A Colômbia é atualmente um país em transição. Desde a assinatura do acordo de paz entre o governo colombiano e as Forças Revolucionárias da Colômbia (FARC) em novembro de 2016, o país enfrentou uma série de transformações políticas, sociais e institucionais. O jornalismo não é uma exceção, pois os desafios éticos, criativos e editoriais aumentaram nos últimos anos.
As reportagens tradicionais de guerra, que se concentram principalmente em revelar a brutalidade do conflito, estão sendo substituídas por novas técnicas literárias de reportagem usando narrativas alternativas e ferramentas digitais criativas. As publicações e o público estão mudando à medida que definem e consolidam o novo papel do jornalismo neste momento da história.
Os três projetos a seguir estão usando novas ferramentas e narrativas para desempenhar um papel na conversa em torno do acordo de paz.
Proyecto Coca
O Pacifista lançou o Proyecto Coca (Projeto Coca) há 18 meses, na tentativa de contribuir para o debate de alto nível e contar histórias reais e relevantes sobre o elo mais fraco na cadeia do narcotráfico: os produtores de coca.
"A maior inovação do projeto é que aborda uma realidade social e política que ninguém está olhando, envolvendo um grupo que foi marginalizado do debate nacional", disse Andrés Bermúdez, diretor da iniciativa. "Fazemos isso com o rigor e a abordagem humana que o jornalismo deve ter e fornecendo os dados necessários para uma discussão informada e sem prejuízo."
A questão das drogas ilícitas é um ponto importante no acordo entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e, portanto, requer uma cobertura adequada.
Mas o Proyecto Coca assume uma abordagem única, com foco em jornalismo de soluções e usando diferentes formatos digitais. Como resultado, eles dão visibilidade às lutas dos cocaleros, ou produtores de coca, explicando sua realidade complexa e como ela pode ser transformada no futuro.
Rutas del conflicto
Rutas del conflicto (Rotas do conflito) é um projeto de jornalismo de dados que mapeia os massacres ocorridos na Colômbia desde 1982. O objetivo é fornecer ao público informações obtidas de fontes acadêmicas, judiciais e de jornalismo investigativo, com a ajuda de diferentes ferramentas de visualização de dados.
Conforme explicado em seu site, o Rutas del conflicto também busca conectar usuários da internet em cidades grandes com a dinâmica de uma guerra que atingiu sua intensidade máxima nas regiões mais remotas do país.
Para isso, a equipe usou formatos tão diversos como vídeos, cronogramas, fotos e podcasts.
4 Ríos
4 Ríos (4 Rios") é um projeto transmídia que conta as histórias do conflito armado na Colômbia combinando arte e tecnologia. De acordo com o diretor, Manuel Tobar, "não é estritamente um projeto de documentário ou jornalismo. A investigação começa com dados e outras fontes, mas aborda o conflito de um ângulo sensível e estético".
Desde o seu lançamento em 2014, o 4 Ríos usou diferentes estratégias narrativas e plataformas para atingir seu público. Atualmente apresenta seus conteúdos através de um site, um quadrinho interativo com informações históricas e ilustrações que recriam cenas do conflito usando realidade aumentada em dispositivos móveis.
"O que o 4 Ríos faz é tirar licenças artísticas, afastando-se de um único tipo de narrativa", disse Tobar. "Abrange novas experiências através da exploração, descoberta e as múltiplas possibilidades de uma história."
O que vem agora?
Esses três projetos ilustram como o jornalismo muda para atender às necessidades da sociedade em momentos históricos como o que a Colômbia está passando agora.
As iniciativas narrativas, editoriais e baseadas em conteúdo ao serviço do público conseguem dar sentido à realidade colombiana e promover espaços de diálogo, memória e até reconciliação.
O que vem agora? Motivar as salas de redação, assumir riscos e cobrir o novo curso de eventos.
Nadya Hernández é uma jornalista colombiana com nove anos de experiência cobrindo a construção da paz, a democracia e o empoderamento de atores locais. Ela também é bolsista do Centro Internacional para Jornalistas.
Imagem sob licença CC no Flickr via VillegasLillo