, apenas em 2010”, de acordo com uma declaração conjunta feita pelo secretário geral da ONU Ban Ki-moon, o alto comissariado da ONU para os direitos humanos, Navi Pillay, e Bokova.
“A Unesco apóia todos os jornalistas... a maioria não perde sua vida em combate, mas quando revela um caso de corrupção,” disse Bokova.
O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa terá como foco a nova mídia, novas fronteiras e barreiras, assim como a liberdade de imprensa. Irá reconhecer a importância dessa mídia para a liberdade de imprensa e irá sublinhar a importância em torná-la disponível para todos no mundo.
Bokova expressou confiança nas novas ferramentas disponíveis que estão mudando a paisagem midiática para melhor.
Ela lembrou aos ouvintes que “O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foi criado há 20 anos na visão de um grupo de jornalistas que se reuniram em Windhoek (Namíbia).” Disse também que a Unesco honrou jornalistas que dedicaram suas vidas defendendo a liberdade de expressão através do prêmio Guillermo Cano de liberdade de imprensa mundial em 1997. O prêmio foi dado esse ano ao jornalista Iraniano Ahmad Zeidabadi, que ainda se encontra preso.
Quando um repórter do jornal The Christian Science Monitor perguntou a Bokova sobre a atuação do jornalista profissional em um mundo povoado por Twitter, Facebook, telefones celulares (crowdsourcing, ou, a utilização de conhecimentos obtidos através da Internet), domínio aonde os jornalistas cidadãos vem despontando, ela respondeu que os jornalistas cidadãos estão realmente mudando os meios de comunicação. Mas disse também que a Unesco ainda treina jornalistas em países em desenvolvimento para que se tornem mais profissionais.
“Eu não acredito que o jornalismo cidadão irá substituir o profissional de imprensa”, disse ela.
IJNet perguntou a Bokova como a Unesco pode pressionar os governos para que eles libertem os jornalistas que ainda estão presos.
“Nós fazemos um apelo e falamos com esses governos”, disse ela. “Nós trabalhamos na diplomacia discreta. Ás vezes temos sucesso com a libertação de alguns jornalistas... você pode calar uma voz...mas acredito que agora nós estamos presenciando um ambiente diferente. A Unesco tem agora e mais do que nunca, colocado a liberdade de imprensa em primeiro plano."
Perguntada pelo repórter do Asharq Al-Awsat, um jornal pan-árabe se ela tinha uma mensagem especial ao Presidente da Síria, Bashar Assad, ela disse: “Eu estou muito preocupada com o que está acontecendo na Síria e com a violência que vem sendo utilizada contra os manifestantes. Eu sinto muito pela perda de vidas e não posso aceitar nenhuma desculpa por consideração política.”
Ao responder outra pergunta pelo mesmo repórter sobre a responsabilidade de blogueiros que publicam boatos que exacerbam alguns conflitos, Bokova enfatizou que a necessidade de se traçar uma linha entre liberdade de expressão e responsabilidade é importante. Ela disse: “O papel da imprensa é o de respeitar e auxiliar na prevenção de conflitos e não investir na xenofobia contra outros povos.”
Todavia, adicionou que a utilização irresponsável não deveria prevenir a divulgação da liberdade de expressão no mundo.
Para ouvir todo o áudio da teleconferência com Bokova, clique aqui.
Você pode ler mais sobre a cobertura contínua do IJNet e sua série de perfis que antecede o evento aqui.
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) organiza as comemorações pelo Dia Mundial da Liberdade de Imprensa para celebrar os princípios fundamentais da liberdade de imprensa; defender a imprensa dos ataques à sua independência e pagar tributo aos jornalistas que perderam suas vidas no cumprimento do dever. Para maiores informações sobre a conferência global de 2011 do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa em Washington, D.C., acesse www.wpfd2011.org (em inglês).