Desafios para a vacinação contra a COVID-19 no Brasil

Jul 5, 2021 em Reportagem sobre COVID-19
Frascos de vacina contra a Covid19

A pandemia da Covid-19 só será resolvida com a vacinação em massa da população, no Brasil e no mundo. Os imunizantes são fundamentais para controlar o caos da saúde pública, diminuindo o números de hospitalizações e óbitos, e parar a transmissão do vírus. Entretanto, o país enfrenta diversos problemas na estratégia vacinal. 

Para entender melhor esse cenário e os obstáculos atuais no processo de vacinação no Brasil, o Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde convidou Wasim Syed, bacharel em Farmácia-Bioquímica pela USP, pesquisador e divulgador científico nos projetos União Pró-Vacina e Projeto Halo, da ONU, e Larissa Brussa Reis, doutora em genética e biologia molecular pela UFRGS, divulgadora científica na Rede Análise COVID-19 e no Movimento Biotecnologia Brasil, para o webinar “Desafios para a vacinação contra a COVID-19 no Brasil”.

 

A conversa aconteceu no dia 2 de julho de 2021 e foram abordadas as principais questões vinculadas à vacinação no país, desde a lentidão atual nas aplicações, aos desafios de adesão à segunda dose, contexto global e perspectivas para o retorno da rotina normal (incluindo o carnaval). Assista ao webinar completo e leia os destaques abaixo:

 

  • Situação do Brasil: ter apenas 12% da população vacinada é muito pouco. Para começar a pensar em sair da crise atual, é preciso atingir ao menos a marca de 70% das pessoas vacinadas. Com novas variantes mais contagiosas, como a Delta, talvez até mais. 

 

  • Principais problemas: a quantidade de vacina disponível ainda não é suficiente e falta planejamento e estratégia nacional. A distribuição desigual das doses entre estados, municípios e classes sociais também atrapalha a imunização da população. 

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  • Pontos fortes: além do Sistema Único de Saúde, que possibilitou ao país ser uma referência de modelo de vacinação em outras épocas, a população brasileira ainda é majoritariamente engajada nas campanhas e confia nas vacinas. Ao contrário de outros países, como a Rússia, que enfrenta forte resistência da população aos imunizantes. 

 

  • Estratégia global: as novas variantes estão deixando em alerta inclusive os países com a vacinação avançada, como Israel e Inglaterra. Para solucionar a pandemia, a vacinação precisa ser entendida como um caso de saúde pública global, pois existe uma intensa circulação de pessoas entre os países. 

 

  • Vacinados contaminados: a população tem dificuldade de entender que, mesmo após a vacinação, o vírus continua circulando. Muitos acham que podem sair tranquilamente um dia após se vacinarem e, com isso, estamos vendo muitos casos de pessoas que se contaminam logo após as doses de vacina. 

 

  • Reforço ou novas vacinas: após o fim da campanha atual de vacinação, existem dois cenários possíveis. Um deles envolve realizar um reforço periódico com as vacinas já utilizadas contra a Covid-19. O outro é o uso pontual de vacinas de amplo espectro, que ainda estão em fase de desenvolvimento e poderiam antecipar a proteção para novas variantes antes mesmo delas surgirem na população.

 

  • Vacina não torna invencível: a vacinação não impede que as pessoas peguem Covid-19, mas sim transforma uma doença séria em uma “gripezinha”, que ela nunca foi. Porém, isso não torna a pessoa invencível, é preciso lembrar que existem sequelas sérias relacionadas à doença que ainda estão sendo estudadas.

 

  • Por que não tomam a segunda dose: um dos principais motivos observados é o esquecimento, principalmente na população mais velha. No caso dos jovens, é comum que se preocupem menos com a doença e errem ao se sentirem protegidos mesmo sem a vacinação completa.

 

  • Como garantir a adesão à segunda dose: é preciso investir em campanhas de incentivo em massa, na televisão, em outdoors, em carros de som, com artistas, etc. e evitar o ruído na comunicação. O Ministério da Saúde poderia enviar uma mensagem SMS para relembrar a data da 2ª dose. Ainda, seria possível pensar em benefícios ou produtos grátis para os que se vacinam, como é feito em outros países.

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  • Carnaval 2022: é provável que não tenhamos condições de fazer um carnaval realmente seguro no próximo ano, pois o vírus e as novas variantes ainda estarão em circulação. A perspectiva otimista prevê que o Brasil alcance os 70% de vacinados até setembro deste ano, mas a pessimista acredita que o país ainda estará remando contra a maré em 2022. 

 

  • Quem já se contaminou também deve tomar a 2ª dose: existe a possibilidade da resposta imune gerada após a primeira dose ser mais intensa em pessoas que já se contaminaram com a doença. Entretanto, o estudo publicado sobre o assunto não é suficiente para se traduzir em uma política pública, então a orientação é que todos devem tomar as duas doses. 

 

  • Não é hora de escolher vacina: quem está deixando de tomar determinadas vacinas por escolha pessoal, está contribuindo diretamente com a piora da pandemia. Além de atrasar o fim da crise de saúde, os argumentos não fazem sentido. Como foram feitos estudos clínicos separados, o percentual de eficácia dos imunizantes não é comparável entre si. Além disso, parece que as pessoas esqueceram que é normal sentir efeitos colaterais com a vacinação, que são breves e facilmente resolvidos.

 

Veja aqui o vídeo completo do webinar. 

 

Jade Drummond, jornalista e especialista em criação e produção de conteúdo, é analista de audiência, comunidade e estratégia digital do Science Pulse, Núcleo Jornalismo e Volt Data Lab.


Foto: Daniel Schludi em Unsplash