Como a mídia social melhora o jornalismo de desastres nas Filipinas

por Makoi Popioco
Oct 30, 2018 em Redes sociais

Para um país tão pequeno, o poder da mídia social das Filipinas é uma surpresa paradoxal para especialistas da internet. O país é chamado de capital mundial da mídia social e de selfies.

Em outubro, as Filipinas quebrara o recorde mundial do Twitter durante um programa popular filipino chamado EatBulaga. Com 41 milhões de tuites, a hashtag do programa #AlDUbEBTamangPanahon superou os 35,6 milhões de tuites da Copa do Mundo da FIFA 2014 como o evento mais tuitado da história.

Com uma propensão forte para se expressar online, os cidadãos vão além do tuites de entretenimento e usam as mídias sociais para reportar as notícias.

Uma nova revolução da mídia

A ascensão das mídias sociais abriu um novo horizonte para a mídia tradicional nas Filipinas. Além de causar uma mudança no uso da mídia, a mídia social revolucionou o engajamento da mídia.

A mídia social tem elevado o poder da audiência filipina de influenciar o conteúdo, tratamento de histórias e até mesmo a maneira de apresentação da notícia. Hoje, os filipinos participam ativamente na documentação de eventos. Os cidadãos se tornaram jornalistas.

De acordo com o relatório digital "We Are Social" de janeiro de 2015, as Filipinas são um dos líderes mundiais na penetração da mídia social, com mais de 94 por cento de seus usuários de internet ativamente usando o Facebook. Isso é 40 por cento mais alto do que os usuários nos Estados Unidos.

Nas Filipinas, a mídia social provou ser uma ferramenta potente de jornalismo, que é especialmente importante durante os desastres.

Redes sociais e desastres

De tufões a terremotos e erupções vulcânicas, as Filipinas são um dos países mais vulneráveis ​​a desastres naturais.

Os filipinos tornaram-se especialmente adeptos a acompanhar tufões através da mídia social. Agências governamentais, meios de comunicação e ONGs interessadas têm adotado uma fórmula de hashtag constante na curadoria de mensagens de mídia social sobre tufões. Assim nasceu a hashtag de tufão mais PH, ou seja,  #YolandaPH#GlendaPH e #LandoPH.

Boletins meteorológicos, nível de inundação e outras atualizações de risco geológico, bem como instruções de preparação e evacuação, são reportados pelo uso da hashtag. Esta fórmula de hashtag tornou-se uma norma de mídia social para reportar tufões nas Filipinas.

Uma ferramenta para coleta de notícias

Além de ser uma ferramenta para a disseminação de informação, a mídia social também se tornou uma fonte de notícia em si. As redações referem-se à mídia social para obter informações adicionais e até mesmo para fotos e vídeos. Isto é especialmente verdadeiro ao reportar as consequências das catástrofes.

Filipinos tuitam, postam e atualizam constantemente suas contas pessoais sobre os recentes desastres. Os jornalistas também usam as mídias sociais para obter indicações sobre histórias a seguir.

Após o super tufão Haiyan em 2013, muitos dos vídeos mais interessantes mostrados na TV nacional vieram de cidadãos que documentaram os efeitos do desastre por meio de seus smartphones e publicaram na mídia social.

Agências de notícias como GMA News e Rappler criaram portais de jornalismo cidadão disponíveis via web e apps para facilitar a contribuição dos relatórios dos jornalistas cidadãos.

O GMA News oferece "YouScoop", que tem um app para download via App Store, Google Play e Microsoft Store. "YouScoopers" também podem marcar contribuições de usuários através de contas de mídia social de YouScoop.

Uma ferramenta para o engajamento cívico

Engajamento se transformou em algo em tempo real e interativo, mais do que nunca. Através da mídia social, os filipinos podem se comunicar diretamente e facilmente com as organizações de notícias e agências governamentais para acompanhar informações sobre catástrofes.

Conversas com agências relevantes e a mídia se tornaram disponíveis nos comentários dos posts. Antes elusivas e distantes, a mídia impressa e de TV estão a um clique de distância do conforto do lar das pessoas.

As linhas de comunicação foram fechadas após o desembarque do Haiyan em Visayas Oriental, Filipinas em 2013. Os sobreviventes tiveram dificuldade para se conectarem com seus entes queridos e p mundo exterior.

Filipinos rastrearam seus parentes nas redes sociais enquanto os veículos de mídia criaram listas de sobreviventes que foram posteriormente publicadas no Facebook.

Internautas também usaram #RescuePH e #ReliefPH para reportar sobre salvamento e assistência.

Inspirando inovação

De meras hashtags no Twitter, #RescuePH e #ReliefPH catapultaram a criação de plataformas de mapeamento, como o Project Agos do Rappler, uma plataforma de comunicação colaborativa que liga os cidadãos às agências governamentais interessadas e setores da sociedade por meio de mapeamento de mídia social.

Em 2014, o Facebook adicionou um recurso de verificação de segurança. Uma vez ativado em países recentemente atingidos por catástrofes naturais, o recurso permite ao usuário selecionar "Estou Seguro" e, com isso, uma notificação é gerada com a atualização. Esta funcionalidade do Facebook foi amplamente utilizada nas Filipinas após o tufão Ruby em 2014.

E agora?

A mídia social tem provado seu valor em aproveitar a comunicação para preparação para desastres, mitigação, salvamento e socorro nas Filipinas.

As mídias sociais empoderam a audiência, mas também implicam uma maior responsabilidade. Uma vez que a internet oferece uma grande variedade de fontes de notícias, o público deve ser mais exigente. As pessoas devem recorrer a fontes de notícias credíveis para relatórios verificados.

Enquanto a mídia tradicional nas Filipinas parece ter sido eficaz na adaptação e convivência com a mídia social, ainda há um amplo espectro de recursos digitais inexplorados que poderiam melhorar a comunicação de desastres, especialmente em termos de acompanhamento de histórias sobre as fases de reabilitação de desastres.

Atualmente, a resposta de recuperação do governo filipino está cercada por uma miríade de questões. Apesar do fato de que angariaram mais de meio bilhão de dólares de doações para as vítimas de Haiyan, cerca de 130 mil deslocados internos ainda estão desabrigados nas zonas de desastre.

A mídia nas Filipinas está atualmente preocupada com a política das eleições presidenciais de maio de 2016. Mesmo depois de dois anos, as matérias sobre a resposta de reabilitação são meros perfis das vítimas deslocadas. Dados compreensivos sobre projetos pendentes do governo e doações em falta estão desorganizados ou são insuficientes, tornando difícil para o público acompanhar as questões.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Storm Crypt