Uma nova série de duas partes na Citizen News TV do Quênia mostra profundamente a Somália devastada pela guerra. Mas, em vez de se concentrar em política ou terrorismo, o repórter Alex Chamwada e o cinegrafista Moisés Mwakisha focaram em uma atividade menos conhecida no país: a agricultura em grande escala e seu impacto na segurança alimentar.
A reportagem "Somalia’s Food Basket" (Cesta de comida da Somália), que foi transmitida em horário nobre no canal popular, é uma das 20 histórias sobre agricultura e segurança alimentar que foram produzidas como parte do African Story Challenge, um programa de dois anos com subsídios para reportagens investigativas, digitais e baseadas em dados sobre questões fundamentais para o desenvolvimento e saúde africano. A African Media Initiative (AMI) lançou o concurso em maio, com o apoio da Fundação Bill e Melinda Gates, o Banco Africano de Desenvolvimento e a Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA, em inglês).
"Na África, há uma espécie de frustração ou desconexão entre o que as pessoas querem ouvir e o que é publicado", diz Joseph Warungu, bolsista do ICFJ Knight International Journalism Fellowship que está ajudando a dirigir o concurso pela AMI. "A mídia está focada na cobertura política, mas se você perguntar às pessoas comuns em qualquer país [na África ] sobre suas prioridades, dizem que [são] saúde, segurança, água."
Editores e operadores de mídia muitas vezes argumentam que as reportagens sobre questões de desenvolvimento requerem esforço e recursos que simplesmente não estão disponíveis. Portanto, o desafio está oferecendo a repórteres doações de US$2.000 a US$20.000, além de treinamento e orientação para ajudá-los a refinar suas ideias.
O concurso tem cinco ciclos temáticos: agricultura e segurança alimentar; doenças: prevenção e tratamento; minha África 2063 (histórias focando no futuro do desenvolvimento da África ); saúde materna e infantil; e negócios e tecnologia. Depois de uma chamada para apresentação de propostas, os jornalistas enviar ideias de matérias, que são aceitas em árabe, inglês, francês e português. Um painel seleciona as 20 melhores ideias. Os candidatos participam de boot camps de treinamento, onde podem refinar as suas ideias e aprender sobre jornalismo de dados e outras técnicas avançadas de reportagem. As matérias, em seguida, passam por um painel independente de jurados, que selecionam a história vencedora. Warungu diz que cerca de 100 matérias receberão bolsas ao longo da competição.
Matérias do primeiro ciclo, atualmente em fase de julgamento, focam em temas como subsídios para fertilizantes na Nigéria, desigualdade de terra na África do Sul e métodos de preservação de plantio tradicionais vs. modernos em Camarões. A maioria das histórias publicadas, como a matéria sobre a Somália, recebeu destaque na organização de mídia do participante.
"Nós não podemos substituir esportes ou política, mas queremos dar alguma ênfase a outras questões e usar o poder da mídia para elevar o diálogo sobre o desenvolvimento da África", diz Warungu. "Essas reportagens estão provando que a história do desenvolvimento pode ser contada de maneira interessante que atrai o público africano."
Como parte fundamental do desafio, os participantes são incentivados a utilizar os princípios e técnicas de boas narrativas. Warungu diz que todas as histórias devem ter personagens em seu núcleo e dar voz às pessoas comuns. Os participantes devem também fazer uso de dados , técnicas de investigação e pesquisa profunda. Ao incluir as vozes de especialistas, jornalistas são incentivados a evitar o uso de jargão confuso, assim as matérias são acessíveis a todos os públicos.
Os vencedores do ciclo agrícola serão anunciados no dia 7 de novembro em Addis Ababa durante o African Media Leaders Forum. Antes dos vencedores serem anunciados, Warungu vai liderar um painel de discussão sobre o papel da mídia em ajudar a África a fornecer mais e melhor comida de maneira segura e acessível à sua população crescente. O segundo ciclo concurso, doenças: prevenção e tratamento, está com as inscrições abertas até 3 de novembro.
Para mais informações, visite http://africanstorychallenge.com/.
Jessica Weiss, ex-editora-chefe da IJNet, é uma jornalista freelancer com base em Buenos Aires.
Imagem cortesia do usuário do Flickr UNAMID sob licença Creative Commons