A construção de alianças e redes para a distribuição de conteúdo jornalístico

Mar 11, 2024 em Sustentabilidade da mídia
Together

“A distribuição está relacionada com as narrativas que queremos construir, em quem queremos impactar e se estamos preocupados em fazer a notícia chegar e não só em construir a informação. Isso abre lacuna para discutir acessibilidade, inclusão e modelo de negócio”, afirma Sanara Santos, diretora de formação na Énois, organização com foco em inclusão e diversidade no jornalismo. Você acompanha a gravação do encontro com o jornalista Daniel Dieb e o resumo na sequência.

 

Nascida na periferia da Ilha, em São Paulo, Santos fala da importância de democratizar o acesso à notícia na primeira sessão do Empowering the Truth Global Summit 2024, um treinamento virtual organizado pelo ICFJ  com foco na disseminação de conteúdo confiável. 

Mapear o alcance do conteúdo

Santos considera que a produção e distribuição do conteúdo têm que ser pensadas na fase de planejamento para otimizar tempo e recurso e que as organizações de notícia precisam se preocupar em fazer a informação chegar de maneira mais efetiva. “É necessário mapear o alcance do conteúdo e os públicos diversos que podem ser atingidos para desenhar as estratégias de distribuição”, afirma.

Outra dica é entender a audiência e o formato adequado. “Precisamos tirar o protagonismo do conteúdo e colocar as pessoas nesse lugar. Nem todo mundo vai ter paciência de ler um texto longo. Carros de sons, as rádios locais, os eventos e panfletagens podem ser mais eficientes”. A jornalista ressalta que é um exercício pensar no alcance das histórias e tomar o controle das narrativas que merecem ser contadas. “Distribuir não é só sobre marketing, é sobre a missão do jornalismo de fazer a informação chegar”, destaca.

Informação precisa circular

Para fazer a informação circular, são necessários alguns pontos observados por Santos:

 

  1. Identifique parceiros potenciais: pesquise organizações, empresas ou indivíduos com interesses semelhantes. Identifique o “nó de rede”; pessoas influentes nos seus setores que tenham poder de mobilização e possam ajudar com contatos e a promover o seu conteúdo.
  2. A distribuição nos leva a pensar menos na pauta e mais nas pessoas e nos formatos, mudando a forma de produzir jornalismo e ampliando as chances de alcançar novos públicos.
  3. É importante medir as estratégias da distribuição quantitativamente, pelos dados fornecidos on-line, e qualitativamente, pedindo opiniões e coletando os retornos dos parceiros.

Plano de distribuição

Estabelecer um planejamento de distribuição é importante para o sucesso do produto/projeto. Santos apresenta alguns requisitos:

1. Quem são suas personas? Identificar os perfis de público que acessam e que podem acessar o seu conteúdo ajuda a desenhar a sua persona. Qual a raça, território e gênero da sua audiência? Como consomem o conteúdo? Acessam a internet com facilidade, têm dificuldade em interpretação de texto?

2. Com base nos tipos de personas encontradas, faça um cruzamento dos dados e defina quais os formatos e produtos necessários e o que falta ser informado para alcançar essas pessoas.

3. Lista de formatos: cruze as informações do público com os objetivos do seu produto/ projeto. A partir disso, responda: quais as formas de fazer o seu material ser acessado? Como a sua audiência consome o conteúdo?

4. Calcular custos e tempo: o orçamento precisa contemplar a etapa de distribuição e o tempo de dedicação necessário para traçar e executar as metas.

A jornalista disponibilizou quatro links produzidos pela Énois que podem ajudar nesse planejamento. O mapa afetivo para distribuir, um exercício que permite  identificar pautas, fontes e estratégias de distribuição dentro do território; o guia de distribuição jornalística; a caixa de ferramentas, para pensar em  distribuição, gestão, produto, audiência do conteúdo e como fazer uma pesquisa comunitária para produzir conteúdos jornalísticos assertivos.

Iniciativa de sucesso

Santos destaca que é preciso humanizar o público e as produções além de pensar se o conteúdo, a fonte, o especialista e o personagem são diversos. “Muitas coisas nos atravessam: gênero, raça, classe, idade, geolocalização, o contexto educacional. Temos um problema histórico de educação midiática e precisamos desmistificar a ideia de que a informação não chega porque as pessoas são ignorantes, somos nós que falhamos na missão de informar”.  

Ela cita alguns casos de distribuição de conteúdo “fora da caixa” que são exemplos de mobilização e de como criar e fortalecer redes. Um deles é o CDD Acontece, idealizado pela jornalista Carla Siccos. Pelo WhatsApp e com mais de 11.000 inscritos, Siccos compartilha histórias de sucesso, projetos, vagas de emprego e informações sobre a Cidade de Deus. “O CDD Acontece tem uma estratégia muito interessante de retenção do público por meio da parceria com produtores locais que compram o pacote de anúncios e oferecem prêmios aos inscritos. É a primeira conta comercial no Brasil a ser verificada no WhatsApp Business”, afirma Santos.


Foto: Canva