Um dos maiores desafios do jornalismo investigativo é torná-lo autossustentável. É difícil o suficiente para o jornalismo em geral, ainda mais difícil para o jornalismo de interesse público, mas mais difícil ainda para o jornalismo investigativo que leva tempo e dinheiro e pode apresentar riscos substanciais. Grandes organizações de mídia comerciais podem manter mais facilmente equipes de investigação. Mas para organizações sem fins lucrativos de jornalismo investigativo, como a maioria dos membros da Rede Global de Jornalismo Investigativo (GIJN, em inglês), esse desafio deixa jornalistas e seus diretores de negócios acordados à noite.
A GIJN tem fornecido ideias e conhecimentos sobre a captação de recursos e o desenvolvimento de jornalismo investigativo sem fins lucrativos financeiramente sustentável. Estamos respondendo à necessidade evidente e à forte demanda de nossos membros e de toda a comunidade de jornalistas. Os desafios são maiores nos países em desenvolvimento e em transição, mas existem em todos os lugares.
O financiamento dos doadores é fundamental para as organizações de jornalismo investigativo e permanecerá assim no futuro próximo. Ao mesmo tempo, jornalistas estão experimentando, inovando e aprendendo uns com os outros, a fim de diversificar suas fontes de receita e encontrar maneiras de ganhar dinheiro para financiar seu trabalho. Embora os desafios sejam significativos, há notáveis sucessos entre os grupos de jornalismo investigativo com ou sem fins lucrativos.
Os vídeos e apresentações no canal do GIJN no YouTube, que já são mais de 300, também estão crescendo. Temos o prazer de lançar uma nova série esta semana, Tornando o jornalismo investigativo sustentável: melhores práticas de negócios (em inglês). Este conjunto de dicas importantes apresenta dez jornalistas e especialistas de todo o mundo que estão trabalhando para criar organizações viáveis em torno do jornalismo investigativo ou para apoiar essas empresas.
Sabemos que você é ocupado, então planejamos cada vídeo para ter cerca de cinco minutos, com segmentos mais curtos de apenas um minuto disponíveis nos canais de mídia social da GIJN.
Apesar de seus contextos muito diferentes, temas semelhantes emergem desses especialistas: conhecer seu público, diversificar fontes de receita, encontrar seu próprio nicho e não tentar fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Certifique-se se possui um plano de negócios robusto e se pode administrar sua organização com eficiência, não desista de arrecadar fundos e se comprometa a arrecadar fundos bem.
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Os dez jornalistas e especialistas desta série são:
Mohamed Nanabhay, vice-CEO, Fundo de Investimento em Desenvolvimento de Mídia (África do Sul)
Nanabhay fala sobre as quatro maneiras como as organizações de jornalismo podem ganhar dinheiro: venda para o público por meio de assinaturas ou membros; venda de publicidade; oferecer serviços exclusivos, como dados, eventos e treinamento; e fundos de doadores. "A coisa mais importante que você pode fazer", diz Nanabhay, "é ter clareza sobre sua receita: realmente saber o que você está vendendo e como vai receber esse dinheiro".
Assista ao vídeo aqui.
Ross Settles, professor adjunto de Inovação e Empreendedorismo de Mídia, Universidade de Hong Kong
Recentemente, Settles escreveu um artigo para a GIJN sobre receita comercial e os vários serviços que as organizações de jornalismo investigativo podem vender, como treinamento e dados. Neste vídeo, ele nos lembra que a publicidade ainda é a principal fonte de receita para a maioria da mídia e -- se é uma opção de receita para sua organização -- é essencial ter um conhecimento detalhado do seu público, porque é isso que você está vendendo para os anunciantes. Se você optou por não vender publicidade, Settles diz: "você precisa saber quais serviços, quais produtos, quais tecnologias, quais ferramentas podem ter valor para empresas fora da sua organização" e ter clareza sobre o seu mercado.
A publicidade raramente é uma opção para pequenas organizações de jornalismo investigativo: tanto o tamanho quanto a missão estratégica a tornam insustentável. E há alguns anos, o domínio dos gigantes digitais minou o modelo de negócios tradicional que se baseia na receita de publicidade. Mesmo organizações de mídia comercial maiores estão diversificando além da publicidade. Estão cada vez mais apostando na receita do público e tentando criar comunidades de leitores e consumidores.
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Emily Goligoski, diretora sênior de Pesquisa de Audiência do The Atlantic (EUA)
Para Goligoski, ex-diretora de pesquisa do Membership Puzzle Project na Universidade de Nova York, o engajamento do público é fundamental. Ela escreveu extensivamente sobre o assunto, inclusive para a GIJN. Para ela, o engajamento do público significa muito mais do que dinheiro. Ela é uma defensora da construção de maior confiança com o público. "Considere como ser mais franco sobre seu próprio trabalho pode ajudar a aumentar a transparência e a confiança", explica Goligoski. Engajamento e confiança podem se traduzir em receita, diz ela.
