Dicas para organizar uma hackatona de sucesso

por Miguel Paz
Oct 30, 2018 em Diversos

As hackatonas estão na moda. Felizmente. Porque as hackatonas promovem o trabalho colaborativo, a investigação e o desenvolvimento num lugar onde a imaginação voa livre e tudo pode ser possível.

Bem, agora de volta à realidade.

Organizar uma maratona hacker não significa automaticamente ter sucesso. A maioria é vítima da moda. Para uma maratona hacker ter alguma chance de sucesso, é necessário ter um objetivo claro, foco e uma mensagem explícita do porquê organizar o evento, como e que tipo deve ser.

O primeiro na maratona hacker é saber o porquê. Por que estamos organizando e construindo uma comunidade de interesses com um fim transcendental.

Como Simon Sinek diz "Comece com o Porquê", os grandes líderes inspiram ação, pois o que os motiva é o fundo de uma situação, não o que fazer ou como fazer.

Nessa linha, Sinek (sua palestra TED é imperdível) conta como os irmãos Wright, jovens agricultores que tinham uma oficina de bicicletas e nunca terminaram a escola, foram os primeiros a fazer uma máquina de voar, enquanto seu rival que teve o apoio financeiro do Departamento de Guerra dos Estados Unidos, era amado pelo New York Times e podia pagar os profissionais mais capazes na época para alcançar o mesmo objetivo.

O motivo: os irmãos Wright tinham a certeza profunda de que se conseguissem fazer uma aeronave levantar do chão e voar, o mundo mudaria para sempre. Aqueles que trabalharam com eles, entendiam isso desde o início.

Lição: Se os participantes de uma maratona hacker não sabem por que ela ocorre, dificilmente se conectarão emocionalmente e racionalmente ao objetivo.

Construa uma comunidade a partir da base

Segundo a experiência que tivemos nas hackatonas da Poderomedia, Hackathons, e Hacks/Hackers Chile, fazer uma maratona sem fazer reuniões, meetups em torno de um tema, palestras, brainstormings e assim vai é bem arriscado. Esses eventos mostram com quem você está lidando, quem faz parte dessa comunidade.

Começando pelo começo, a construção da comunidade a partir da base, é sempre o melhor caminho. Pode ser mais lento, mas qualitativamente o resultado é maior, especialmente quando o que se busca é promover um ecossistema de inovação para movimentar a mídia a longo prazo. As corridas que importam são as maratonas. Qualquer pessoa pode correr 100 metros.

Agora, se você está num aperto e quer testar a chamada lógica do produto mínimo viável, uma das maneiras é realizar uma hackatona com convidados/facilitadores rockstars: ter um ou mais convidados para liderar a maratona hacker e, com base no seu prestígio e respeito profissional, atrair uma massa crítica de potenciais membros da comunidade.

Defina regras claras

Fazer uma maratona hacker é como projetar um jogo. Você deve ter uma metáfora comunicacional, história, regras e um objetivo claro para todos. Isso significa focar num conceito ou tema.

Alguns exemplos:

  • "Story and Algorithm" foi um dia de hacking organizado pela Open News Mozilla no ano passado focado em "novas formas como os dados nos permitem contar histórias convincentes."

  • Hackatona de visualizações com D3.js: sessão organizada pela Hacks/Hackers Buenos Aires no dia 20 de abril, visando "tornar os aplicativos de notícias em D3.js que permitem que jornalistas, programadores, designers e organizações interajam com a biblioteca para resolver problemas existentes de visualização de dados."

  • Radiotona: maratona hacker do Hacks/Hackers Chile, realizada no dia 18 de maio de ajudar estações de rádio independentes e comunitárias a utilizarem a tecnologia lo-fi e criar uma rede de rádio coletiva online.

Siga a regra de três

Assim como uma mesa tem quatro pernas, a base de uma hackatona é deficiente se você não pode cumprir a regra de três (um jornalista, um programador e um designer). Se a maratona hacker não é de jornalismo, o jornalista pode ser substituído por um sociólogo, cientista político, professor, etc.

Se há um jornalista, tem alguém que faz perguntas de interesse público e busca dados para o programador e designer. Com um programador, você tem a pessoa para construir ou reutilizar a tecnologia para o objetivo final. Se o grupo tem um designer, sua experiência vai garantir que o projeto tenha uma interface decente e seja focado em usabilidade.

Antes, durante e depois são igualmente importantes

O problema na maioria das hackatonas é a falta de acompanhamento e realização depois do evento. Entusiasmo para convocar e fazer a hackatona não faltam. Mas muitos se perdem no "depois", ou seja, no resultado que irá validar a sua maratona hacker, projetos/produtos comunitários. Para ser bem sucedido no "depois", incluímos esta fase na estratégia de desenvolvimento de sua hackatona desde o planejamento inicial.

Ferramentas como o Hackdash.org (nascido de uma maratona hacker) ajudam os participantes na criação e acompanhamento do seu projeto depois da maratona. Ter aliados dispostos a usar, financiar e divulgar os melhores produtos decorrentes da maratona também encoraja os participantes a concluírem seus projetos além da fase de teste.

O convite da hackatona deve ser feita roteiro claro, qual é o escopo e o objetivo da maratona hacker, quem pode participar, como, por que e o que os participantes ganham: conhecimento geral, as redes, prestígio, entretenimento; e o que acontece com os projetos/produtos que são construídos ou estão em formato de protótipo, após a maratona hacker.

Resumo

As três fases de uma hackatona

1. Antes da maratona hacker: Apresentação (o "porquê" da maratona hacker), chamada, aliados, registro de presença.

2. Durante a maratona hacker: Um facilitador explica o que é, dá boas vindas e introduz o tema. Responda às perguntas frequentes. Tudo o que pode dar errado, pode dar errado, mas vai se tornar uma coisa ruim se os participantes tomarem uma atitude negativa em vez de positiva. Não esqueça de incluir espaços de conversa informal, indicar onde está todo o material, notas e obrigações emitidas, e fechar com agradecimentos.

3. Depois da hackatona: Mostre os resultados, siga os projetos mais avançados, ajude a concretiza-los através de alianças com a mídia e organizações interessadas no que foi feito. Promova seu uso livre no GitHub.

Boa Sorte!

Miguel Paz é um jornalista chileno, fundador e CEO da Poderopedia e bolsista do Knight International Journalism Fellowship.

Foto Cortesia de Miguel Paz, tirada durante a Radiotona hospedada pelo grupo Hacks/Hackers Chile