A jornalista Martha Mendoza da Associated Press, a australiana Suzanne Smith, editora consultora do Crikey INQ, e Frauke Giebner, do jornal dinamarquês Politiken, são veteranas de reportagens sobre abuso infantil. Elas cobriram desde crianças forçadas a se separarem de seus pais pelo governo Trump a um padre pedófilo na Austrália e o abuso sexual de atores infantis na Dinamarca.
Aqui estão conselhos dessas três jornalistas para investigações confidenciais sobre abuso.
1. Construa confiança com os sobreviventes.
"O mais importante é criar confiança", disse Giebner. “Algumas pessoas nunca tinham falado com ninguém sobre o que aconteceu 40 anos atrás. Foi uma grande decisão confiarem sua história em nós.”
Em um caso, as jornalistas esperaram seis meses por uma fonte decidir se queria participar ou não. Elas entraram em contato novamente com fontes que no início disseram não, às vezes com uma carta manuscrita. E quando as fontes decidiram participar, a equipe as fez parte do projeto.
"Nós concedemos a eles acesso a suas histórias, a tudo o que escrevemos: o que não é algo que costumamos fazer", disse ela. “Compartilhamos informações sobre a investigação no momento. Demos a eles o poder de decidir o que havia na matéria até certo ponto porque, depois do que aconteceu com eles, achamos que era importante que recuperassem o poder.”
2. Cuide do bem-estar de suas fontes.
Quando Mendoza entrevista pessoas vulneráveis, ela diz que sempre deixa os procedimentos à escolha delas.
"Elas podem controlar a narrativa", disse ela. "São livres para parar de falar quando quiserem."
Giebner e sua equipe puderam contratar um psicólogo, que conversou com as fontes antes da entrevista inicial e pouco antes da publicação da série. Isso ajudou algumas fontes a decidirem se queriam permanecer anônimas, o que não foi problema para Giebner e seus colegas. Mendoza concorda.
"Ao cobrir o abuso infantil, tentamos proteger os sobreviventes", disse Mendoza. Nas reportagens, por exemplo, ela nunca mostra o rosto das crianças.
Por fim, Giebner disse que ajudou ter se conectado com as famílias dos sobreviventes.
"Uma de nossas fontes desapareceu após nossa entrevista e não conseguimos contatá-lo", disse ela. “Estávamos preocupados se ele estava bem ou não. Foi útil poder entrar em contato com um membro da família.”
Todas as três concordaram que jornalistas que trabalham com fontes traumatizadas devem procurar o conselho de especialistas em trauma e psicólogos.
3. As comunidades de sobreviventes podem se ajudar e ajudar você.
Durante sua investigação sobre abuso sexual na Igreja Católica, Smith percebeu que alguns sobreviventes realmente queriam ajudar. E ela descobriu que eles podiam fornecer muitas informações privilegiadas sobre a comunidade fechada e como a comunidade lidava com esses problemas.
"Nós nos envolvemos com sobreviventes, vítimas e suas famílias e os ensinamos a serem investigadores", disse ela. “Centenas deles tinham documentos. Alguns estavam dispostos a se tornar investigadores e super detetives.”
Em um caso, Smith estava apurando uma determinada diocese ao norte de Sydney, onde havia três escolas católicas na década de 70. Smith descobriu que 60 ex-alunos dessas escolas acabaram cometendo suicídio.
Nesse meio tempo, sobreviventes de padres pedófilos da região criaram um grupo e começaram a compartilhar informações.
"Através da rede, percebemos que todos os homens [que morreram por suicídio] foram vítimas de padres", disse Smith.
Por fim, ela enfatizou que é importante consultar regularmente os sobreviventes e garantir que eles estejam bem.
Este artigo foi publicado originalmente na Global Investigative Journalists' Network (GIJN) e resumido para publicação na IJNet com permissão.
Brenna Daldorph é uma produtora e jornalista freelance de áudio, baseada em Londres (depois de crescer no Kansas e passar muitos anos em Paris). Ela colabora frequentemente com The World do PRI e o jornal The Guardian. Muitas de suas matérias se concentram no trauma e resiliência entre crianças e jovens. Nos últimos anos, ela reportou do Quênia, República Centro-Africana e Nigéria.