Construindo um bot para monitorar contas de políticos no Twitter

por Sérgio Spagnuolo
Mar 15, 2019 em Jornalismo de dados
Tuites de Bolsonaro

É importante saber o que os políticos estão falando no Twitter. Afinal, parece que tuitar é a nova maneira de fazer política. Os funcionários eleitos muitas vezes lançam ideias na plataforma de mídia social para obter feedback, como uma espécie de pesquisa de grupos focais, ou usam seu alcance para influenciar o debate político.

Embora muito menor que o Facebook, o Twitter conquistou uma posição mais forte na política nos últimos 10 anos: mudando a maneira como os políticos se comunicam com as pessoas, a mídia e entre si. O Facebook tem mais de 2 bilhões de usuários ativos, enquanto o Twitter tem 320 milhões.

Não é segredo que o presidente Donald Trump dos Estados Unidos costuma usar o Twitter para promover sua agenda política. Embora talvez ele seja o político mais proeminente fazendo isso, ele está longe de ser o único. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, por exemplo, anunciou a nomeação de seu ministro da Educação pelo Twitter antes de assumir o cargo.

O Twitter também pode ser uma maneira de os políticos responderem às críticas. A representante Alexandria Ocasio-Cortez do Partido Democrata nos Estados Unidos usou a plataforma para expandir suas propostas políticas e reafirmar suas políticas e posições, mas também para revidar quando é criticada.

"O Twitter é basicamente usado por políticos para influenciar outros influenciadores. É um universo muito pequeno de pessoas, mas são pessoas que conseguem mudar a agenda", disse John Parmelee, autor do livro, "Politics and the Twitter Revolution", ao The Guardian em 2016.

Dada a relevância que o Twitter ganhou na política, é importante saber o que os políticos estão publicando no site e manter um registro detalhado e pesquisável de suas postagens.

É por isso que a organização brasileira de verificação de fatos Aos Fatos, em parceria com o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), desenvolveu um bot para monitorar a conta de Bolsonaro no Twitter.

Usando uma combinação de ferramentas como o Workbench e o Google Sheets, conseguimos criar um banco de dados em português e inglês de mais de 5.000 tuites de Bolsonaro a partir de 2010 (seus tuites mais antigos foram gentilmente copiados pela agência de dados, Novelo). O banco de dados permite que as pessoas pesquisem facilmente os tuites do presidente brasileiro e mantenham um registro histórico das postagens que ele fez ao longo do tempo.

Com essa iniciativa, que faz parte do programa TruthBuzz do ICFJ, estamos construindo uma maneira de as pessoas acessarem informações, sem precisar de um jornalista para agir como intermediário. Isso é importante porque, quando Aos Fatos ou outros veículos de notícias são questionados sobre a origem de seu conteúdo e contexto, que com frequência é a conta do Twitter de Bolsonaro, é fácil buscar evidências, mesmo para reportagens mais antigas.

A ferramenta do Aos Fatos também mantém um registro de todos os tuites de Bolsonaro, mesmo que sejam deletados. Isso lança luz sobre o pensamento passado e atual do presidente e dá transparência sobre suas posições, especialmente em relação aos tuites publicados durante sua presidência, tornando-o responsável por suas declarações.

A ferramenta conta com a API do Workbench para monitorar os dados do Twitter. E a equipe do Workbench disse ao Aos Fatos que vai reforçar a regra do Twitter de apagar os tuites se forem excluídos do Twitter e o proprietário da conta pedir para fazê-lo. No entanto, mantemos backups regulares dos dados para evitar que os tuites sejam apagados.

Isso está bem alinhado com outros projetos nos Estados Unidos e outros países para preservar registros históricos produzidos por funcionários eleitos. Um dos exemplos mais conhecidos é o Politwoops, um projeto que acompanha os tuites excluídos por candidatos e autoridades eleitas, com capítulos nos Estados Unidos, Reino Unido, União Européia e Austrália. Depois de uma disputa om o Twitter, o projeto foi autorizado a continuar.

Você e sua redação também podem criar uma ferramenta semelhante para fiscalizar tuites de políticos ou outros líderes proeminentes com relativa facilidade. Confira o tutorial que o ICFJ preparou sobre o processo.


Imagem captura de tela da ferramenta online do Aos Fatos