Como um verificador de fatos quer avançar o processo de paz na Irlanda do Norte

por Samantha Berkhead
Oct 30, 2018 em Combate à desinformação

Quase duas décadas se passaram desde o Acordo da Sexta-Feira Santa, que terminou a pior parte do conflito sectário que assolou a Irlanda do Norte por grande parte do século 20. No entanto, barreiras físicas e intangíveis ainda dividem a sociedade da Irlanda do Norte de uma série de maneiras, e uma plena reconciliação ainda não foi alcançada.

Essas divisões sectárias também existem dentro da mídia na Irlanda do Norte, com a comunidade tradicionalmente protestante recebendo as notícias através dos jornais The Belfast Telegraph e The News Letter, enquanto os leitores católicos são mais propensos a ler The Irish News.

FactCheckNI, um site independente de verificação de fatos lançado no dia 7 de abril pela Fundação Irlanda do Norte e Transformative Connections, espera recuperar essas fraturas e reduzir as tensões verificando os fatos de políticos e da mídia da Irlanda do Norte de uma forma apartidária.

E quando tudo que é preciso para alimentar a violência é um meme enganoso de uma bandeira arqueada ou queimada em algumas comunidades, o FactCheckNI considera o seu trabalho especialmente importante, disse Enda Young, cofundador.

"Nós todos vimos o duvidoso meme de foto no Facebook, mas as pessoas não percebem como isso pode ser usado de forma maliciosa para provocar a violência em nossas ruas", disse ele.

A equipe de cinco pessoas do FactCheckNI foca em quatro temas: paz, crime, economia e Europa. Para construir a confiança com os leitores, o FactCheckNI mostra quando seus verificadores de fatos fazem uma correção em uma matéria. Todas as correções são marcadas com um triângulo vermelho na parte superior do verificador de fatos e os leitores podem clicar no triângulo para acessar a versão original. Young também vai oferecer treinamentos de verificação de fatos interativos em toda a província para ajudar os moradores e jornalistas a se tornarem consumidores mais exigentes de mídia.

Para uma de suas primeiras verificações, o FactCheckNI testou um rumor de que um número crescente de residentes da Irlanda do Norte queria que os muros da paz continuassem erguidos. Essas paredes -- que separavam comunidades vizinhas protestante e católica em conflito nos tempos mais conturbados -- pode ser principalmente vistas em Belfast e Derry, mais notavelmente entre Shankill de Belfast (85 por cento protestante, de acordo com o censo de 2011) e Falls (88 por cento católica).

Mais residentes querem que os muros da paz fiquem? Fato checado por @FactCheckNIhttps://t.co/2oxJk0p94E @NI_CRC

O FactCheckNI testou a veracidade do rumor e descobriu que o apoio para derrubar os muros da paz realmente diminuiu entre os moradores.

"... O estudo mais recente (a partir de 2015), que documentou que 49 por cento queria que as barreiras fossem derrubadas, parece evidenciar que o apoio para a remoção das barreiras está realmente enfraquecendo", o FactCheckNI descobriu.

O motivo? Moradores de ambas comunidades protestante e católica cada vez mais sentem que "o clima de relações com a comunidade e, fundamentalmente, a sensação de segurança, deteriorou-se entre os moradores nos últimos três anos", escreveu o site.

Enquanto o FactCheckNI não necessariamente desmentiu o boato sobre o muro da paz, ajudou a trazer objetividade para a questão que a mídia norte-irlandesa tradicional provavelmente poderia não ter alcançado. Ao fazer isso, o site trouxe fatos e clareza para uma sociedade que, em alguns aspectos, ainda é constantemente atormentada pelo "nós" versus "eles".

O site dá um exemplo que poderia ser replicado em outros países pós-conflito.

"O que torna a verificação de fato tão atraente é a sua capacidade de combater a preocupação generalizada com a falta de objetividade na política, na esperança de que um discurso público fundamentado em fatos conduzirá a melhores políticas e uma política mais saudável", disse Aleixo Mantzarlis, chefe da Rede de Verificação dos Fatos Internacional do Instituto Poynter.

via Poynter e TheJournal.ie

Imagem principal sob licença CC no Flickr via David Ramos