Como o EcoLab quer reinventar o jornalismo ambiental

Oct 30, 2018 em Jornalismo de dados

A América do Sul abriga a maior floresta tropical do mundo, o maior rio e alguns dos problemas ambientais mais desafiantes do planeta, de poluição a desmatamento.

No entanto, questões ambientais são frequentemente ignoradas pelos meios de comunicação da região, diz Gustavo Faleiros, jornalista ambiental e especialista em mapeamento. "Na América do Sul, a cobertura ambiental é sempre uma questão de segunda classe. Só tem cobertura quando há fatos extraordinários", ele conta. "Recebe menos recursos do que tópicos mais de elite como finanças e política."

Faleiros e seus parceiros no site brasileiro O Eco de notícias ambientais estão trabalhando para mudar isso. "Achamos que deveria ser o contrário. Vamos dar os recursos certos para essas questões ambientais e ver se seu status na pauta de cobertura sobe", diz ele.

Com isso em mente, O Eco lançou recentemente seu Laboratório de Inovação em Jornalismo Ambiental para criar ferramentas para melhorar a cobertura ambiental no Brasil e em toda a região.

Nos últimos meses, a equipe adicionou novas funcionalidades à plataforma da InfoAmazonia, que permite ao público mapear notícias e dados sobre as questões mais urgentes região na Bacia Amazônica em nove países. Também lançou o MapPress, um tema em Wordpress baseado na plataforma da InfoAmazonia.

Uma equipe de seis pessoas está trabalhando para o Ecolab: Faleiros, o jornalista Giovanny Vera da agência O Eco; Pixel, um desenvolvedor de Web da firma de desenvolvimento Memelab em São Paulo; os projetistas Luiza Peixe e uiu cavalheiro (nome em minúscula mesmo) do estúdio Cardume do São Paulo; e o desenvolvedor sênior Miguel Peixe, também do Cardume. A IJNet conversou com Faleiros, que está trabalhando com a Ecolab e O Eco, como parte de sua bolsa do Knight International Journalism Fellowship do ICFJ.

Porque o Ecolab é necessário? Que problema ou problemas tenta resolver?

Uma série de inovações que já são praticadas em reportagens financeiras, cobertura de política e outros assuntos não foram aplicadas à cobertura ambiental na América do Sul ainda. Pensamos que existem formas atrativas de contar histórias sobre as florestas, oceanos e muitos outros recursos naturais, jogando com dados, infográficos e mapas. Com o Ecolab, estamos tentando melhorar a reportagem sobre as questões ambientais através da aplicação de novas tecnologias. E usar matérias baseadas fortemente em dados vai ajudar o público a ficar mais envolvido com as notícias e políticas ambientais.

O Ecolab é modelado ou inspirado por outros projetos?

Muitos dos conceitos são provenientes de equipes de jornalismo de dados em redações. É preciso juntar os jornalistas, programadores e designers, como vimos no Estadão em São Paulo, no La Nación da Argentina, no Texas Tribune e New York Times nos Estados Unidos, e em muitos outros meios de comunicação.

Estamos também nos baseando na nossa própria experiência desenvolvendo a InfoAmazonia, onde aprendemos muito trabalhando com o Development Seed (a empresa americana que criou o MapBox), além do Memelab e Cardume em São Paulo. Eu acho, e O Eco concorda, que este é o momento em que devemos criar um espaço para mais experimentação.

Quais são seus objetivos?

Nos próximos 12 meses, pretendemos lançar pelo menos cinco aplicativos novos ou adaptados para melhorar a comunicação ambiental. Estes incluem:

  • Manual de Geojornalismo – coleção de tutoriais online para a cobertura ambiental, feito pelos melhores profissionais nas áreas de dados, design de informação, mapeamento e crowdsourcing.

  • InfoAmazonia Cidadão – vamos abrir a porta para jornalistas cidadãos no nosso projeto principal.

  • Sensores aplicados a jornalismo em ambientes urbanos – criaremos um canal no site para jornalistas interessados ​​na coleta de dados ambientais por meio de sensores.

  • Projeto Rios da InfoAmazonia – queremos melhorar o banco de dados de informação sobre os rios na plataforma InfoAmazonia.

  • Banco de dados de Jornalismo Investigativo Ambiental (Brasil) - inspirado pela Poderopedia do Chile, que recentemente compartilhou uma versão open source de seu código. Queremos mostrar quem é quem na política ambiental.

Por que é importante mostrar essas relações no Brasil?

Documentos e licenças estão espalhados entre diferentes órgãos do governo. Você precisa mostrar as conexões entre empresas, governos e todos os projetos em que eles têm um interesse comum.

Quem está apoiando esta iniciativa?

O projeto é apoiado por doadores, incluindo o ICFJ e a European Youth Press, que está treinando jornalistas sobre ferramentas digitais para a reportagem ambiental. A Rede Earth Journalism Network da Internews apoia as atividades de formação e está trabalhando com o EcoLab no manual de geojornalismo.

Uma boa parte do trabalho dos bolsistas do programa Knight International Journalism Fellowship do ICFJ tem como objetivo difundir o uso de ferramentas e técnicas e construir colaboração transfronteiriça. Isso é verdade para este projeto? Se sim, o que o Ecolab está buscando em colaboradores ou parceiros em potencial?

Queremos mais parcerias e colaboradores. É por isso que eu acredito que é importante compartilhar o que estamos trabalhando. Assim, as pessoas com ideias semelhantes podem se sentir bem-vindas para ajudar ou propor colaboração.

Alguns desses projetos podem crescer com a ajuda técnica de desenvolvedores ou ideias de outros designers e jornalistas. Estamos interessados especialmente ​​em parcerias com organizações de mídia para ver quais produtos ou conteúdo eles podem criar com o que estamos construindo. Então, estamos colocando muita ênfase em distribuir o que temos feito. Queremos que outros jornalistas utilizem os mapas da InfoAmazonia ou criem a sua própria plataforma de mapeamento usando o MapPress.

Foto: Vista aérea da Floresta Amazônica, próximo a Manaus, capital do Amazonas, cortesia de Neil Palmer sob licença Creative Commons license

O conteúdo de inovação de mídia global relacionado aos projetos e parceiros do Knight International Journalism Fellowships do ICFJ na IJNet é apoiado pela John S. and James L. Knight Foundation.