Como um jornal independente prospera apesar da crise

por James Breiner
Oct 30, 2018 em Diversos

Enquanto jornais impressos estão perdendo assinantes e anunciantes no resto da Europa, uma publicação impressa italiana lançada por um repórter investigativo está prosperando por causa de sua voz independente.

Il Fatto Quotidiano ("os fatos do cotidiano") questiona tabus desde 2009 e ganha seu dinheiro de assinantes e vendas na banca -- cerca de 6 milhões de euros de lucro em 2010 e 2011. Parte do seu sucesso pode ser atribuída à sua oposição ao então primeiro-ministro Silvio Berlusconi, cujo controle de um vasto império de mídia tende a sufocar críticas à sua administração.

Em junho do ano passado (os últimos dados disponíveis), Il Fatto alcançou uma circulação diária de 127.000, com 42.000 assinantes (ao custo de 290 euros por ano), tendo vendido o restante em bancas. No início do ano, a empresa informou que a edição online atrai 450.000 usuários únicos diários.

É notável que uma publicação impressa sustentada pelos assinantes pode prosperar em meio a uma crise econômica mundial e um modelo econômico em colapso para a imprensa.

Não há vacas sagradas

O jornal se iniciou quando um blogueiro conhecido por reportagens investigativas, Marco Travaglio, foi chamado por um colega jornalista, Massimo Fini, para ajudá-lo a promover sua nova revista no blog. Eles receberam uma resposta tão positiva que Travaglio achou que poderia haver apoio suficiente para um jornal diário.

Travaglio reuniu alguns jornalistas como investidores e começou a promover as assinaturas para o novo jornal em junho de 2009. Ele prometeu que iria ser uma voz independente, cobrir temas preteridos pela mídia e não aceitar subsídios governamentais (jornais italianos geralmente recebem subsídios que dependem de apoio de determinados líderes legislativos).

Evidentemente, o apelo tocou o público porque Il Fatto teve 28.000 inscritos no lançamento três meses depois, em setembro. A primeira edição de 100.000 exemplares se esgotou rapidamente nas bancas.

O empreendimento deu lucro em 2009, e em 2010 rendeu 29,6 milhões de euros e lucros de 5,8 milhões de euros. Pedro Gomez, ex-jornalista do l'Espresso, fundador e acionista do jornal, informou no início de 2012, que a publicação teve lucros de 6 milhões de euros em 2011, apesar de uma ligeira queda no número de cópias vendidas.

Conhecido por seus furos

"Desde a sua fundação, Il Fatto deu muitos furos importantes (incluindo o suposto caso de Berlusconi com uma prostituta menor de idade) e obrigou outros veículos a competir pela qualidade e jornalismo investigativo", disse Andrea Cairola, ex-jornalista investigativo na Itália, que agora trabalha na Unesco promovendo a liberdade de expressão.

Alguns jornalistas na Itália criticam o jornalismo da publicação, por causa de sua postura de oposição e sua forte dependência de blogueiros opiniosos para completar sua equipe de jornalistas.

No entanto, a rentabilidade do jornal deve dar esperança a empresários de mídia que querem lançar algo diferente. Se você criar algo diferente do que todo mundo está fazendo e satisfazer uma necessidade (neste caso, uma voz independente), pode criar um jornalismo de qualidade e um negócio bem sucedido.

Este artigo foi publicado originalmente no blog News Entrepreneurs e traduzido ao português para a IJNet com permissão.

James Breiner é co-diretor do Global Business Journalism Program na Universidade Tsinghua e ex-bolsista do programa Knight International Journalism Fellow, tendo lançado e dirigido o Centro de Periodismo Digital na Universidade de Guadalajara. Ele é bilíngue em espanhol e inglês e consultor em jornalismo online e liderança.

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