Em 2007, quando Bangalore, na Índia, estava em plena expansão, Subramaniam Vicente e Meera Krishnamoorthy perceberam que não havia um site de notícias locais em inglês.
Jornais e mídia online na cidade se concentravam em política indiana e questões em escala nacional, mas faltavam reportagens sobre notícias que afetavam diretamente os leitores.
Com Bangalore enfrentando um grande pico populacional nos anos 2000, Krishnamoorthy buscava notícias para ficar em sintonia com a sua comunidade em crescimento, mas não conseguia encontrar muita informação relevante.
"[Bangalore] cresceu tão rapidamente", disse ela. "Foi rápido e um pouco fora de controle. Como resultado, as coisas estavam confusas. O trânsito estava terrível, e havia tantos projetos [cívicos] que foram iniciados, mas que progrediam lentamente. Havia um monte de coisas que não funcionava ... Eu queria entender o porquê."
Este problema levou Vincent e Krishnamoorthy a lançar o Citizen Matters, um site de notícias local com foco em notícias de Bangalore a partir do pontos de vista dos cidadãos.
Como um site de notícias online, o Citizen Matters se reuniu com membros da comunidade local e permitiu que falassem suas queixas. Eles pediram a membros da comunidade para tirarem fotos de buracos ou restos de lixo que encontrassem e descrevessem o que fizeram sobre os problemas e como o governo respondeu à questão.
"Nós conseguimos converter essas queixas em notícias de cidadãos", explicou Krishnamoorthy.
A pergunta persistente para Vincent e Krishnamoorthy, entretanto, era como seu site de notícias local, poderia ser sustentável. Aqui, os jornalistas e parceiros de negócios compartilharam o ciclo de vida de seu projeto com a IJNet.
Encontre um público que seja seus olhos e ouvidos
O site e a cidade de Bangalore passaram por muitas mudanças desde a publicação lançada há sete anos.
A população de Bangalore subiu de cerca de 5 milhões em 2001 para mais de 8,5 milhões de hoje, e a cidade é um centro de tecnologia na Índia. Mas, quando a cidade mudou, questões civis começaram a aparecer por todo lado.
Quando o Cittizen Matters começou, poucas agências de notícias cobriam esses problemas até que uma questão ganhou força: alargamento de ruas. Quando os moradores começaram a ver os marcadores em suas casas -- de 3, 5 ou 10 metros--, o Citizen Matters olhou para o problema e descobriu que o governo pretendia alargar as ruas para melhorar o fluxo de tráfego em Bangalore, mas ninguém tinha feito um pedido aos proprietários dos imóveis. O governo respondeu e disse que os proprietários receberiam direitos de desenvolvimento transferíveis.
As pessoas começaram a fazer perguntas: O que são direitos de desenvolvimento transferíveis? Receberemos uma compensação adequada através desses direitos? O que vão fazer se o tráfego permanecer terrível mesmo após o alargamento das ruas?
A questão ganhou força lentamente em diferentes localidades e, uma vez que os jornais diários começaram a cobrir a notícia, tornou-se um tema importante, disse Krishnamoorthy.
A equipe de reportagem do Citizen Matters trabalhou nesses histórias e o site também publicou comentários e fotos de moradores, o que continua até hoje.
Entre um quarto e um terço do conteúdo do site vem dos cidadãos. Cada artigo é editado e enviado de volta para o cidadão jornalista antes de ser publicado, e as pessoas agora olham para a publicação em busca de vozes locais.
Encontre um modelo de negócio
Vincent e Krishnamoorthy criaram a editora do Citizen Matters, chamada Oorvani Media, em 2007. Embora Oorvani Media ainda publique o Citizen Matters e e outros projetos, os parceiros de negócios mudaram seu modelo de negócio para o site de notícias locais de lucrativo a um modelo sem fins lucrativos.
Eles fundaram a Fundação Oorvani -- oorvani significa "voz da cidade" -- em agosto de 2013 para financiar o Citizen Matters através de subvenções e doações.
A decisão de iniciar uma organização sem fins lucrativos veio depois de anos dependendo principalmente da publicidade do site, que atualmente atinge cerca de 130 mil visualizações únicas por mês, e vendendo a edição impressa do Citizen Matters agora extinta, que funcionou de 2009 a 2012.
"Nós criamos uma fundação porque antecipamos que levantar dinheiro para o lado do negócio do Citizen Matters ia ficar mais difícil por causa do ambiente online para este tipo de jornalismo", explica Vincent.
Antes de focar em gerar dinheiro através apenas da fundação, eles tentaram vender guias físicos sobre como navegar em Bangalore como residente. Apesar do sucesso, a ideia da dupla de vender os guias como e-books não deu certo, pois capitalistas de risco disseram a Vincent que o mercado de e-book não era forte o suficiente ainda na região.
Através da fundação, as pessoas podem doar para apoiar o Citizen Matters. Vincent disse que as contribuições mais populares são de US$50 e US$100.
A fundação também depende de subsídios maiores para sustentar os custos de comunicação e edição. O filantropo Rohini Nilekani, um ex-jornalista, deu fundos de dinheiro no ano passado, e a ONG Daksh apoiou a cobertura eleitoral do Citizen Matters em 2014.
Treine seus repórteres
A equipe em tempo integral do Citizen Matters geralmente consiste de um editor associado, dois ou três repórteres e os cofundadores.
Quando lançou sua plataforma cidadão, a agência de notícias realizou um treinamento sobre noções básicas de jornalismo. Trezentas pessoas apareceram.
Além de treinar cidadãos-repórteres, a equipe continua a trabalhar com freelancers mais experientes, normalmente jornalistas veteranos que estão em transição entre empregos ou trabalham em outras publicações em tempo integral.
Depois de construir uma reputação em reportagens investigativas e cívicas, freelancers experientes vieram trabalhar para o Citizen Matters, disse Vincent.
Vincent também observou que o Citizen Matters tem um histórico de "contratação de jovens que saem e expõem grandes histórias."
"Contanto que esses jovens tenham capacidade e habilidade, nós ensinamos o contexto da cidade", disse ele.
Imagem principal com os repórteres Gangamma Madappa (esquerda) e Akshatha M. Imagem secundária dos cofundadores Subramaniam Vincent (esquerda) e Meera Krishnamoorthy. Ambas imagens cortersia do Citizen Matters.