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Steven Gan, editor-chefe e cofundador da Malaysiakini (Malásia)
Embora o serviço de notícias da Malásia Malaysiakini dependa em parte de publicidade, o apoio do público é essencial para a receita da organização. Como Goligoski, Gan enfatiza a necessidade de construir uma comunidade de leitores e espectadores que devem estar no centro de tudo, "para garantir que eles sintam que fazem parte da missão que você estabeleceu". Ele também acha muito importante que toda organização de mídia, grande ou pequena, tenha pelo menos uma pessoa para se concentrar nos negócios, e não no jornalismo, a fim de gerar a renda necessária para o jornalismo.
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John-Allan Namu, jornalista Investigativo e cofundador, Africa Uncensored (Quênia)
Além de ser outro forte defensor do engajamento do público, Namu diz que para ser sustentável como organização é necessário redirecionar criativamente seu conteúdo e vendê-lo ou compartilhá-lo. Sejam histórias, pesquisas ou dados, a venda de conteúdo aumenta a receita, o compartilhamento aumenta a distribuição e o público. "Pense no seu conteúdo de maneiras diferentes", enfatiza. O Africa Uncensored também conta com comissões e subsídios de vídeos comerciais para apoiar seu trabalho de investigação.
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Govindraj Ethiraj, fundador, IndiaSpend e factchecker.in (Índia)
O IndiaSpend é parcialmente sustentado pelas atividades comerciais da rede multicanal online Ping Broadcast. No entanto, o site de jornalismo de dados, juntamente com a iniciativa de verificação de fatos factchecker.in, foram bem-sucedidos em encontrar outros fluxos de receita. As dicas de Ethiraj incluem a importância de encontrar um nicho em seu mercado, para conteúdo, mas também para serviços como treinamento e redefinição de conteúdo e experiência. “Existem muitos jogadores fazendo muitas coisas no espaço das notícias digitais”, diz Ethiraj, “então quando você tem um nicho, as pessoas sabem o que procurar e por que podem desenvolver uma afinidade ou um relacionamento com você.”
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Dapo Olorunyomi, publisher, Premium Times (Nigéria)
O Centro Premium Times de Jornalismo Investigativo, sem fins lucrativos, é financiado em grande parte por doadores, mas também por sua organização-mãe, o grupo Premium Times. Então Olorunyomi conhece bem tanto o mundo comercial como sem fins lucrativos do jornalismo. Ele diz que há três questões a serem consideradas: como aumentar a receita do conteúdo, expandir a gama de produtos e ser inteligente sobre plataformas. "Embora estejamos criando muito conteúdo diariamente, a maior parte será desperdiçada", diz Olorunyomi. E não deveria ser. Ele também enfatiza a importância contínua da filantropia para o jornalismo em toda a África.
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[Leia mais: Sob ameaça: Uma conversa com o jornalista investigativo Paolo Borrometi]
Sherry Lee, editora-chefe do The Reporter (Taiwan)
Lee e sua pequena equipe no The Reporter, que se concentra no jornalismo investigativo, experimentaram diferentes formas de receita, embora os doadores continuem sendo importantes para a organização. Ela afirma que é essencial garantir que você esteja focado nos doadores certos que realmente apreciam o que você está fazendo e que desejam contribuir -- e contribuam regularmente. Além disso, ela diz: "Tente de todas as maneiras possíveis alcançar seus leitores, porque eles são os possíveis doadores" -- e eles entenderão melhor o valor do jornalismo investigativo de qualidade. Ela também aconselha "facilitar seu processo de doação".
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Bridget Gallagher, fundadora, Gallagher Group LLC (EUA)
Bridget Gallagher, especialista em captação de recursos, escreveu dicas valiosas para a captação eficaz de recursos para a GIJN. Ela enfatiza a importância da preparação, apresentação e persistência na captação de recursos. Ela nos lembra que "é realmente importante ouvir o doador" quando você está fazendo uma apresentação. A prática eficaz é demorada e mais difícil do que parece, especialmente quando a maioria dos que trabalham em organizações de jornalismo investigativo sem fins lucrativos geralmente está fazendo um zilhão de coisas ao mesmo tempo.
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Lina Ejeilat, cofundadora e editora executiva, 7iber.com (Jordânia)
Ejeilat nos lembra a pensar por que estamos tentando diversificar as receitas, nos envolver com o público e criar um plano de negócios robusto para poder pagar por jornalismo importante, o que é realmente difícil no mundo digital. "Você não deve ficar frustrado", diz ela, "e lembre-se de que realmente não existe uma fórmula mágica, nenhuma receita fácil ... experimente estrategicamente e com uma ideia clara do que você está tentando alcançar. Não tenha medo de experimentar e ver o que funciona e, em seguida, você pode tentar ir além". A geração de receita é um meio para atingir um fim, diz ela.
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Este artigo foi publicado originalmente pela Rede Global de Jornalismo Investigativo (GIJN, em inglês) e republicado na IJNet com permissão.
Anne Koch trabalhou na BBC News por quase 20 anos, mais recentemente como vice-diretora do Serviço Mundial Inglês. Até 2017, ela era diretora da Transparency International e agora é diretora de programa da Rede Global de Jornalismo Investigativo.
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